O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário
Vaz, nomeou, por decreto, Carlos Correia como primeiro-ministro do país.
O decreto presidencial que anuncia a
nomeação salienta que o chefe de Estado guineense cumpriu com as formalidades
previstas na Constituição.
Carlos Correia, natural de Bissau, 81
anos, foi empossado ainda hoje às 16:00.
É a quarta vez que Carlos Correia,
veterano da luta pela independência, assume a chefia do Governo na
Guiné-Bissau.
Discurso de S.E. Presidente da República
- Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Nacional Popular,
- Excelentíssimo Senhor Primeiro-Ministro,
- Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça,
- Sua Excelência o Senhor Presidente Olusegum Obasanjo, Presidente do Grupo de Contacto da CEDEAO para a Guiné-Bissau,
- Excelentíssimos Senhores Ministro-Director do Gabinete, Chefe da Casa Civil, Conselheiros e Assessores do Presidente da República,
- Excelências Senhores Líderes de Partidos Políticos com Representação Parlamentar,
- Excelências Senhores Membros do Corpo Diplomático e Representantes de Organizações Internacionais,
- Ilustres Convidados,
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
Esta cerimónia de hoje marca o fim de um
processo que resultou de uma grave crise política que pôs em causa o regular
funcionamento das instituições que conduziu à demissão do Governo em 12 de
Agosto último.
Como se devem recordar, na altura, tomei
todas as disposições que considerei conformes à Constituição da República para
a nomeação de um novo Primeiro-Ministro.
Nesse quadro solicitei ao PAIGC, partido
mais votado nas últimas eleições, para indicar um nome para o efeito.
Infelizmente, segundo as minhas análises, não foi feita a leitura mais
judiciosa desse convite, tendo-se optado pelo envio do nome do Primeiro-Ministro
demitido, o que conduziu ao bloqueio, na medida em que não foram tidas em
consideração as razões que levaram à demissão do Governo.
Assim, na qualidade de Primeiro
Magistrado da Nação e consciente de que o país não podia entrar num vazio
institucional, nomeei um novo Primeiro-Ministro, de acordo com o que tem sido o
procedimento institucional e tendo sempre em conta os últimos resultados
eleitorais.
Nunca considerei essa decisão como uma
afronta ao PAIGC, mas sim, o resultado de uma leitura judiciosa da situação,
por um lado e, por outro, uma vontade sincera de encontrar a solução mais
adequada, que permitisse uma saída rápida do impasse e colocasse o País dentro
da normalidade institucional.
Entretanto, depois da nomeação do novo
Primeiro-Ministro e do Governo que me foi proposto, deu entrada no Supremo
Tribunal de Justiça uma acção de incidente de constitucionalidade da referida
decisão.
O Supremo Tribunal de Justiça, que faz
as vezes de Tribunal Constitucional, analisou e julgou inconstitucional o
Decreto n°.06/2015.
Ora, na qualidade de Presidente da
Republica, símbolo da unidade nacional, garante do respeito pela Constituição
da Republica, conformei-me imediatamente com a decisão da Corte Suprema, não
obstante não acompanhar a interpretação inovadora nele contida sobre os poderes
do Presidente da República na nomeação do Primeiro-Ministro.
Assim, em consequência do referido
acórdão, demiti de imediato o Governo, após o pedido de demissão apresentado
pelo Primeiro-Ministro.
Ilustres
Convidados,
Com esta atitude, espero ter dado um
sinal inequívoco a todas as forças vivas da Nação, em especial aos demais
órgãos de soberania, que para a consolidação de um Estado de Direito
Democrático, devemos todos, e sem excepção, respeitar a Constituição e demais
as Leis da Republica. Pois considero que esse é o único caminho que pode
levar-nos a atingir os nossos objectivos de paz social e estabilidade
institucional.
Assim, sempre imbuído de espírito
republicano, fiz uma leitura do Acórdão n°.01/2015 e, de acordo com a
Constituição da Republica, segui os procedimentos necessários com vista à
nomeação do novo Primeiro-Ministro.
Solicitei ao PAIGC, partido maioritário
na ANP, que me indicasse três nomes para consideração, tendo em vista a
nomeação do novo Primeiro-Ministro.
Em resposta, recebi deste partido um
único nome, o do senhor Eng.º Carlos Correia, que acabamos de empossar.
De referir que a solicitação de três
nomes visava única e exclusivamente conferir ao partido maioritário uma maior
amplitude nas opções para a chefia do Governo.
Consciente dos desafios enormes e
urgentes que o País tem pela frente, decidi aceitar a proposta feita pelo PAIGC
e nomear o Eng. Carlos Correia Primeiro-Ministro, sobretudo porque se trata de
uma figura de conhecido e reconhecido mérito, cuja experiência acumulada
confere garantia de bom desempenho para as funções em que acaba de ser
investido.
De recordar que o senhor Eng.º Carlos
Correia dedicou parte importante da sua carreira à causa nacional. Foi o Primeiro-ministro
das finanças da então jovem República da Guiné-Bissau, proclamada em 1973.
Além disso, exerceu sempre altas funções
ao nível do Estado, nomeadamente de Ministro e de Primeiro-Ministro em diversos
Governos, o que lhe confere condições ímpares para federar, em torno dos
grandes desígnios nacionais, as diferentes franjas da nossa sociedade.
Na condução dos diferentes cargos que
lhe foram confiados, sempre se destacou pelo rigor na gestão da coisa pública,
dedicação e qualidade do seu trabalho. É um exemplo a seguir pelo seu espírito
de diálogo, auscultação e busca de consensos.
Por conseguinte, registei com apreço o
facto de ter sido proposto pelo partido maioritário, pelo que o nomeei com
satisfação para o cargo de Primeiro-Ministro.
Estamos igualmente confiantes de que
existem condições para desenvolvermos um bom relacionamento de trabalho e de
colaboração, no desempenho das altas funções que os cidadãos guineenses nos
confiaram.
Ilustres
Convidados,
Com esta crise ultrapassada, espero que
todos os órgãos de soberania e instituições da Republica tirem as devidas
ilações, para que no futuro o país não volte a viver este tipo de situação.
Por isso, é absolutamente necessário
estabelecer o respeito mútuo e uma franca colaboração entre os diferentes
órgãos de soberania e instituições da República com vista a mobilizar todas as
sinergias do país ao serviço do desenvolvimento e, consequentemente, do
bem-estar das nossas populações.
Para terminar, quero exprimir-lhe,
Senhor Primeiro-Ministro, os desejos sinceros de muita saúde, longa vida e
sucessos na árdua, mas exaltante tarefa de conduzir, mais uma vez, um Governo
rumo ao destino almejado por toda a população guineense.
Depois de muitos anos de sofrimento e de
decepção visível na degradação contínua das condições de vida do nosso povo,
traduzida em défices graves nos sectores de educação, saúde, infraestruturas
sociais, fornecimento de energia e água potável, fazem com que as expectativas
sejam enormes sobre o desempenho do novo Governo que deve imperativa e
rapidamente apresentar resultados concretos com vista ao suprimento dessas
insuficiências.
Estou persuadido que com as suas
qualidades humanas, já largamente conhecidas, as acções do seu Governo serão
norteadas de rigor e da transparência, e que cada franco CFA a ser gasto, será
rigorosamente aplicado na satisfação das necessidades básicas e urgentes das
nossas populações.
Nestas condições, serei o seu primeiro
defensor perante a população e a comunidade internacional e não pouparei nenhum
esforço em lhe acompanhar e apoiar em tudo quanto considerar que possa ser útil
no seu desempenho enquanto Chefe de Governo.
Senhor
Primeiro-Ministro,
Aguardo que apresente com a maior
brevidade possível a composição do elenco governamental que irá continuar os
esforços de materialização das legítimas expectativas do nosso povo.
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
Antes de terminar, gostaria de deixar
aqui uma palavra de reconhecimento e apreço ao Dr. Baciro Djá e a todos quantos
se disponibilizaram, com riscos e custos pessoais, a viabilizar uma solução
governativa na difícil situação política que o país atravessava.
Todo o nosso reconhecimento vai,
igualmente, para os Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que pedimos seja
transmitido pelo Presidente Obasanjo, pelo interesse manifestado em relação à
situação política da Guiné-Bissau e pela mobilização de esforços com vista à
sua resolução.
O nosso agradecimento pessoal ao
Presidente Obasanjo que, enquanto cidadão nigeriano, serviu o seu país ao mais
alto nível e que agora, enquanto cidadão africano, está a ajudar a África e o
mundo na busca de paz e estabilidade.
Que Deus abençoe a Guiné-Bissau e ao seu
povo!
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