terça-feira, 2 de abril de 2013

Vontade e querer


É com a força do querer, aliado à determinação e à persistência, que o homem vence obstáculos, alcança os fins a que se propõe, faz as mudanças, vive o sucesso.
No meio do caminho tinha uma pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho...”(Drummond de Andrade). Olhei para ela e não se mexeu! Desejei um caminho sem a pedra, mas, como desejo, não passava de sonho, quiçá de imediatista fantasia. Explodi em vontade de a remover. E, por deliberante autoconciencia esclarecida pela logica e pela razão, conclui que a pedra continuaria no meio do caminho, apesar da intensidade da vontade sentida, não fosse um intencional agir pessoal, a assunção de atitude adequada á finalidade apontada pela vontade, um caminho feito com a força do meu querer, o fazer acontecer a remoção da pedra. Agir é, acima de tudo, querer agir, é querer que algo aconteça. Valorizei a representaçãodo objectivo a alcançar e assumi a responsabilidade por uma escolha livre fundada em exercicio de liberdade propria da vontade. Recorrendo aos meios propriados – talentos, experiencia e habilidades – removi a pedra. Finalmente, deixeide ter “esta” pedra no meio do caminho!...
Agir
Poderia ter escolhido não remover a pedra do caminho, não seguir a direção apontada pela vontade, previlegiar a abstrução à decisão de a remover, valorizar eventual risco fisico ou incómodas incompreensões de outrem, ceder à passividade em vez de seguir a explosão da vontade e transformar em querer incoercível – em dever. Mas segui o caminho da realização. Segui a liberdade da vontade no sentido dado por Kant, como << a faculdade de se determinar a si mesa a agir em conformidade com a representação de certas leis”. Fui pessoa, com racionalidade propria, a mesma que subjas à minha tomada de decisões fundada na educação de querer. Tomada de decisão que poderia se r igualmente tomada por outrem face às mesmas circunstacias, que seguiu regras genéticas e que correspondeu ao dever de fazer acontecer um ato de bondade para mim e para os que necessitam daquele caminho.
Senti que cumpri um dever, consciente de que um querer não exclui a surpresa. No cumprimento do dever, encontrei o conforto e alegria da recompensa associada a uma ação moralmente elevada e passivel de louvor pela comunidade. Tinha escolhido um caminho imparcial. Não sendo o querer axiologicamente neutro, este meu querer era do dominio do bem.
A força do querer
Por outro lado, confrontado com as minhas circunstacias, a resultante do meu juízo não permitia aconchegar o remorso que seria gerado pela indeferençia. A resultante era, antes, favorável ao comprimisso para a ação. Assim, quis mesmo querer! Quis um querer, gerado na minha interioridade, que foi ato consciente e fruto da razão, diferenciador da unicidade do homem e de todo o homem, na sua vivência como ser em relação.
É com a força do querer, aliado à determinação e a persistencia, que o homem vence o obstaculos, alcança os fins a que se propõe, faz as mudanças, vive o sucesso.
A vontade racional e o querer consciente do homem, no tempo presente, entroncam numa memoria do passado, pela cultura e pela esperança, gerando “saudade do futuro”. Por isso, os atos volitivos do homem prolongam um tempo já vivido e fazem ponte para um tempo a viver. Uma dimensão do querer do homem em cada geração é, assim, também sentido como dever de acrescentar algo ao patrimonio herdado – o dever de fazer cultura. Por outro lado, a consciencia desta perenidade dá sentido à ânsia do homem de agir pelo bem e para o bem, para que o contributo para memoria que o querer individual determina seja memoria amada e modelo lembrado no porvir.
No querer próprio, cada homem verte toda a sua densidade identitaria, toda a diferença que carreia para humanidade. Sendo verdadeiro, na perenidade da sua memória se espalhará a verdade do seu caráter. Sendo cultor da sua vontade, nunca se há de quixar da escuridão da noite, antes acenderá as velas que lhe iluminem o caminho e o sinalizem a futuros caminhos.
Não Ter
Quem não for capaz de construir o seu próprio querer, torna – se escravo do querer outrem. Hoje, num tempo em que reina um confrangerdor utilitarismo esclavagista da vontade humana e do livre – arbitrário, o homem vem sendo sujeito às formas mais despudoradas e violentas de “marketing” destinadas a neutralizar o querer próprio e a criar falsas necessidades geradoras de infelicidade com o não “ter”.
Hoje, escandalosamente incensado o “ter”, neutralizadas múltiplas dimensões da vontade e do querer, resta o homem o esforço do caráter e a revolta contra este colete de forças dominador. Para voltar a ser genuíno e a ter direito à sua diferença, para vencer a tragédia do não querer e saber que só consegue resistir aquele que quer resistir, para voltar a ser dono da sua vontade e do seu querer.
Homem que seja dono, enfim, como recomenda Agostinho da Silva, de “uma inteligencia, e não manhosa, altruísta, e não virada ao sujeito, pedagogica, e não sedenta de dominio”, e um querer que “tenha sua origem e seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justiça”.

por:Wilkinne

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