No publico
Nas comemorações da implantação da República,
Presidente renova apelo ao compromisso e reconhece insatisfação dos portugueses
com a democracia.
Cavaco Silva renovou este domingo, nas comemorações
do 104º aniversário da implantação da República, o apelo ao compromisso na vida
política e reconheceu a insatisfação dos portugueses com a democracia.
O Presidente lamentou o incumprimento das promessas
feitas, enquanto o presidente da câmara de Lisboa colocou o municipalismo como
pedra angular da reforma do Estado. Horas antes de participar no I Congresso do
Livre, António Costa recordou o diálogo democrático que, na capital, permitiu o
acordo para a reforma administrativa das freguesias.
“Como tenho referido em várias ocasiões, só através
de uma cultura de compromisso poderemos alcançar a indispensável estabilidade
governativa”, disse Cavaco no salão nobre dos Paços do Concelho perante António
Costa e o primeiro-ministro, Passos Coelho. “Se a existência de uma cultura de
compromisso entre os agentes políticos e económicos, entre os decisores
públicos e os parceiros sociais, sempre foi importante para a consolidação e a
qualidade da nossa democracia, ela configura-se como indispensável nos tempos
adversos que vivemos”, disse o Presidente da República.
Esta urgência advém de um facto: “Os portugueses são
dos povos da União Europeia que demonstram maiores níveis de insatisfação com o
regime em que vivem”. O que levou Cavaco, embora com a prudência de marcar
diferenças entre a Iª República e o actual momento político, a admitir a
“implosão do sistema partidário português tal como o conhecemos”.
Na origem da desconfiança, segundo Cavaco Silva,
estão diversos factores. Das dificuldades actuais – “Portugal ainda sente os
efeitos de uma das mais graves crises que teve de enfrentar nas últimas
décadas” – às promessas incumpridas que levaram “à falta de confiança nas
instituições”, passando pela necessidade de reforma do sistema político.
Neste campo, Cavaco destacou o desprestígio que a
actividade pública suscita na sociedade – “passa a ser vista como um sinal de
carreirismo e de oportunismo associado, com frequência, a um percurso de vida
inteiramente situado no seio dos partidos” -, o bloqueio pelos aparelhos
partidários e a tendência para a demagogia e o populismo.
De acordo com o Presidente, tais males devem ser contrariados
pelo aprofundamento da qualidade da democracia, na qual englobou a reforma do
sistema eleitoral. O mesmo tema que António José Seguro lançou há semanas para
debate e que, depois da vitória de António Costa nas primárias do PS, foi por
este retirado da agenda política imediata.
Contudo, houve uma curiosa proximidade nos discursos
de Cavaco Silva e Costa. De Belém, veio o renovar do apelo ao compromisso. Do
município, um exemplo prático do valor do diálogo: a reforma das freguesias.
“Demonstrámos, em Lisboa, ser possível racionalizar a nossa organização
administrativa, aproximando o poder das pessoas e dos problemas”, disse o
presidente da câmara.
O autarca, que considera o municipalismo a pedra
angular da reforma do Estado e a descentralização administrativa o seu
utensílio por excelência, destacou a pluralidade como característica do poder
local. E anunciou para 2016, ou seja após as próximas legislativas e do seu
embate eleitoral com Passos Coelho, a evocação, em Lisboa, dos primeiros passos
até às primeiras eleições autárquicas de 1976. Iniciativa na qual participam
todos os antigos presidentes do município: Jorge Sampaio, João Soares, Pedro
Santana Lopes e António Carmona Rodrigues.
Costa promete feriados e descentralização
Se as intervenções de Costa nas três últimas
comemorações do 5 de Outubro tiveram claras referências programáticas – não
subalternizar a democracia ao combate à crise, crítica à teoria do “bom aluno”
na Europa e a crise como oportunidade de renovação -, as palavras de ontem
tiveram outro objectivo.
Há referências gerais a tarefas – “construir um
futuro melhor, mais digno, mais decente para todos os portugueses” – e até a
reivindicação do restabelecimento dos feriados de 5 de Outubro e 1º de Dezembro
que suscitou aplausos nos Paços do Concelho para além dos de cortesia e de
circunstância.
O que a classe política, com forte representação
socialista, os detentores de cargos públicos e o corpo diplomático ouviram foi
o relato de um sucesso. A reforma administrativa da capital feita através do
diálogo. Obra realizada apesar da vigência de uma norma - “Portugal é dos
países da União Europeia com menor grau de descentralização.”
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