«Francisco
acaba de designar o
dia 1 de Setembro como Dia
Mundial de Oração pelo
Cuidado da Criação»
O Papa Francisco tem consigo a missão
decisiva de pôr ordem e renovar a Igreja. Mas sobre ele pesam igualmente
responsabilidades históricas para com a humanidade toda, e também aqui o seu
desempenho tem despertado, como disse Raúl Castro, "admiração mundial".
Aliás, ele é um grande diplomata, afirmando o embaixador britânico junto da
Santa Sé, Nagel Baker: "Nunca tivemos tanto trabalho. Todos os governos
nos pedem continuamente in-formações sobre os movimentos do Papa
Francisco."
Na continuação do texto de Sábado
passado, apresento outros sinais da sua influência global.
3. Se um desejo maior de Francisco é
visitar Moscovo, outro é ir a Pequim. O presidente Xi Jinping e Francisco
trocaram mensagens de cortesia nas suas respectivas eleições em 2013 e a Igreja
chinesa ordenou nos princípios deste mês o primeiro bispo fiel a Roma nos
últimos três anos e ordenará em breve o segundo com a aprovação de Francisco.
Sinais de abertura do governo chinês, que trabalha com o Vaticano para
restabelecer relações diplomáticas. Hoje, com uns 12 milhões de católicos e
mais de 70 milhões de cristãos, a China poderá ser em 2030 o país do mundo com
maior número de cristãos, estando Francisco convencido de que o futuro do
cristianismo se joga em grande parte na Ásia.
4. Na Europa, que países visitou
Francisco? Significativamente três, de maioria muçulmana: Albânia, Bósnia e
Turquia, com razoável convivência inter-religiosa. Francisco sabe que um
problema maior no mundo e na Europa é e será a relação entre cristãos e
muçulmanos. As duas religiões juntas são metade da humanidade, o que significa
que a paz entre elas tem importância decisiva para o futuro.
Mas Francisco não se cansa de apelar à
comunidade internacional para não abandonar as minorias cristãs e outras,
perseguidas e esmagadas no Médio Oriente. O seu secretário de Estado, cardeal
Pietro Parolin, lembrou mesmo, na ONU, que, para deter as agressões
terroristas, "é lícito e urgente" o recurso "à acção
multilateral e a um uso proporcionado da força".
Neste contexto, o vaticanista Sandro
Magister sublinha a importância do acordo entre a Santa Sé e o Estado da
Palestina, assinado em 26 de Junho no Vaticano. A novidade não estaria tanto na
fórmula "Estado da Palestina", mas sobretudo no reconhecimento
explícito da liberdade de religião e de consciência, bem como da liberdade da
Igreja não só nos lugares de culto mas também nas actividades caritativas e
sociais, no ensino, nos meios de comunicação social. "Trata-se de um
reconhecimento sem precedentes por parte de um país muçulmano e poderia abrir o
caminho para algo semelhante noutros países. Não é mero acaso o cardeal Parolin
ter viajado recentemente até Abu Dhabi para inaugurar uma nova igreja com as
mais altas autoridades dos Emiratos Árabes Unidos: uma mensagem eloquente para
a vizinha Arábia Saudita, onde a simples posse de uma Bíblia continua a ser um
delito gravíssimo" e a conversão a outra religião, sujeita à pena capital.
5. A encíclica Laudato si" ficará
na história como a Magna Carta da ecologia integral, afirmando o teólogo X.
Pikaza que "talvez não haja um documento da Igreja Católica que vá ter
mais influência que esta encíclica".
Francisco acaba de designar o dia 1 de
Setembro como Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. A encíclica foi
louvada pelo secretário-geral da ONU, a FAO declarou que "nunca um papa
falou tão directamente sobre o meio ambiente e com tanta credibilidade
moral". Obama, que acaba de tomar medidas ecológicas históricas, citou o
Papa, assegurando que a luta contra as mudanças climáticas "é uma
obrigação moral". Neste contexto, a quatro meses da conferência sobre o
clima que reunirá em Paris, em Dezembro, sob a égide da ONU, os seus 195
membros, na qual Francisco deposita grande esperança, François Hollande, num
encontro em Paris de 40 personalidades políticas, religiosas e morais do mundo
inteiro, declarou que é preciso chegar a acordo: "Não é uma questão de
chefes de Estado ou de governo, mas de todos os habitantes do planeta."
Prémios Nobel, reunidos em Constança, Alemanha, advertiram para as mudanças
climáticas: se nada for feito, caminhamos para "uma ampla tragédia
humana".
6. Por causa das suas posições a favor
dos pobres e contra um sistema económico e financeiro que mata, conservadores
americanos há que acusam Francisco de esquerdista, com concepções marxistas. O
que ele não é. Neste contexto, The Washington Post, 1 de Agosto, escreveu que
"não se pode entender o Papa sem Perón e Evita". Influenciado pelo
peronismo na juventude, Francisco rejeita tanto o marxismo como o capitalismo
selvagem, sem regras. O jornal cita o jesuíta Juan C. Scannone, seu antigo
professor: é a favor de uma "teologia do povo", "não critica a
economia de mercado, mas a fetichização do dinheiro e do livre mercado. Uma
coisa é a economia de mercado e outra a hegemonia do capital sobre o
povo".
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