O apoio de Angola ao processo de estabilização, pacificação e desenvolvimento de Moçambique é preponderante, declarou o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) -Murade Isaac Miguigy Murargy
Líder da Renamo radicaliza posições.
Diz que não quer dividir o país mas dar-lhe autonomia. Declaração aumenta
preocupações, devido ao histórico de guerra.
Afonso Dhlakama, líder da Renamo,
Resistência Nacional Moçambicana, principal partido da oposição, anunciou este
sábado a criação de uma república do centro e norte de Moçambique, da qual
seria o presidente. Acrescentou que não quer dividir o país mas dar-lhe uma
autonomia política e económica.
“A
Renamo vai formar os governos provinciais nas seis províncias e eu, Afonso
Dhlakama, passarei a ser o presidente da república do centro e norte de
Moçambique”, declarou num comício, na Beira, citado pela Agência Lusa.
O chefe da antiga guerrilha disse que
nomeará governadores e administradores nas províncias de Sofala, Tete, Zambézia
e Manica – no centro – e em Niassa e Nampula – no norte. São províncias em que,
segundo os resultados oficiais que considera fraudulentos, a Renamo ou venceu
ou teve um número de votos muito próximo do registado pela Frelimo (Frente de
Libertação de Moçambique, no poder).
Nas eleições gerais de Outubro foi
eleito como novo Presidente da República o candidato da Frelimo, Filipe Nyusi,
e o partido governamental assegurou a maioria dos lugares na Assembleia da
República e nas assembleias provinciais. O escrutínio foi validado pelo
Conselho Constitucional no dia 30 de Dezembro, mas a Renamo continua a
contestar o que classifica como “barbaridade eleitoral”.
Embora Dhlakama tenha reafirmado
disponibilidade para dialogar com o Governo de Maputo, a declaração deste
sábado radicaliza as posições que tem assumido na sequência das eleições que
são igualmente contestadas pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique,
terceiro maior partido) e por organizações não-governamentais. Aumenta também a
tensão política num país em que o regresso da guerra é uma preocupação
permanente.
Dhlakama tem afastado um cenário de
regresso à guerra que o país viveu entre 1976 e 1992, e que voltou, com ataques
esporádicos, em 2013-14, mas não reconhece os resultados das eleições nem o
Presidente eleito, cuja posse está marcada para quinta-feira, na Praça da
Independência, em Maputo.
A Renamo começou por reclamar a
formação de um Governo de gestão, para o qual indicaria nomes – hipótese
afastada pela Frelimo. Na última semana anunciou que os 89 deputados que elegeu
para o Parlamento não vão tomar posse, na cerimónia de “investidura” marcada
para esta segunda-feira.
A antiga guerrilha acusa também o
Governo da Frelimo de estar a deslocar forças militares para o centro do país,
violando o acordo que, em Setembro, levou à cessação das hostilidades e
permitiu as eleições em ambiente de paz. O executivo respondeu que nada no
acordo impede movimentações da polícia e das Forças Armadas.
O boicote aos órgãos eleitos teve na
quarta-feira a sua primeira expressão — os 294 representantes da Renamo nas dez
assembleias provinciais faltaram à posse, o que, por falta de quórum, impediu a
eleição dos presidentes e de comissões provinciais na Zambézia, Sofala e Tete.
Já depois das eleições gerais de
2009, o líder da oposição fez um anúncio semelhante. Porém, dias depois, 16
deputados tomaram posse, alegadamente contra a vontade do líder. Todos os
restantes, num total de 51, acabaram por seguir o mesmo caminho.
A maioria dos 250 lugares da nova
Assembleia da República será ocupada por eleitos da Frelimo, que tem 144
parlamentares, em resultado de uma votação de 55,68%.Os 89 lugares da Renamo
correspondem a 32,95%. O MDM tem os restantes 17, resultado de 8,4% dos votos.
Nas presidenciais, a vitória foi para Nyusi, com 57%, à frente de Dhlakama, com
36,6%, e de Daviz Simango, do MDM, com 6,04%.
O Presidente da República cessante,
Armando Guebuza, exonerou, na sexta-feira, ministros, conselheiros e
governadores de província que foram eleitos para o Parlamento nas eleições
de Outubro. Entre os exonerados estão o primeiro-ministro, Alberto
Vaquina, seis ministros, três governadores provinciais e dois conselheiros. O
objectivo é permitir que tomem posse como deputados.
Na posse de Filipe Nyusi estará
presente o Presidente português, Cavaco Silva, que se desloca a Maputo entre 13
e 16 de Janeiro. Será acompanhado pelo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, em
representação do Governo de Lisboa.
//Publico
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