Não foi um ano qualquer. Quase todos
duvidaram. Mas a verdade é que Portugal concluiu com sucesso o ciclo da
‘troika', pondo termo a uma intervenção externa humilhante, que durante três
anos avaliou trimestralmente e condicionou as opções políticas da governação.
Convém recordar que o recurso à ajuda
externa aconteceu por duas outras vezes, durante o actual regime democrático. E
sempre pela mão dos socialistas.
Foi assim em 1977, quando Mário Soares
era primeiro-ministro do I Governo Constitucional e em 1983, com o mesmo
titular no cargo, à frente de um governo do bloco central. Em ambas as
ocasiões, o FMI impôs cortes de salários e subsídios, aumentos de impostos e a
redução do investimento público.
E para a história ficaram algumas
expressões do mesmo Mário Soares, que em 1984 justificava pedagogicamente
coisas tão simples como que "os problemas económicos em Portugal são
fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto"
(27/05/1984), "quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que
estamos a aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por
este Governo" (28/04/1984), "Portugal habituara-se a viver, demasiado
tempo, acima dos seus meios e recursos" (1/06/1984), ou "anunciámos
medidas de rigor e dissemos em que consistia a política de austeridade, dura
mas necessária, para readquirirmos o controlo da situação financeira,
reduzirmos os défices e nos pormos ao abrigo de humilhantes dependências
exteriores, sem que o país caminharia, necessariamente para a bancarrota e o
desastre" (1/06/1984).
Foi assim também em 2011, com José
Sócrates no cargo de primeiro-ministro, à frente das negociações de um programa
de duro ajustamento, depois validado pelo PSD e o CDS, por puro sentido de
Estado.
Este programa repetiu muitas das
receitas de 1977 e 1983. Só não se previu a típica cambalhota socialista, cujos
responsáveis, derrotados nas urnas em 2011, acharam normal fazer de conta, na
oposição, que não tinham nada que ver com o assunto. E o próprio Mário Soares
não encontrou incoerência no facto de agora considerar "uma desgraça"
a austeridade que o seu partido impôs e "fanáticos" e
"neoliberais puros", os governantes que foram forçados a resolver o
problema e pagar todas as contas.
Seja como for, 2014 marcou uma fronteira
nítida. A fronteira entre aqueles que nos trouxeram a ‘troika' e o PSD e o CDS
no Governo que nos livraram dela.
Hoje, essa é uma evidência. Mas não vai
muito tempo, houve outros que nunca acreditaram.
Em Abril de 2013, no Parlamento, os
socialistas diziam que o Governo já estava "a preparar o discurso para
justificar um segundo resgate" e reclamavam eleições antecipadas. Em
Janeiro de 2014, achando que poderia acontecer uma saída cautelar,
apressaram-se a dizer que "o PS defende que Portugal regresse aos mercados
de forma limpa, isto é, sem necessitar de apoio" e um mês mais tarde, em
Fevereiro, antecipando que a saída seria mesmo limpa, passaram a argumentar que
se a Europa empurrasse Portugal para uma saída limpa não estaria a ser
solidária. Puro tacticismo.
Factos são factos. E na comparação,
ninguém duvidará que 2014 foi um ano melhor do que 2013, que por seu lado foi
melhor do que 2012.
Actualmente, Portugal cresce. Pouco, é
certo, sendo que com previsões de 1,5 % para 2015. Ainda assim, mais do que
outros em melhores circunstâncias e em alguns trimestres recentes, com o melhor
resultado da zona euro.
Em Outubro, as exportações subiram 9,4
%, o maior crescimento homólogo e o valor absoluto mais alto de 2014.
O desemprego já baixou para 13,4 %,
tendo diminuído 2,2 % em menos de um ano. O nosso país afasta-se da média da
Grécia e da Espanha e aproxima-se consistentemente da média da União Europeia,
com nota de que no terceiro trimestre deste ano, com o terceiro melhor
comportamento no nosso espaço comum.
A produção industrial aumentou 2,2% e o
índice de volume de negócios da indústria acelerou 2,2% em Outubro.
O turismo regista resultados notáveis,
tendo as dormidas na hotelaria atingido um valor de 4,2 milhões em Outubro de
2014, correspondendo a um acréscimo homólogo de 13,9%.
Sucedem-se os testes positivos de
regresso aos mercados, em todos os prazos.
Neste mês de Dezembro, o nosso país foi
distinguido com o prémio da International Finance Review "SSAR
ISSUER" pelo resultado no acesso ao mercado financeiro e condições de
financiamento. E a agência de rating Fitch melhorou a perspectiva da banca portuguesa,
que passou de "negativa", para "estável".
O poder de compra dos portugueses
aumentou pela primeira vez em três anos.
E o sector agrícola mostrou um
desempenho assinalável. Portugal fechou o PRODER com uma taxa de execução na
ordem dos 95% e foi um dos primeiros países a ver aprovado o novo PDR que
significará a quantia de 4,1 mil milhões de euros disponíveis até ao ano de
2020.
São os resultados, mais do que as
palavras, que ilustram o mérito de uma governação. Daí o sentido desta curta
súmula, que pelo que representa, é tanto mais notável, quanto recordemos que o
programa de austeridade imposto em 2011, tinha como consequência necessária
antecipadamente prevista, um forte impacto recessivo.
2014 também trouxe à evidência o
escândalo do BES e reforçou a percepção da fragilidade de parte do nosso sector
bancário e da capacidade da supervisão, que seria suposto fazer toda a
diferença. O elo mais forte do sistema, revelou-se afinal um dramático exemplo
de colapso de uma instituição secular, que ninguém conseguiu antecipar.
Infelizmente, quanto a este caso, a história está muito longe de ter chegado ao
fim.
Valha-nos a terminar o ano, a confiança
numa justiça que não obstante todas as dificuldades, vem mostrado reforçada
capacidade para dar resposta a algumas das perplexidades do nosso regime.
Durante anos, fomos vivendo com
declarações inflamadas contra a corrupção e o anúncio sucessivo de pacotes e
pacotinhos, supostamente destinados a dar maior eficácia à sua luta.
Agora que a justiça se mostra
verdadeiramente cega e parece distinguir menos, em função do poder de quem é
visado, não vejamos no caso um problema.
Pelo contrário, tenhamos esperança no
futuro.
E já agora, que 2015 possa ser um ano
extraordinário para todos nós.
//Económico
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