sábado, 12 de janeiro de 2013

Opinião: Unidade nacional na diversidade cultural.

Se o discurso politicamente correto fala de unidade nacional, o politicamente incorreto questiona até que ponto se pode falar de uma unidade como sinónimo perfeito de homogeneidade.
Talvez para a melhor abordagem ou enquadramento semântico do assunto que aqui pretendemos discutir com um carácter excitante - excitante pelo comodismo a que nos está habituado a ouvir quase de forma inocente e com uma certa religiosidade, urge trazer um pequeno inventário de vocábulos que vão sugerir e se calhar cimentar o nosso entendimento do assunto.
Será que podemos usar a expressão unidade nacional no sentido de convenção? Mutua inteligibilidade dos assuntos étnicos? Ligação intima? Comungar de ideias? Cumplicidade? Ou mesmo união!...Afinal o que é unidade nacional? Como os elementos de uma determinada sociedade podem ser designados por unidos? O que deve  haver  de comum ou de diferente e com que grau para que se cunhe o termo de forma pura e consensual? Ou talvez o termo certo para nos referirmos a uma sociedade que em muitas vezes se caracteriza por diversa nos seus variados aspetos seja “convenção” (convenção Nacional).

Desde a independência para cá, se tem falado de exaltação do sentido de dever ou o exercício são e consciente do patriotismo como parte do processo de construção da nação a qual aqui discutimos sua unidade na sua diversidade multicultural e multi-étnico.
Em questão de unidade, é possível apaziguar as diferenças (culturais e étnicos) e nos unirmos em torno de um objetivo e com isso nada mais e nada menos saímos a ganhar mas a celebrar com vigor a razão da nossa tolerância e acreditamos que cada um de nós principalmente a juventude pode cimentar esta unidade na diversidade cultural procurando na sua diversidade unificar o sentido de unidade que Amílcar Lopes Cabral sonhara a quase meio século.
Muitos poderiam ser os exemplos que aqui poderíamos trazer como resposta que qualquer cidadão deste país nos daria por hipótese a questão: quais as marcas que a seu ver caracterizam unidade no país? Se calhar logo a primeira nos seriam os símbolos (bandeira, o emblema, o hino) e depois o FCFA, a língua (Português). E depois? Os valores tradicionais? As nossas línguas nativas? Os nossos hábitos, usos e costumes? Em fim a nossa cultura?    
Ao falar do patriotismo, implicitamente nos referimos a  aceitação pura e sem questionamentos envolto  à agenda  nacional aliás – começo e chegada do verbo unir autor da união, unidade, unificação, em fim o que concebemos hoje como nação.
Se em paralelo com a unidade solicitamos um comungar da agenda nacional fica aqui claro que urge por conseguinte eliminar as assimetrias regionais, o tribalismo, egocentrismo (mais no sentido do individualismo), a exclusão ideológica bem como a distribuição desigual da riqueza e poder ou de oportunidades - inimigos dum estado com uma constituição que prima pela abrangência.
Olhando para o pódio do texto ”unidade nacional na diversidade cultural”; o que desencadeia o carácter inquietante da questão não é a falta de unidade. Talvez ver mesmo o que o vocábulo unidade nos da como significado. Segundo Dicionário Universal de Língua Portuguesa o termo significa qualidade do que é uno, ou seja exclusivo, sem igual, que é só um, aliança,  pacto, etc.
Pegando fielmente no item “pacto “ou “só um”, falar de unidade, parcialmente deixamos de fora a questão cultural, pois parece este não selecionar naturalmente elementos como unidade cultural (aqui nos deparamos com o sentido de identidade e pertença onde elementos de estigmatizarão são notáveis quase em todos os tempos.
Sendo as etnias se identificam por grupos pelos seus modos de manifestação cultural, dos quais são: Balantas, Fulas, Papeis, Mandingas, Mancanhes, Mandjacos, Felupes, Biafadas, Bijagós, Nalus, Tandas, Oincas, Saracules, Padjadingas, Beafadas e tantas outras etnias, originais ou derivadas; cada uma dessas etnias é reconhecida precisamente por aquilo que a diferencia das outras.
O que é que caracteriza o guineense senão a mestiçagem, a sua própria diversidade étnica, quiçá toda a riqueza cultural de cada um dos integrantes desse vasto mosaico social e humano.
Os guineenses são caracterizados pelos inúmeros dialetos, os diversos comportamentos em forma de tradição, a indesmentível diversidade cultural das muitas etnias que existem no país demonstram essa pureza de diversidade cultural num povo uno.
 Intencionalmente, o elemento linguístico no caso a língua crioula e a língua Portuguesa, é por excelência um exemplo de unidade tendo em conta o próprio processo da construção da nação guineense, prende-se com  o assumir do Português como língua oficial, visto que desde os primórdios, os autores da nossa independência perceberam que a questão da diversidade linguística nacional poderia ser um entrave na definição da então agenda única para os guineenses- a independência.
Olhando para o Português como língua oficial, podemos visitar os critérios de R. Bell para a definição de uma língua como oficial por conseguinte, deve obedecer:
Padronização - (que se prende com a unificação do que existe de forma escrita bem como o funcionalismo da língua que no nosso contexto não nos diz muito pois herdamos o Português como elemento de aculturação embora  nos dias que correm se fale mais crioulo e menos português: Historicidade - (a língua enquanto símbolo de identidade); autonomia e normas de facto (o sentir-se bom ou mau falante).
Nota-se não só no texto mas também do texto para fora (realidade) um certo paradoxo intencional, que sugere um assumir de posicionamentos que depende ao de tudo do discernimento lúcido do nosso locatário.
Se por um lado se pode discutir com uma certa mestria mas sem dogmatismo algo  sobre o tema em analise, percebemos que a língua é um elemento incontestável  para a construção de uma identidade bem como da unidade de um povo, pois a maneira como vemos e vivemos o mundo é fortemente influenciado pela língua que usamos porque com ela categorizamos os objetos da nossa cultura e o mundo onde nós vivemos é em grande parte construído pelos hábitos linguísticos do grupo cultural, intendendo cultura na perspetiva de Hudson (1990), como conhecimento cultural apreendido dos outros ou conhecimento que alguém possui por ser membro de uma sociedade que por sua vez pode ser conhecimento cultural adquirido partilhado, e não partilho.
De um modo geral o objetivo deste texto não é pôr em causa as convicções nem as crenças do alocutário, mas sim desencadear um assumir  de posições discursivas com todo discernimento e lucidez na espectativa do possível, pois é essa lucidez que se pede aos auditores que permite o exercício pleno da cidadania. Há vários elementos que poderíamos ter focalizado para o “enceramento” da nossa discussão mas a língua foi nosso elemento de eleição para demonstrar a nossa abertura  bem como também poderia ter sido outro mas por uma questão de um abrir de portas para mostrar a nossa conceção de unidade que hoje gozamos até com certo orgulho da nação guineense.
 por: Wilkinne

Sem comentários :

Enviar um comentário


COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.