
ONU
–
O seu governo completou 100 dias em funções. No ato de posse, afirmou que um
programa de emergência seria lançado para resolver os problemas mais urgentes
que afectam o país. Qual é o estado da implementação do programa? O que foi
implementado até agora?
Domingos
Simões Pereira (DSP) – Em primeiro lugar, obrigado pela
iniciativa das Nações Unidas, que proporciona um elo de comunicação com a
população guineense em particular e com a sociedade em geral. É um contributo
importante para o processo de diálogo interno.
De facto, o governo tomou posse
consciente de que havia a necessidade de atacar os assuntos mais prementes,
porque temos a consciência clara de que o desenvolvimento tem que ser
programado, deve resultar do investimento. Mas em relação às pessoas que têm
fome, às que não têm educação e as que sentem problemas de saúde graves, se não
formos capazes de aliar uma visão de médio e longo prazo com ações concretas no
imediato, visando aliviar as carências, então poderemos ter dificuldade em
gerar consensos internos. Portanto, delineámos um programa de emergência. Todos
os setores da atividade pública foram convidados a participar e orientados para
apresentarem prioridades para o programa de emergência, nomeadamente a
regularização dos salários em atraso, o ano escolar, a saúde pública, com a
prevenção das epidemias de cólera e do Ébola, a agricultura, num ano difícil
pela escassez de chuva e a sua má distribuição no território.
E é com satisfação que faço uma
avaliação positiva. Obviamente, sempre será possível fazer melhor, mas pensamos
que, no essencial, fomos capazes de implementar a parte substancial dos grandes
objetivos fixados.
Atualmente, não há salários em atraso
referentes a 2014. Pensamos que as pessoas estão a acompanhar os esforços
desenvolvidos pelo governo. Os outros, que remontam mais atrás, veremos, aos
poucos, como os equacionar.
ONU
–
Um dos lemas orientadores do seu governo é o “virar de página” das antigas disputas
fratricidas e fomentar o diálogo tendo como ponto central a consolidação da
democracia na Guiné-Bissau. Neste sentido, pretende lançar o “Programa de
Diálogo Nacional” para promover a paz e a reconciliação. Pode falar desse
programa? Como está relacionado com a Comissão de Reconciliação liderada pela
ANP?
DSP:
A constatação que faço é a de que a sociedade precisa de diálogo. Não quero
chamar a mim a competência de promover o diálogo. O que estou a afirmar é a
disponibilidade para participar no diálogo e utilizar os espaços de contato que
tenho com a comunidade internacional para pedir apoio. Para dialogar é muito
importante ter a vontade, mas não é suficiente. É preciso saber dialogar. E
quando falamos de diálogo nacional a favor da reconciliação é preciso que a
facilitação do diálogo seja feita por pessoas neutrais. Devem ser pessoas com
competência para promover o diálogo. No fundo, falamos da necessidade de
diálogo porque reconhecemos poder haver interesses não conciliáveis, ou
dificuldade em conciliar o nosso interesse. E, ao falar de interesses, podemos
citar um exemplo: a distribuição da riqueza interna. Para distribuir a riqueza
interna num contexto de escassez, quando não chega para toda a gente, a maior
dificuldade é criar critérios que convençam todos os cidadãos de que cada um
recebeu a sua parte. Depois de mais de uma década de instabilidade, transições,
arranjos, partilhas, reconheço que o problema não se deverá exclusivamente à
fragilidade das instituições democráticas, porque há muitos interesses
instalados. Existem muitas situações de acomodação. Não podemos quebrar isso
num dia, com leis, reformas administrativas. Garanto que não vou para casa
dormir tranquilo só porque a lei me dá o direito de tomar decisões.
É importante sermos capazes de
transmitir intenções, de ouvir a opinião de quem está do outro lado, de tentar,
na medida do possível, enquadrar a sua preocupação na nossa lista de
prioridades. Mas é mais fácil dizer do que fazer. Por isso, é preciso
reconhecer que precisamos de ajuda de quem tem mais experiencia em promover o
diálogo, precisamos do apoio de pessoas neutrais. Eu continuarei disponível
para ser parte do diálogo e dar a minha contribuição no sentido de encontrar um
ponto de equilíbrio. Se, nalgum momento, a definição de democracia faz sentido,
é hoje na Guiné-Bissau. De facto, o que legitima o poder é a maioria, mas o que
legitima a democracia é quando somos capazes de tomar em consideração o
interesse da minoria. E, muitas das vezes, é aqui que está a dificuldade. Porque
quem aprova os atos é a maioria. Mas, como conseguir, com a aprovação dos atos
pela maioria, tomar em conta os interesses da minoria? Aí é que está a
sensibilidade do exercício democrático.
ONU
– A Constituição foi redigida no rescaldo da luta de libertação e praticamente
não sofreu alteração desde a sua aprovação. O senhor disse que a reforma
constitucional poderia ser implementada durante esta legislatura. Na sua
opinião, quais são as questões que, na Constituição, exigiriam uma atualização?
DSP
- Este é um assunto que também tem potencial para polémica. Sempre defini que a
lei é um instrumento para orientar e disciplinar as relações. O que acaba por
definir a qualidade das relações é a disponibilidade para chegar a
compromissos. Ora, muitas das vezes, em sociedades como a nossa, quando surgem
dificuldades as pessoas têm tendência a imputar responsabilidades à legislação.
Se as coisas não correm bem, não são os homens culpados, mas sim a lei. Quer
dizer, teríamos de fazer uma lei tão perfeita que dispensaria a necessidade de
diálogo e compromisso.
Neste momento, muitas pessoas afirmam
que na Guiné-Bissau o problema é a Constituição, que não cria condições para as
pessoas se entenderem. E não vêem que esta mesma Constituição funciona noutros
países em que as pessoas se entendem.
Os homens não podem esperar que seja a
Constituição a resolver os seus problemas, têm que ser capazes de dialogar e
chegar ao compromisso. O compromisso vai permitir que a sua relação seja boa,
mesmo que o queiram expressar através da lei. Este é um aspeto importante. A
elaboração das leis, ou mesmo a revisão constitucional, é tida como uma questão
para juristas. Os juristas – dizem – devem analisar a lei fundamental e fazer a
sua reformulação de forma a conseguir um documento melhor. Mas a minha
interpretação é diferente. Na minha análise, a revisão de uma lei tão
fundamental não é por aí que deve começar. Antes, deve começar por se perguntar
o que queremos na verdade. Quais são as opções que realmente temos. Quando
estamos perante grandes assuntos e decidirmos o que queremos, e somos capazes
de criar consensos à volta do que queremos, a seguir chamamos os juristas e
solicitamos que escrevam conforme a nossa escolha e não ao contrário, então
iniciamos um processo de auscultação desde a base para a revisão de todos os
instrumentos. Devemos ir à base ouvir a população, escutar o que tem a dizer e
analisar tudo para estabelecer consensos. Se obtivermos consensos acerca do
sistema político que pretendemos, sobre a lei eleitoral que desejamos, sobre a
forma do poder e inclusão que queremos, será fácil depois juntar um grupo de
juristas para redigirem o texto acordado. Mas, se pedirmos a essas pessoas para
se sentarem e escreverem sem escutar o povo, descobriremos que a lei será
sempre insuficiente.
ONU
–
As Nações Unidas, através do UNIOGBIS e das suas agências especializadas
marcaram presença na Guiné-Bissau nos momentos mais difíceis da sua história
recente. Como descreveria o seu engajamento com a organização? Como é que as
Nações Unidas poderiam ajudar o seu governo e onde gostaria de ver um maior
apoio da organização?
DSP
- Eu sempre afirmei, tanto nas Nações Unidas, como em pronunciamentos públicos
que, se por um lado a Guiné-Bissau é conhecida pela grande Luta de Libertação
Nacional que foi capaz de desenvolver, por outro lado é preciso lembrar sempre
que a nossa independência se consumou sobretudo por causa da vitória no campo
diplomático. Foi nas Nações Unidas que Amílcar Cabral foi capaz de surpreender
o mundo com uma visão bastante mais progressista, para a altura, do que a
potencia colonial. Isso é que estabeleceu a vitória do movimento que ele
liderava e que veio a dar lugar à independência. As Nações Unidas são o espaço
internacional de maior dimensão e importância na resolução dos conflitos
internacionais. Há muito tempo que os países investem na credibilidade junto
das Nações Unidas para poderem fazerem valer os seus interesses nos planos
interno e externo. Não existe nenhuma organização internacional de caráter
bilateral, ou multilateral, que não valide a sua existência através das Nações
Unidas.
Na Guiné-Bissau, as Nações Unidas sempre
estiveram mobilizadas e nos acompanharam. Estive há pouco tempo em Nova Iorque
e tive três momentos particularmente importantes: no Grupo Internacional de
Contato, no Conselho de Segurança das Nações Unidas e no Comité de Consolidação
da Paz.
E, em cada um desses momentos, encontrei
amigos históricos da Guiné-Bissau, parceiros bilaterais e multilaterais. Penso
que não há forma mais relevante para a comunidade internacional de demonstrar a
sua solidariedade para com a Guiné-Bissau. E disse que as dificuldades que
estamos a enfrentar me levam a pensar que seria bom reforçar a capacidade das
nossas estruturas, dos órgãos de soberania. Quando afirmamos que se devem criar
consensos, é bom termos estruturas que facilitem o processo de diálogo para se
chegar a um consenso. Propus que seria bom as Nações Unidas colocarem à
disposição dos nossos órgãos de soberania um conjunto de competências para ajudar
a interpretar e promover o entendimento, por um lado, e por outro, o diálogo
nacional.
O diálogo nacional não pode ser visto
como uma conferência que vamos realizar e em que todos os problemas serão
resolvidos. A expressão mais evidente do nosso conflito é quando desemboca nas
armas. Mas não está aí a raiz dos problemas. Os problemas começam na justiça,
ou na justa remuneração para o trabalho
As Nações Unidas estão muito bem
posicionadas para congregar todos os atores e mostrar o que é importante, que
de facto haja um entendimento em relação aos objetivos fixados, não conhecem
apenas a teoria da paz e estabilidade, conhece a prática que implementa em
vários países. E podem realmente ajudar. Eu afirmei isto mesmo no último
encontro que tive na organização. A Guiné-Bissau deve evitar ser um fator de
separação da comunidade internacional. Nós precisamos de toda a comunidade
internacional, devemos fixar os nossos objetivos, defender os nossos interesses
e procurar implementar essas metas através da unidade da comunidade
internacional, e não o contrário.
ONU
– Além dos encontros que teve em Nova Iorque, também viajou a outros países
para explicar o plano do governo e preparar a mesa redonda com os parceiros
internacionais. Que balanço faz dessas deslocações?
DSP:
Extremamente positivo. Estivemos no Gana, onde apresentámos à Presidência da
CEDEAO as grandes linhas da nossa Visão Estratégica. A forma como fomos
recebidos, os encontros que mantivemos mostram que o Gana será o advogado da
Guiné-Bissau em nome da CEDEAO, (para transmitir a nossa Visão Estratégica). O
mesmo ocorreu na reunião do Grupo Internacional de Contato, em Nova Iorque. A
ministra dos Negócios Estrangeiros do Gana e o ministro dos Negócios
Estrangeiros de Timor-Leste, em representação respetivamente da CEDEAO e da
CPLP, fizeram uma advocacia tão positiva em relação a Guiné-Bissau que, em
alguns momentos, foi dispensável ser a própria Guiné-Bissau a fazê-lo.
Depois, os ministros dos Negócios
Estrangeiros da CPLP tiveram uma reunião em Bissau e aprovaram uma resolução
que demonstrou o alinhamento da comunidade com os apoios possíveis de mobilizar
para o país. Em Portugal tivemos encontros não só com empresários, mas também
com as autoridades, na presença do diretor-geral da Comissão Europeia. Ficou
claro que, cada vez mais, as pessoas estão a compreender melhor onde é que
queremos ir. Nós é que temos que dizer qual é a nossa visão do médio e longo
prazo.
Dois outros momentos foram importantes:
à margem da Cimeira da CPLP, em Díli, tivemos encontros não só com as
autoridades de Timor-Leste, como estas nos facilitaram um encontro com o
governo de Singapura. Foi um momento extraordinário de partilha. Finalmente, em
Cuba, aproveitámos a estada para nos encontrarmos com todos os embaixadores dos
países africanos acreditados em Havana. E o testemunho sobre a perceção que os
seus respetivos países têm hoje da Guiné-Bissau convence de que a nossa
mensagem está a passar. Esta tem de ser a nossa forma de estar na vida, temos
que manter este clima de estabilidade, temos que dar sinais de que estamos a entender-nos.
Eu, enquanto chefe do governo, gostaria de frisar que tudo farei para mostrar o
quanto me esforço para nos entendermos uns aos outros.
Caso
Botché Candé
O ministro da Administração Interna,
Botché Candé, pediu a demissão. Foi a primeira remodelação do executivo e o
caso teve amplo eco nos meios de comunicação social.
ONU
– Pode explicar as circunstâncias desta demissão?
DSP:
Sabe, a governação vive não só de factos, mas também da imagem. No momento da
exoneração do ministro Botché Candé fizemos uma avaliação muito positiva do seu
desempenho. Contudo, reconhecemos de que foi alvo de uma exposição que não
beneficiou nem a sua imagem, nem a do país.
O fato de os órgãos de comunicação
social terem retratado o seu encontro com uma força identificada com a rebelião
foi interpretado como não abonatório para a nossa imagem enquanto país e para a
nossa relação com o vizinho Senegal.
O ministro Botché Candé tomou parte na
reunião do Conselho Superior de Defesa, convocada para o efeito pelo Presidente
da República, que entendeu, face às circunstâncias, dever ser o lugar posto à
disposição para, assim, facilitar a resolução do incidente e a normalização das
relações com o Senegal.
Botché Candé era um membro muito
importante do governo, mas o país está em primeiro lugar e era necessário tomar
uma medida para mostrar a imagem da plena soberania, com seriedade e
determinação, criando condições favoráveis a um relacionamento positivo não só
ao nível interno, mas também com o vizinho Senegal.
Victor Abilio Fonseca Nhaga MI ENTENDER LA DEMOCRACIAS , Y PARA QUE HAYA PAZ EN GUINÉ-BISSAU,ES NECESARIO QUE HAYA UN ESTADO DE DERECHO DE VERDAD. EL ESTADO DE DERECHO CONSISTE EN QUE TANTO PODERES PÚBLICOS Y LOS CUIDADNOS QUE ESTÉN TODOS SUJETOS LA CONSTITUCIÓN Y LAS LEYES. Sr PRIMERO MINISTRO LE RECUERDO ALGO MUY IMPORTANTE, AMILCAR CABRAL RECONQUISTADOR DE NUESTRA IDENTIDAD COMO GUINÉENSES, JUNTOS CON NUESTROS PADRES ,TÍOS HERMANOS, LUCHARON PARA SEGUINTES VALORES " CULTURA,PROSPERIDAD, PAZ DESARROLLO", Y PARA QUE SEAMOS EDUCADOS, Y NO PARA QUE HAYAS TANTAS MEZQUITAS POR TODAS LOS RINCONES DE GUINÉ-BISSAU. Y LOS MUSULANOS JAMAS SON PERSONAS DE DIALOGAR. LE DIRÉ SOBRE LA REVIOCIÓN DE LA COSNTITUCIÓN,HAY QUE TENER EN CUENTA NUESTRAS TRADICÍONES Y COSTUMES, Y QUE LAS RELIGIONES NUNCA FORMEN PARTE DE NUESTRA CONVIVENCIA , O QUE PUEDE ESTAR POR ENCIMA DE NUESTRAS TRADICIONES Y COSTUMES ETNICAS. FUERA LAS REGILIONES DE GUINÉ-BISSAU
ResponderEliminarMinha opinião a democracias, e para que haja paz na guiné - bissau, é necessário que hayaun Estado de direito de verdade. O estado de direito é que tanto poderes públicos e os cuidadnos que estejam todos sujeitos a constitucióny As leis. Senhor primeiro ministro recordo algo muito importante, amilcar cabral reconquistador da nossa identidade como guinéenses, juntoscon Os nossos pais, tíos irmãos, lutaram para siguientes valores' cultura, prosperidade, paz desenvolvimento', E para que sejamos educados, e não para que você já tantas mesquitas por todos os cantos de guiné- Guiné-bissau. E os musulanos nunca são pessoas de dialogar. Direi sobre a revioción da cosntitución, há que ter em conta as nossas tradicíones e costumbres,y Que as religiões nunca façam parte da nossa vida, ou que pode estar acima das nossas tradicionesy Costumbres etnicas. Fora as regiliones de guiné - bissau