A Guiné-Bissau é um pequeno país situado
na Costa Ocidental de África dotado de um mosaico antropológico rico e
diversificado. Neste espaço exíguo de terra verdejante e arável coabitam vários
grupos étnicos com hábitos, costumes e crenças heterogéneas, mas em busca
incessante da afirmação de uma identidade cultural comum propiciadora de
desenvolvimento, numa perspetiva verdadeiramente sustentável.
A essência da sua cultura tradicional e
multissecular está arreigada nos bens culturais materiais e imateriais enquanto
portadores por excelência dos elementos essenciais da memória coletiva do povo
guineense, que desde os tempos imemoriais são transmitidos oralmente de geração
em geração. De forma indubitável, deve-se reconhecer esses bens como vetores
fundamentais do desenvolvimento durável ou seja não poderá existir progresso,
nem verdadeiro desenvolvimento sem que, esses elementos essenciais sejam
devidamente valorizados e salvaguardados em prol dos superiores interesses do
desenvolvimento humano integral da Guiné-Bissau.
O papel transversal da cultura no
conjunto de todas as áreas de desenvolvimento é inquestionável, porquanto, a
implementação de qualquer projeto de desenvolvimento, quer em relação às áreas
produtivas, quer às infraestruturais deve ter em consideração os valores
tradicionais arreigados na nossa cultura. Porém, o crescimento económico e a
justiça social só podem conduzir ao desenvolvimento integral e duradouro se
forem acompanhados pelo desenvolvimento cultural, que se resume numa só palavra
é pela cultura que todo o crescimento se torna humano e o homem se humaniza.
Atendendo que, ela é o veículo por
excelência através do qual são transmitidos os comportamentos e ao mesmo tempo
uma fonte dinâmica de mudança de comportamentos, atitudes e práticas, assim
como de criatividade e de liberdade, e o fomento de inovações ricas em
promessas, impõe-se-nos pensar o desenvolvimento como dimensão cultural e a
cultura como fator de desenvolvimento.
Contextualização
As mais de vinte comunidades culturais e
etnolinguísticas que vivem em comunhão de bens na Guiné-Bissau, ao longo dos
vários séculos, engendraram um manancial inesgotável do património cultural
imaterial, caracterizado pela sua riqueza e diversidade.
Esta diversidade indelével dos elementos
essenciais impregnados no património cultural guineense constitui a pedra de
toque do verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Daí que a estratégia para a sua
disseminação deve fundamentalmente assentar na procura de alternativas viáveis,
bem como de soluções criativas com vista a salvaguarda do património cultural
nacional e promoção do desenvolvimento cultural ao serviço da transformação da
sociedade guineense e em confluência com novos valores culturais.
Atualmente o Carnaval é a maior
manifestação étnico-cultural do povo guineense, não obstante, segundo reza a
história ser de proveniência do culto pagão sectário do paganismo, que é a
designação dada pelos Cristãos à religião politeísta dos Gregos e dos Romanos
que se caracterizava pela idolatria.
Entretanto, a essencialidade do carnaval
moderno do nosso país, não tem nada a ver com o conceito histórico que o
encerra. Porquanto, ao longo da evolução histórica, ele deixou de ser uma festa
licenciosa em honra de Baco, na antiguidade pagã, para radicalmente transformar,
em particular, no caso da Guiné-Bissau na mais empolgante manifestação
cultural, assim como na fonte mais livre e criativa da expressão artística
guineense. Outrossim, é o maior espaço de concentração e de diversão de toda a
população guineense onde as cores nacionais se misturam numa simbiose cultural,
de franca demonstração das diferentes formas tradicionais de viver e estar na
sociedade guineense.
O carnaval guineense, completamente
original, com características próprias, tem evoluído bastante, constituindo uma
das maiores manifestações culturais do país ou seja “O CARNAVAL é caldeirão
artístico-cultural em movimento e a mais empolgante manifestação cultural
através da qual são genuinamente disseminadas as formas concretas de expressão
cultural do povo guineense.”
A diversidade cultural manifestada de
forma indelével nas diferenças étnicas e linguísticas produziram grande
variedade a nível da dança, da expressão artística, das profissões, da tradição
musical, das manifestações culturais.
Entretanto, os grupos étnicos animistas
caracterizam-se pelas belas e coloridas coreografias, fantásticas manifestações
culturais que podem ser observadas correntemente por ocasião das colheitas, dos
casamentos, dos ritos fúnebres, dos rituais de propiciação aos deuses
sobrenaturais, das cerimónias de iniciação etc. e todas estas formas de
expressões são ostentadas espontaneamente durante os festejos do carnaval.
O Lema escolhido para o presente ano
“Carnaval da Salvaguarda da Memória Coletiva”, não foi um mero acaso, tendo em
conta que o desígnio principal da escolha deste lema pressupõe a necessidade de
persuadir todas as forças vivas da nação, com destaque para: o Governo, a
Sociedade Civil, as Associações Juvenis, as ONG’s, as comunidades locais e aos
Profissionais da área do património, no sentido de se conjugar esforços
tendentes à preservação, conservação e salvaguarda do nosso rico e
diversificado património cultural imaterial.
Considerando que o respeito pela
diversidade cultural é um fator unificador, pretende a Secretaria de Estado da
Juventude, Cultura e Desportos (SEJCD) que se faça do Carnaval uma montra de
promoção e difusão dos artefactos da cultura material impregnados na nossa
tradição multicultural, assim como de um espaço livre de maior demonstração de
valores culturais do nosso país desde os trajes passando pelas danças, canções,
dramatizações, gastronomia e artesanato enquanto portadores indefectíveis dos
elementos essências da nossa memória coletiva.
Um país com uma população assente num
mosaico multiétnico com uma forte tradição multicultural, faz do Carnaval um
ato de livre manifestação e de demonstração da diversidade cultural sem
distinção de raça, cor, etnia, convicção cultural e/ou filosófica.
Os elementos essenciais da nossa memória
coletiva, são de forma inequívoca e espontânea amplamente divulgados durante os
festejos do carnaval, e manifestam-se nomeadamente nos seguintes domínios:
• As tradições e expressões orais
incluindo as línguas nacionais enquanto vetores primordial do património
cultural imaterial;
• As artes do espetáculo por exemplo a
música, a dança e o teatro tradicional;
• As práticas sociais, rituais e
acontecimentos festivos de índole sacro-religioso;
• Os conhecimentos e práticas
concernentes a natureza e o universo;
• As crenças e ideias imateriais
associadas as tradições rituais e cosmológicas;
• O saber fazer ligado ao artesanato
tradicional (a escultura, olaria, a cestaria, a tecelagem e a cordoaria);
• As variadas formas e expressões de
folclore;
• As indumentárias tradicionais;
• As tranças polifórmaticas;
• Os adornos;
• Os instrumentos musicais;
• A encenação de rituais fúnebres, de
iniciação e de espaços culturais;
• As variadas formas de criação
artística.
As multifacetadas formas de expressões
culturais acima descritas são transmitidas de geração em geração, e são
constantemente recriadas pelas comunidades e grupos em função do seu meio
envolvente, da sua interação com a natureza e da sua história, e confere-lhes
um sentido de identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o
respeito da diversidade cultural e a criatividade do homem guineense.
A estratégia conducente para a
disseminação dessas expressões culturais, passa necessariamente pela inclusão
das mesmas nas inúmeras manifestações e eventos culturais são promovidas pelas
entidades oficiais e comunidades tradicionais, sendo o carnaval a referência
mais eloquente.
Estas e demais razões objetivas, que se
consubstanciam de forma inequívoca na nossa realidade quotidiana e meio
envolvente, leva-nos a considerar que a contínua promoção e salvaguarda dos
artefactos, das práticas, das representações e expressões, enquanto partes
integrantes do património cultural imaterial é indispensável e inadiável, tendo
em atenção o papel transcendental, que desempenham no âmbito do processo do
fortalecimento da unidade nacional, em que a diversidade cultural se destaca
como elemento primacial desse inestimável desígnio.
A festa do carnaval continua a ser
incontestavelmente uma manifestação puramente cultural de natureza folclórica,
onde os populares aproveitam o ensejo para ostentar os valores culturais
intrínsecos e multiformes inerentes ao nosso património cultural imaterial.
Com o propósito de conferir a
visibilidade que esta manifestação popular de índole sociocultural granjeou a
nível nacional e sub-regional, a Secretaria de Estado da Juventude, Cultura e
Desportos tenciona mais uma vez organizar à altura do pergaminho que lhe è
inerente, esta magna e inestimável atividade cultural, que congrega milhares e
milhares de populares imbuídos pelo espírito narcisista de exaltar
indescritivelmente os valores culturais intrínsecos impregnados na nossa
multissecular tradição cultural.
Em conclusão, o carnaval é
indubitavelmente um polo da promoção, disseminação e veículo fundamental de
natureza temporal para a valorização dos elementos essências da nossa memória
coletiva arreigados nos multifacetados artefactos da cultura material do povo
guineense.
“Os objetos da cultura material são
geradores e portadores por excelência da diversidade cultural dum povo”
Rui Agostinho Preto Sá A diversidade da nossa cultura e da multietnidade é a razao da nossa existencia como uma Nacao forte unida por um unico nome Guineenses.
ResponderEliminarIntelectuais Balantas Na Diáspora - compatriotas ou amigos a vossa opinião e o vosso ponto de vista, procurem estar sempre do lado da moderação para o bem da liberdade, paz e desenvolvimento humano na sua plenitude
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