sábado, 22 de dezembro de 2018

Papa Francisco denuncia aqueles que «deformam o rosto da Igreja, minando a sua credibilidade»


Francisco reafirmou hoje uma política de tolerância zero contra a pedofilia e a corrupção no encontro de Natal com os membros da Cúria Romana

O Papa destacou hoje no Vaticano o Natal como uma oportunidade de “penitência e renovação para a Igreja Católica”, no meio das “escândalos” que envolveram as estruturas eclesiais ao longo deste último ano.

Durante uma sessão de apresentação de boas festas de Natal à Cúria Romana, esta manhã, na Sala Clementina, em Roma, Francisco reconheceu que “a barca da Igreja vive momentos difíceis, acometida por tempestades e furacões”, nomeadamente devido ao “contratestemunho” e à “infidelidade” de “alguns filhos e ministros da Igreja”.

O Papa argentino referiu-se aos casos de abusos sexuais contra menores cometidos por membros do clero, encobertos por bispos e cardeais, que têm sido dados a conhecer em vários países.

“Desde há vários anos que a Igreja está seriamente empenhada em erradicar o mal dos abusos, que clama por justiça ao Senhor, a Deus que nunca esquece o sofrimento vivido por muitos menores por causa de clérigos e pessoas consagradas: abusos de poder, abusos de consciência e abusos sexuais”, apontou o Papa.

Para Francisco, é fundamental erradicar da Igreja Católica aqueles que, a coberto da sua consagração a Deus, “abusam dos fracos, valendo-se do seu poder moral e de persuasão”, que “cometem abominações e continuam a exercer o seu ministério como se nada tivesse acontecido”; ou que “não temem a Deus nem o seu juízo, mas apenas ser descobertos e desmascarados”

“Ministros, que dilaceram o corpo da Igreja, causando escândalos e desacreditando a missão salvífica da Igreja e os sacrifícios de muitos dos seus irmãos”, frisou o Papa argentino.

Durante o encontro com os membros da Cúria Romana, esta sexta-feira, o Papa afirmou que não haverá lugar na Igreja Católica para situações de pedofilia, para aqueles que Francisco apelidou como “lobos vorazes”, cujos atos “deformam o rosto da Igreja, minando a sua credibilidade”.

Que não haverá lugar para aqueles que “entram, sem pestanejar, na rede de corrupção, atraiçoam Deus, os seus mandamentos, a própria vocação, a Igreja, o povo de Deus e a confiança dos pequeninos e dos seus familiares”.

“Fique claro que a Igreja, perante estas abominações, não poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para entregar à justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos. A Igreja não procurará jamais dissimular ou subestimar qualquer um destes casos. Isto nunca mais deve acontecer”, frisou o Papa argentino.

O Papa lembrou depois os cardeais acerca da importância do encontro que vai ter lugar em fevereiro de 2019, com responsáveis de todas as conferências episcopais do mundo, para abordar a temática dos abusos.

Uma iniciativa através da qual “a Igreja reiterará a sua firme vontade de prosseguir, com toda a sua força, pelo caminho da purificação”.

“A Igreja, valendo-se também da ajuda dos peritos, questionar-se-á como proteger as crianças; como evitar tais calamidades, como tratar e reintegrar as vítimas; como reforçar a formação nos seminários. Procurar-se-á transformar os erros cometidos em oportunidades para erradicar este flagelo não só do corpo da Igreja, mas também do seio da sociedade”, apontou Francisco.

O Papa argentino recuperou aquilo que disse acerca do Natal como época de “penitência e renovação” para a Igreja Católica, para realçar que o nascimento de Jesus “é a festa que dá a certeza de que nenhum pecado será maior do que o empenho de Cristo”.

Muito deste processo de renovação, observou o Papa, depende também da vontade da própria Igreja em assumir os seus erros e corrigir o que está mal.  

“Uma Igreja empedernida será sempre uma Igreja sem esperança”, asseverou Francisco.

Do lado do Cúria Romana, os cardeais de todo o mundo afirmaram o seu empenho de “participar na solicitude quotidiana do Papa, por toda a Santa Igreja” e enalteceram “o esforço imparável de Francisco a favor da paz e da colaboração entre os povos”,  as “várias viagens internacionais pontifícias” que foram promovidas, e acontecimentos como “o Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, e a canonização do Papa Paulo VI”.

Os membros do Colégio Cardinalício agradeceram ainda particularmente ao Papa argentino pela dádiva “da sua última exortação apostólica, ‘Alegrai-vos e exultai’, que fez ressoar de novo dentro da Igreja Católica o desafio a uma reforma interior, em ordem à santidade”.

“Recordou-nos, de modo particular, que na base de cada renovação está o empenho de colocar Deus no centro de toda a nossa vida”, apontou o representante da Cúria Romana.Com a Ecclesia

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