sábado, 10 de janeiro de 2015

Guiné-Bissau, a originalidade do carnaval guineense


A Guiné-Bissau é um pequeno país situado na Costa Ocidental de África dotado de um mosaico antropológico rico e diversificado. Neste espaço exíguo de terra verdejante e arável coabitam vários grupos étnicos com hábitos, costumes e crenças heterogéneas, mas em busca incessante da afirmação de uma identidade cultural comum propiciadora de desenvolvimento, numa perspetiva verdadeiramente sustentável.

A essência da sua cultura tradicional e multissecular está arreigada nos bens culturais materiais e imateriais enquanto portadores por excelência dos elementos essenciais da memória coletiva do povo guineense, que desde os tempos imemoriais são transmitidos oralmente de geração em geração. De forma indubitável, deve-se reconhecer esses bens como vetores fundamentais do desenvolvimento durável ou seja não poderá existir progresso, nem verdadeiro desenvolvimento sem que, esses elementos essenciais sejam devidamente valorizados e salvaguardados em prol dos superiores interesses do desenvolvimento humano integral da Guiné-Bissau.

O papel transversal da cultura no conjunto de todas as áreas de desenvolvimento é inquestionável, porquanto, a implementação de qualquer projeto de desenvolvimento, quer em relação às áreas produtivas, quer às infraestruturais deve ter em consideração os valores tradicionais arreigados na nossa cultura. Porém, o crescimento económico e a justiça social só podem conduzir ao desenvolvimento integral e duradouro se forem acompanhados pelo desenvolvimento cultural, que se resume numa só palavra é pela cultura que todo o crescimento se torna humano e o homem se humaniza.

Atendendo que, ela é o veículo por excelência através do qual são transmitidos os comportamentos e ao mesmo tempo uma fonte dinâmica de mudança de comportamentos, atitudes e práticas, assim como de criatividade e de liberdade, e o fomento de inovações ricas em promessas, impõe-se-nos pensar o desenvolvimento como dimensão cultural e a cultura como fator de desenvolvimento.

Contextualização

As mais de vinte comunidades culturais e etnolinguísticas que vivem em comunhão de bens na Guiné-Bissau, ao longo dos vários séculos, engendraram um manancial inesgotável do património cultural imaterial, caracterizado pela sua riqueza e diversidade.

Esta diversidade indelével dos elementos essenciais impregnados no património cultural guineense constitui a pedra de toque do verdadeiro desenvolvimento sustentável.

Daí que a estratégia para a sua disseminação deve fundamentalmente assentar na procura de alternativas viáveis, bem como de soluções criativas com vista a salvaguarda do património cultural nacional e promoção do desenvolvimento cultural ao serviço da transformação da sociedade guineense e em confluência com novos valores culturais.

Atualmente o Carnaval é a maior manifestação étnico-cultural do povo guineense, não obstante, segundo reza a história ser de proveniência do culto pagão sectário do paganismo, que é a designação dada pelos Cristãos à religião politeísta dos Gregos e dos Romanos que se caracterizava pela idolatria.

Entretanto, a essencialidade do carnaval moderno do nosso país, não tem nada a ver com o conceito histórico que o encerra. Porquanto, ao longo da evolução histórica, ele deixou de ser uma festa licenciosa em honra de Baco, na antiguidade pagã, para radicalmente transformar, em particular, no caso da Guiné-Bissau na mais empolgante manifestação cultural, assim como na fonte mais livre e criativa da expressão artística guineense. Outrossim, é o maior espaço de concentração e de diversão de toda a população guineense onde as cores nacionais se misturam numa simbiose cultural, de franca demonstração das diferentes formas tradicionais de viver e estar na sociedade guineense.

O carnaval guineense, completamente original, com características próprias, tem evoluído bastante, constituindo uma das maiores manifestações culturais do país ou seja “O CARNAVAL é caldeirão artístico-cultural em movimento e a mais empolgante manifestação cultural através da qual são genuinamente disseminadas as formas concretas de expressão cultural do povo guineense.”

A diversidade cultural manifestada de forma indelével nas diferenças étnicas e linguísticas produziram grande variedade a nível da dança, da expressão artística, das profissões, da tradição musical, das manifestações culturais.

Entretanto, os grupos étnicos animistas caracterizam-se pelas belas e coloridas coreografias, fantásticas manifestações culturais que podem ser observadas correntemente por ocasião das colheitas, dos casamentos, dos ritos fúnebres, dos rituais de propiciação aos deuses sobrenaturais, das cerimónias de iniciação etc. e todas estas formas de expressões são ostentadas espontaneamente durante os festejos do carnaval.

O Lema escolhido para o presente ano “Carnaval da Salvaguarda da Memória Coletiva”, não foi um mero acaso, tendo em conta que o desígnio principal da escolha deste lema pressupõe a necessidade de persuadir todas as forças vivas da nação, com destaque para: o Governo, a Sociedade Civil, as Associações Juvenis, as ONG’s, as comunidades locais e aos Profissionais da área do património, no sentido de se conjugar esforços tendentes à preservação, conservação e salvaguarda do nosso rico e diversificado património cultural imaterial.

Considerando que o respeito pela diversidade cultural é um fator unificador, pretende a Secretaria de Estado da Juventude, Cultura e Desportos (SEJCD) que se faça do Carnaval uma montra de promoção e difusão dos artefactos da cultura material impregnados na nossa tradição multicultural, assim como de um espaço livre de maior demonstração de valores culturais do nosso país desde os trajes passando pelas danças, canções, dramatizações, gastronomia e artesanato enquanto portadores indefectíveis dos elementos essências da nossa memória coletiva.

Um país com uma população assente num mosaico multiétnico com uma forte tradição multicultural, faz do Carnaval um ato de livre manifestação e de demonstração da diversidade cultural sem distinção de raça, cor, etnia, convicção cultural e/ou filosófica.

Os elementos essenciais da nossa memória coletiva, são de forma inequívoca e espontânea amplamente divulgados durante os festejos do carnaval, e manifestam-se nomeadamente nos seguintes domínios:

• As tradições e expressões orais incluindo as línguas nacionais enquanto vetores primordial do património cultural imaterial;
• As artes do espetáculo por exemplo a música, a dança e o teatro tradicional;
• As práticas sociais, rituais e acontecimentos festivos de índole sacro-religioso;
• Os conhecimentos e práticas concernentes a natureza e o universo;
• As crenças e ideias imateriais associadas as tradições rituais e cosmológicas;
• O saber fazer ligado ao artesanato tradicional (a escultura, olaria, a cestaria, a tecelagem e a cordoaria);
• As variadas formas e expressões de folclore;
• As indumentárias tradicionais;
• As tranças polifórmaticas;
• Os adornos;
• Os instrumentos musicais;
• A encenação de rituais fúnebres, de iniciação e de espaços culturais;
• As variadas formas de criação artística.

As multifacetadas formas de expressões culturais acima descritas são transmitidas de geração em geração, e são constantemente recriadas pelas comunidades e grupos em função do seu meio envolvente, da sua interação com a natureza e da sua história, e confere-lhes um sentido de identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o respeito da diversidade cultural e a criatividade do homem guineense.

A estratégia conducente para a disseminação dessas expressões culturais, passa necessariamente pela inclusão das mesmas nas inúmeras manifestações e eventos culturais são promovidas pelas entidades oficiais e comunidades tradicionais, sendo o carnaval a referência mais eloquente.

Estas e demais razões objetivas, que se consubstanciam de forma inequívoca na nossa realidade quotidiana e meio envolvente, leva-nos a considerar que a contínua promoção e salvaguarda dos artefactos, das práticas, das representações e expressões, enquanto partes integrantes do património cultural imaterial é indispensável e inadiável, tendo em atenção o papel transcendental, que desempenham no âmbito do processo do fortalecimento da unidade nacional, em que a diversidade cultural se destaca como elemento primacial desse inestimável desígnio.

A festa do carnaval continua a ser incontestavelmente uma manifestação puramente cultural de natureza folclórica, onde os populares aproveitam o ensejo para ostentar os valores culturais intrínsecos e multiformes inerentes ao nosso património cultural imaterial.

Com o propósito de conferir a visibilidade que esta manifestação popular de índole sociocultural granjeou a nível nacional e sub-regional, a Secretaria de Estado da Juventude, Cultura e Desportos tenciona mais uma vez organizar à altura do pergaminho que lhe è inerente, esta magna e inestimável atividade cultural, que congrega milhares e milhares de populares imbuídos pelo espírito narcisista de exaltar indescritivelmente os valores culturais intrínsecos impregnados na nossa multissecular tradição cultural.

Em conclusão, o carnaval é indubitavelmente um polo da promoção, disseminação e veículo fundamental de natureza temporal para a valorização dos elementos essências da nossa memória coletiva arreigados nos multifacetados artefactos da cultura material do povo guineense.

“Os objetos da cultura material são geradores e portadores por excelência da diversidade cultural dum povo”


2 comentários :

  1. Rui Agostinho Preto Sá A diversidade da nossa cultura e da multietnidade é a razao da nossa existencia como uma Nacao forte unida por um unico nome Guineenses.

    ResponderEliminar
  2. Intelectuais Balantas Na Diáspora - compatriotas ou amigos a vossa opinião e o vosso ponto de vista, procurem estar sempre do lado da moderação para o bem da liberdade, paz e desenvolvimento humano na sua plenitude

    ResponderEliminar


COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.