O centro especializado de tratamento da
doença de tuberculose na Guiné-Bissau “Raoul Follereau” registou entre os meses
de Janeiro a Março último, dezasseis (16) óbitos. Os técnicos do hospital
alegam que o aumento do número de óbitos deve-se a chegada tardia de doentes,
isto é, os doentes chegam aos seus serviços na fase muito avançada da doença.
Uma fonte do hospital que pediu
anonimato confidenciou ao nosso semanário que o aumento do número de óbitos
naquele hospital de pneumologia tem a ver com a falta de assistência médica e
medicamentosa que se começou a sentir, desde a expulsão pelas autoridades do
país, da ONG Associação Internacional de Ajuda Saúde e Desenvolvimento (AHEAD –
ONLUS).
“O Democrata” soube que o hospital tem a
capacidade de internamento de 106 camas, mas de momento conta com 89 pessoas
que estão internadas no hospital: 39 homens, 32 mulheres e 18 crianças.
Comemorou-se recentemente a jornada mundial de luta contra a tuberculose no
país e as autoridades passaram a mensagem à população guineense sobre os
esforços empreendidos para o combate à doença.
No terreno, a realidade que se descreve
é de dificuldades em que se encontra este maior centro de tratamento da
tuberculose na Guiné-Bissau. O Hospital “Raoul Follereau”, que era considerado
um dos melhores centros de tratamento e cura da tuberculose na sub-região,
encontra-se neste momento a enfrentar grandes dificuldades, por falta de
capacidade financeira da parte das autoridades sanitárias de assumirem as
despesas que outrora eram assumidas pela organização italiana AHEAD.
De acordo com informações apuradas,
actualmente, o Ministério da Saúde Pública não consegue assumir todas as
despesas que a organização italiana cobria, designadamente a alimentação de
qualidade e assistência médica e medicamentosa para os doentes. Os pacientes
ouvidos pela nossa reportagem alegam que a comida oferecida não tem qualidade e
não só, como também não é suficiente e às vezes as refeições chegam muito
tarde.
Alguns doentes afirmaram que mandam
buscar refeições de casa, a fim de poderem alimentar-se bem. Relataram a “O
Democrata” que neste momento deixaram de tomar lanche, isto é, deixaram de ter
quatro refeições por dia como acontecia.
Lamentaram igualmente o facto de agora
serem obrigados a comprar os medicamentos. Assim, os doentes que não têm
condições financeiras ficam com as receitas médicas até os familiares
conseguirem dinheiro e muitas vezes isso leva mais de três dias. Consideram de
muito grave um paciente com tuberculose ficar sem tomar os respectivos
remédios.
MINISTÉRIO
DA SAÚDE ESTÁ A MATAR PESSOAS DEVIDO A DECISÃO DE EXPULSAR A AHEAD
Uma enfermeira que trabalha no hospital
contou à nossa reportagem que aquilo que o Ministério da Saúde está a fazer, é
matar as pessoas no hospital, devido à decisão tomada de expulsar a AHEAD que
ajudava o povo. Acrescentou ainda que as autoridades decidiram tirar a
organização italiana, mas não fizeram nada para cuidar do hospital e assumirem
na totalidade as despesas, ou melhor, trazer outro parceiro para fazer o mesmo
papel da AHEAD.
Esta funcionária revelou ainda à nossa
reportagem que se nota o aumento de casos de infeção por tuberculose a cada dia
que passa no país, sobretudo no hospital, porque o número de consultas e
tratamento aumentou. A nossa fonte explicou que actualmente o hospital depara-se
com dificuldades de vária ordem, sobretudo no serviço de consulta que já não
conta com alguns pequenos serviços.
A funcionária frisou ainda que deixou-se
de fazer análises do sangue e “raio x” no hospital, sendo os pacientes enviados
para outros centros hospitalares. A fonte contou que a única análise que ainda
se faz no hospital é a de “BK – catar”.
Segundo a nossa fonte, os doentes
internados são obrigados a comprar os medicamentos para poderem ser tratados e
os que não têm dinheiro levam até uma semana para que a família consiga
dinheiro e comprar o medicamento. A fonte lembra ainda que no período em que a
organização AHEAD geria o hospital, a organização tomava conta de todos os
serviços e não cobrava nenhum franco aos doentes.
“Uma mulher que estava na cama N° 17 –
A, e que tinha problemas cardíacos e deveria fazer inter – consulta, ou seja,
fazer uma consulta junto a um médico cardiologista, como não tinha dinheiro a
tempo para ir pagar a consulta, teve de esperar que a família conseguisse o dinheiro.
Depois da consulta o médico mandou-a fazer uma ecografia, mas a família disse
que não tinha dinheiro. Essa situação toda era assumida pela organização
italiana que disponibilizava até combustível para a viatura que transportava os
doentes para a inter-consulta”, contou a fonte que avançou neste particular,
que é urgente que o ministério da saúde encontre outro parceiro que possa
assumir o hospital.
Explicou que a mulher ficou naquela
situação de dificuldades em conseguir dinheiro para comprar medicamentos e
prosseguir com os tratamentos, pelo que passou os seus últimos dias deitada no
hospital a espera da morte. A fonte assegurou que a mulher recebeu a alta
hospitalar sem, no entanto ser curada.
“Este hospital é do povo guineense. Não
pertence a ninguém em particular. Por isso as pessoas não podem fazer aquilo
que lhes apetece com o hospital. A crise que se regista no hospital agora não
afecta as pessoas da AHEAD e nem sequer a ministra e os seus familiares. São os
pobres zé povinho é que estão a pagar com a guerrinha da ministra que é incapaz
de resolver o problema”, lamentou a fonte visivelmente revoltada com a
situação.
DIRECÇÃO
AMEAÇA TRANSFERIR PARA INTERIOR FUNCIONÁRIO QUE “ABRIR A BOCA”
A nossa fonte avançou neste particular
que a direcção do hospital luta todos os dias para silenciar os funcionários,
ameaçando transferir para o interior do país qualquer pessoa que tente informar
a imprensa, ou quem quer transpirar para fora a situação actual do hospital.
Esta fonte sustentou que de momento todos
os funcionários estão revoltados com a situação, sobretudo no que concerne à
falta de medicamentos para salvar os doentes que morrem em suas mãos.
“O hospital está muito mal neste
momento. Mas foi preciso muita coragem para encontrar-me consigo e informar da
real situação do hospital. Os doentes estão a morrer por falta de medicamentos,
porque há doentes que nem se quer conseguem comprar medicamentos
anti-hemorrágicos. Dantes tinham tudo isso grátis, mas agora têm de comprá-los
e se não tiverem dinheiro, morrem”, disse.
A fonte lembrou que tinham recebido
recentemente uma visita de um grupo de deputados da nação, tendo revelado que
antes do encontro a direcção do hospital ameaçou transferir para interior
qualquer pessoa que abrisse a boca para dizer alguma coisa aos deputados.
“Obrigaram-nos a mentir e dizer que a
organização italiana não estava a trabalhar bem e que tinha mau comportamento
para com os trabalhadores. Isso tudo para defender os interesses de um grupinho
de pessoas e prejudicar toda a população do país que beneficiava de serviços
gratuitos do hospital”, assinalou.
PEDEM-SE
ALGO AOS DOENTES PARA “COLA” A FIM RECEBER OS RESULTADOS DA ANÁLISE FINAL
Uma paciente que pediu anonimato
confidenciou ao nosso jornal que esteve internada com um grupo de muitas pessoas,
mas a maioria acabou por falecer devido a falta de assistência médica e
medicamentosa.
“Uma mulher que esteve internada
connosco estava na sua fase de recuperação e até recordo-me que na festa do fim
de ano que a AHEAD nos fazia, que coincidiu com a visita do Secretário de
Estado da Juventude, dançou connosco. Estava a recuperar bem, mas depois da
saída daquela organização a situação do hospital piorou e ali começaram as
dificuldades. Ela começou a piorar de novo por falta de assistência médica e
medicamentosa. Tinha problemas de sangue e os familiares não conseguiram
dinheiro a tempo para comprá-lo e acabou por morrer”, explicou a paciente com
lágrimas no rosto.
A paciente informou que actualmente
cobra-se às escondidas a cama para o internamento ao preço de 20 mil francos
cfa. Os doentes que recebem altas médicas são obrigados a pagar um valor de
três a cinco mil francos CFA que chamam de “cola” para receberem os resultados
finais das análises.
“Quando saí, pediram-me dinheiro e
naquela altura não tinha nenhum franco e a enfermeira recusou entregar-me os
resultados das análises. Tive de vir até casa pedir a minha avó dois mil
francos, depois voltar ao hospital para poder receber os resultados. A
enfermeira não queria receber os dois mil francos, porque era muito pouco e foi
a sua colega que lhe pediu o favor de aceitar o dinheiro e entregar-me os
resultados das análises”, revelou a paciente.
DIRECTORA
CLÍNICA PEDE UMA SALA ESPECIAL PARA DOENTES DE MDR
Confrontada com a conversa anónima da
nossa fonte, a diretora clínica do hospital, Fina José Vieira Bamba, disse a
nossa reportagem que o hospital registou entre o mês de Janeiro a Março do ano
em curso, dezasseis óbitos. No entender da directora, o aumento de óbitos
deve-se a chegada tardia de doentes que muitas vezes procuram o hospital já na
fase avançada da doença.
Contou que durante o ano 2014
registou-se 66 óbitos no hospital, todavia assegurou que estão a esforçar-se
para melhorar a situação. Sublinhou, no entanto, que a sua maior preocupação de
momento tem a ver com a situação de doentes de tuberculose que estão na fase
considerada de “multiresistente”, ou melhor, que são chamados de “MDR”.
Informou que devido a situação da
gravidade da doença naquela fase tiveram de tomar a decisão de não internar as
pessoas que estão naquelas condições, de forma a não contaminarem os outros
pacientes.
“Sabemos que não resolvemos o problema,
porque em casa terão mais possibilidades de contaminar facilmente outras
pessoas. A situação é muito grave, sobretudo ao nível de pessoas que estão
naquela condição. É urgente criar um espaço ou uma sala para atendimento
especial de doentes de ‘MDR’, a fim de evitar a propagação daquela doença no
país”, assinalou a directora clinica do hospital, que entretanto, avançou que no
momento regista-se o aumento de casos da tuberculose na Guiné-Bissau.
Relativamente a denúncia de cobrança de
dinheiro da parte de funcionários junto de doentes no momento da entrega das
análises, a diretora clinica disse ter desconhecido a prática, mas acrescentou
que pode haver algumas enfermeiras que pedem o dinheiro aos doentes de uma
forma escondida.
Fina José Vieira Bamba contou que o
Ministério de Saúde atualmente tomou a conta da gestão do hospital dando todo o
apoio necessário para o seu funcionamento. A responsável técnica do hospital
sublinhou ainda que actualmente todos os serviços estão a funcionar muito bem,
dado que o ministério assumiu o hospital com toda a firmeza como a sua própria
casa.
“A alimentação de que se diz que não tem
qualidade ou chega tarde, devo dizer-vos que isso não corresponde à verdade,
porque agora é que os doentes alimentam-se bem e a comida chega a horas. No
passado a comida chegava muito tarde. Uma coisa é certa é que damos ‘badadji –
canja’ ou papa para o pequeno-almoço, enquanto no almoço e jantar servimos o
arroz com peixe e as vezes carne. Mas a verdade seja dita, agora deixarmos de
dar o lanche para os doentes”, informou. Com Odemocrata
Absurdo.
ResponderEliminarSó pode ser uma irresponsabilidade recusar o paciente, já existe um risco muito grande desse paciente contaminar mais pessoas na comunidade do que na unidade de internação. Uma coisa importante de lembrar, não se pode vender fármacos para Tuberculose, ou seja, a autoridade guineense parece me está a promover aumento da taxa de mortalidade por tuberculose, ao contrário do mundo ou OMS. E a ministra da saúde guineense, me parece não tem responsabilidades ao acusar os profissionais de enfermagem de cometerem óbitos. Essa irresponsabilidade se deve por falta da justiça para lhe responsabilizar sobre o comentário.
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