Acabamos de celebrar,
há dois dias apenas, o quadragésimo aniversário da nossa independência nacional
– 24 Setembro de 1973 – 24 de Setembro de 2013 – ocasião propícia para, à
Vossas Excelências, reafirmar o seguinte: tal como durante toda a sua luta
armada de libertação nacional, o povo que estou a representar acreditou nas
Nações Unidas, também hoje o povo do meu país reitera que essa sua crença
antiga se mantém, e se reforça cada vez mais.
REPÚBLICA DA
GUINÉ-BISSAU
68ª sessão da
Assembleia Geral das Nações Unidas
Discurso de Sua Excelência Manuel Serifo Nhamajo, Presidente da República de Transição
Nova Iorque, 26 de
Setembro de 2013
Senhor Presidente da
Assembleia Geral,
Senhor Secretário
Geral,
Minhas Senhoras, meus
senhores
A começar a minha
intervenção, permitam-me que felicite Vossa Excelência Dr. John William Ashe
como presidente eleito da sexagésima oitava sessão da Assembleia Geral das
Nações.
Na sua pessoa, senhor
Presidente, quero igualmente saudar o seu país, Antígua e Barbuda, dignificado
por este feito notável de ter sido escolhido um dos seus filhos – na pessoa de
Vossa Excelência – para, este ano, presidir à mais universal de todas as
instituições representativas das Nações do Mundo.
Sobre os seus ombros,
Senhor Presidente, pesa a responsabilidade enorme de conduzir os trabalhos
desta sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, num momento que todos
qualificam de muito crítico para a comunidade internacional.
De facto, a realidade
com a qual a comunidade internacional se vê confrontada hoje em dia é a
realidade de um mundo perturbador: de perigosas tensões geopolíticas globais;
de uma crise financeira
e económica – internacional, profunda e
abrangente -, como já não se via desde os anos da década de Trinta do século
passado. Trata-se de uma crise, cuja intensidade já lançou milhões e milhões de
pessoas no desemprego, milhões e milhões de novos pobres espalhados pelo mundo
inteiro;
de novos medos, novos
perigos e ameaças ao redor do mundo – do terrorismo transnacional, do tráfico
de armas e de estupefacientes, de assustadoras tensões inter-religiosas com
narrativas que testemunham desfechos muitas vezes sangrentos;
do regresso brutal aos
tempos modernos da pirataria antiga, não apenas ao largo da Somália, mas também
ao Golfo da Guiné – ameaçando rotas importantes que encaminham o petróleo para
a economia mundial, criando insegurança à marinha mercante internacional, favorecendo
a pesca ilícita e todo o tipo de tráfico ilegal que é processado por via
marítima – de armas, de seres humanos, de substâncias psicotrópicas;
da persistência de
focos de violência interétnica, com registos de enorme sofrimento humano,
de manchas aqui e acolá de desastres
humanitários inimagináveis.
Senhor Presidente da Assembleia Geral,
Senhor Secretário
Geral,
Distintos
representantes das Nações do Mundo
Eu venho de um pequeno
país, situado no extremo-ocidental da costa de África, um país pobre, mas que
não perdeu a esperança de construir, na paz, o progresso a que tem direito.
Acabamos de celebrar,
há dois dias apenas, o quadragésimo aniversário da nossa independência nacional
– 24 Setembro de 1973 – 24 de Setembro de 2013 – ocasião propícia para, à
Vossas Excelências, reafirmar o seguinte: tal como durante toda a sua luta
armada de libertação nacional, o povo que estou a representar acreditou nas
Nações Unidas, também hoje o povo do meu país reitera que essa sua crença
antiga se mantém, e se reforça cada vez mais.
Conquistamos a nossa
independência nacional em 1973. De facto, não a recebemos de ninguém. Mas ela
só foi possível pela conjugação da solidariedade internacional efectiva de
alguns e, finalmente, pelo reconhecimento de todos.
A todos, sem nenhuma
excepção, quero em nome da Guiné-Bissau transmitir o sentimento da nossa
gratidão eterna, declarar a nossa vontade firme de reforçar laços antigos de
amizade, assegurar a nossa disponibilidade para, apesar de tantas vicissitudes,
reconstruir as fundações de solidariedade que no passado ligaram nossos povos.
Senhor Presidente da Assembleia Geral,
Senhor Secretário
Geral,
Distintos
representantes das Nações do Mundo
A pessoa que Vos fala neste preciso momento,
subiu a esta tribuna para pedir a vossa paciência, solicitar a vossa
compreensão, esperar a vossa solidariedade, alguém que acredita que
manifestações de generosidade não são de todo incompatíveis com a fria
racionalidade das relações entre Estados soberanos.
Sou Presidente da
República de Transição da Guiné-Bissau e, essa designação, como Vossas
Excelências bem sabem, transmite algo que é particular, que é excepcional.
Com efeito, os
acontecimentos político-militares de 12 de Abril de 2012 criaram uma conjuntura
política nova no meu país. Um golpe militar tinha deposto um Presidente da
República Interino, e um primeiro-ministro auto-suspenso e lançado numa
campanha eleitoral inconclusiva para a presidência da República. Perante uma
tal situação, perguntamos, então, que fazer?
Desde logo, várias
opções em aberto se punham. Felizmente, a melhor das opções disponíveis na
altura, do nosso ponto de vista, é aquela que viria a prevalecer.
Foi possível prevenir
derrapagens políticas que, caso tivessem tomado corpo e consistência, o meu
país teria entrado numa aventura político-militar de consequências
imprevisíveis e, certamente, muito mais graves do que aquelas que, mesmo assim,
tivemos de enfrentar e, de certa maneira, ainda estamos a enfrentar.
Foi preciso, pois,
circunscrever a dinâmica do golpe militar, controlar os seus efeitos políticos,
limitar o seu alcance institucional, e, como se tudo isso não bastasse, tivemos
de lidar com duas tomadas de posição contrapostas que se manifestaram quer na
frente interna, quer externamente.
Uma delas mostrava-se
muito embaraçosa tendo em vista o retorno pacífico à normalidade constitucional
no meu país; e a outra – muito mais realista, portanto, bem mais promissora do
ponto de vista do restabelecimento progressivo da ordem constitucional.
Tivemos de lidar com
essa, digamos assim, primeira tomada de posição, a um tempo, curiosa e
dramática. De gente que preferia para a Guiné-Bissau a pior das situações
possíveis, e sabem Vossas Excelências por quê? A resposta é esta: apostaram na
degradação da situação política no meu país de modo a justificar suas teses,
confirmar seus prognósticos, operacionalizar seus conceitos políticos de
resolução da crise na Guiné-Bissau. De facto, tentaram por todos os meios
aplicar a fórmula de “quanto pior fosse para a Guiné-Bissau, tanto melhor”.
Sim, tanto melhor seria efectivamente, mas apenas para os seus interesses. Com
essa posição radicalizada, realmente conseguiram atingir quase todas as cordas
sensíveis de um povo humilde, mas que dificilmente aceita humilhar-se perante
seja quem for.
Somos uma democracia, é
verdade, não obstante todos os defeitos, todas as violações da razão
democrática do Estado, tantos desvios que nós somos os primeiros a reconhecer.
Mas é bom não esquecer
que, primeiro, nós somos um Estado que nasceu depois de “séculos de dor e de
esperança”, de uma dura e vitoriosa luta pela independência nacional e, isso,
também conta muito na determinação dos valores políticos a defender.
Para viabilizar a
segunda das opções que estavam em cima da mesa, pudemos contar com o realismo e
pronta solidariedade da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO). Bem acompanhada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, a
CEDEAO assumiu todas as suas responsabilidades na gestão do acordado Período de
Transição, tendo sido constituído para esse efeito, uma reduzida missão militar
de estabilização – abreviadamente chamada ECOMIB.
No plano
político-constitucional, o parlamento eleito pelo povo guineense – que é a
nossa Assembleia Nacional Popular -, manteve-se de pé e, dessa maneira,
conseguiu-se dotar a Transição Política de uma base institucional legítima e
legitimadora, até porque a Constituição da República não tinha sido declarado
suspensa.
Senhor Presidente
Senhor Secretário Geral
Minhas Senhoras e meus
Senhores
Foi assim que o
Presidente da República de Transição surgiu. Não veio propriamente de um golpe
militar. Veio, isso sim, de um Parlamento eleito, portanto, de um processo
políticos institucionais, o que bem vistas as coisas, faz muita diferença.
Na minha pessoa estavam
reunidas a condição de deputado nacional eleito sucessivamente durante quatro
legislaturas, e, também a condição de primeiro vice-presidente daquele órgão de
soberania -, enfim, passe a imodéstia, eu sou um democrata por convicção
amadurecida, que nunca foi golpista, nem mandante de acções golpistas.
Com efeito, com o
empolamento do Presidente da República de Transição dera-se início ao processo
de Transição Política bem entendido.
Passado algum tempo, o
parlamento eleito aprovou um Pacto de Transição e o respectivo Acordo Político
revistos, assim como aprovaria depois o Programa e o Orçamento Geral do Estado
de um Governo de base política alargada que, na minha qualidade de Presidente
da República de Transição, nomeei e dei posse por decreto presidencial.
Com esses passos que
foram dados, a Transição Política, de facto, entrou no bom caminho. O que resta
– e não é pouco – é garantir o financiamento de um processo eleitoral que se
quer eficaz e transparente, cujo pressuposto base é, como se sabe, o
estabelecimento de cadernos eleitorais fiáveis, algo que só se consegue por via
de um bom recenseamento ou registo eleitoral. É este o ponto de situação da
Transição política na Guiné-Bissau.
Minhas Senhoras, meus
senhores,
A Guiné-Bissau é vítima
de dois males dramaticamente interligados: a pobreza e a instabilidade
política. Na verdade, a pobreza cria, numa sociedade como a do meu país, a
propensão para a instabilidade política; da mesma maneira que a instabilidade
política, pelo impacto que tem na ordem económica, afecta negativamente o
desempenho económico do país, fazendo, assim, cair as taxas de crescimento e,
por consequência, fazendo subir também os índices de pobreza.
Os desafios que temos
pela frente consistem precisamente em sair dessas duas armadilhas – a armadilha
da pobreza e a armadilha da instabilidade política.
É um desafio cuja
equação, como é óbvio, ultrapassa largamente as metas deste período excepcional
de Transição Política. Por isso não vamos estender-nos muito nesse aspecto.
Tendo em vista esse
enorme passivo económico e político ainda não ultrapassado, cumprir, no prazo
que foi estipulado, as metas inscritas nos Objectivos do Desenvolvimento do
Milénio, é algo que realmente está fora do nosso alcance, pelo menos, nos
próximos tempos.
Mas ter de reconhecer
isso, não significa que o governo, a sociedade civil e, em geral, os parceiros
bi e multilaterais de desenvolvimento da Guiné-Bissau – entre os quais se
destacam as agências especializadas das Nações Unidas -, se tenham desistido do
esforço, antes pelo contrário.
Na Educação, na Saúde,
nas políticas de igualdade de Género, na luta contra a Pobreza, nas políticas
de Ambiente viradas para o Desenvolvimento Sustentável, etc. O país tem
registado progressos moderados, contudo, que ficaram bastante aquém dos níveis
satisfatórios.
Minhas Senhoras, meus
senhores
O Estado guineense não
é, e nunca foi alheio à evolução da conjuntura política internacional, nunca
foi indiferente às esperanças e sofrimentos dos povos do mundo.
Neste registo, somos em
África profundamente solidários com os nossos irmãos da CEDEAO. Desejamos os
melhores sucessos ao povo do Mali, que acaba de dar provas de grande
maturidade, acorrendo com civismo às urnas nas recentes eleições gerais que
marcaram o fim do período de Transição Política e, ao mesmo tempo, deram um
sinal forte de reconciliação nacional e do início de reconstrução de um país
dilacerado por imediatismos inaceitáveis.
Aproveitamos esta
ocasião para felicitar a França pelo papel crucial que desempenhou, garantindo,
asim, a salvaguarda da integridade do território maliano, base de soberania
nacional do povo do Mali.
Repudiamos os ataques
terroristas na Nigéria e no Quénia, animados por um radicalismo que tem
provocado tantas vítimas em nome da intolerância religiosa e, nesta
circunstância, queremos manifestar toda a nossa solidariedade aos povos irmãos
da Nigéria e do Quénia, aos Presidentes Johnatan Goodluck e Uhuru Kenyatta, aos
seus Governos e aos familiares das vítimas.
Fazemos votos para que
na vizinha República da Guiné o processo eleitoral possa ser concluído com
êxito e, assim, ver aberto o caminho de uma autêntica reconciliação nacional
naquele país irmão.
No Egipto e na
martirizada Síria esperamos que o diálogo e a diplomacia prevaleçam sobre a via
da força, e, deste modo, se possa evitar o sacrifício de tantas vidas humanas.
No Médio Oriente
continuamos a defender com a mesma convicção de sempre a causa Palestiniana.
Consideramos ser de importância crucial para o povo palestiniano e, em geral,
para a estabilidade política e consolidação da Paz no mundo árabe, o avanço das
negociações entre a Autoridade Palestiniana e o Estado de Israel tendo em vista
a criação de um Estado Palestiniano soberano de acordo com as Resoluções
pertinentes das Nações Unidas.
Na Europa, uma palavra
especial à França que nunca nos deixou, e que contínua bem presente na busca
das melhores via para ajudar a Guiné-Bissau a vencer a sua crise política. E ao
Reino de Espanha cuja presença do seu embaixador entre nós tem sido muito
importante para os nossos esforços de normalização política.
Timor amigo, um pequeno
país do espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) tem
demonstrado um notável espírito de cooperação com o meu país, numa demonstração
que, realmente, é nos momentos mais difíceis que os amigos se conhecem.
As autoridades de Timor
perceberam uma coisa muito simples, e que é esta: apoiar um processo
institucional de normalização política não é a mesma coisa que apoiar um golpe
militar, antes pelo contrário. Muito obrigado Senhor Presidente Matan Ruak,
muito obrigado senhor Primeiro-Ministro Xanana Gusmão.
Aproveito, pois, esta
ocasião para agradecer ao ex-presidente timorense José Ramos Horta, laureado
com o Prémio Nobel da Paz e Representante Especial doSecretário-geral das
Nações Unidas por tudo o que tem feito pela Guiné-Bissau e pelo seu povo.
Com a Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa esperamos um dia – e que esse dia seja para breve –
ver restabelecida a plena normalidade das nossas relações que é do interesse
dos nossos povos e do nosso Estados soberanos.
Em relação à Cuba
defendemos, como sempre, o fim do embargo que já dura décadas, o avanço das
reformas em curso nesse país amigo ao qual nos ligam tantos e profundos laços
de amizade e de solidariedade.
Na Ásia, queremos
manifestar a nossa profunda gratidão à República Popular da China, pela
dimensão e intensidade da cooperação que desenvolve com o meu país. Os frutos
dessa cooperação – nomeadamente no domínio da construção de importantes
edifícios públicos – passarão à história como marcos indeléveis de uma amizade
que vem desde os tempos da nossa luta armada de libertação nacional.
À Sua Excelência
Alassane Ouatarra, Presidente da República da Costa de Marfim e presidente em
exercício da CEDEAO e à Sua Excelência Johnathan Goodluck, Presidente da
República Federativa da Nigéria e Presidente do Grupo de Contacto para a
Guiné-Bissau vão os profundos agradecimentos do povo guineense, agradecimentos
que estendo a todos os Chefes de Estado e Chefes de Governo dos países-membros
da CEDEAO.
A GUINÉ - BISSAU E SEU GLORIOSO POVO, MAIS UMA VEZ, ESTÁ DE PARABÉNS POR TUDO... ! E ATENÇAO ! CAROS COMPATRIOTAS , A REPÚBLICA DA GUINÉ - BISSAU É A SOMA DOS INTERESSES DE TODOS OS GUINEENSES E NAO DOS INTERESSES DE UM GRUPO OU DE GRUPOS DE GUINEENSES. VIVA PÁTRIA AMADA !
ResponderEliminarViva,irmao cedeao vense CPlp por 01 a 00 cplp sica com vergonha de falar sobre Guine Bissau por ter mentir tempo tudo iPokritas do cplp.intelectuais do cedeao venseu porque tem bom politica de unir os Guinense nao de ceparar ceparar e o politica de cplp que so quer Carlos Gomes Junior. Tony Nacassa.
ResponderEliminarGuiné-Bissau com milhares de problemas pendentes... O nosso fantoche "Presidente" resumiu o seu discurso a bajulação e agradecimentos.
ResponderEliminarQue Deus tenha piedade de nós.