quarta-feira, 8 de abril de 2015

Guiné- Bissau- em três meses, que a ministra de saúde, Valentina Mendes, assume controlo de hospital Raoul Follereau regista dezasseis óbitos

O centro especializado de tratamento da doença de tuberculose na Guiné-Bissau “Raoul Follereau” registou entre os meses de Janeiro a Março último, dezasseis (16) óbitos. Os técnicos do hospital alegam que o aumento do número de óbitos deve-se a chegada tardia de doentes, isto é, os doentes chegam aos seus serviços na fase muito avançada da doença.

Uma fonte do hospital que pediu anonimato confidenciou ao nosso semanário que o aumento do número de óbitos naquele hospital de pneumologia tem a ver com a falta de assistência médica e medicamentosa que se começou a sentir, desde a expulsão pelas autoridades do país, da ONG Associação Internacional de Ajuda Saúde e Desenvolvimento (AHEAD – ONLUS).

“O Democrata” soube que o hospital tem a capacidade de internamento de 106 camas, mas de momento conta com 89 pessoas que estão internadas no hospital: 39 homens, 32 mulheres e 18 crianças. Comemorou-se recentemente a jornada mundial de luta contra a tuberculose no país e as autoridades passaram a mensagem à população guineense sobre os esforços empreendidos para o combate à doença.

No terreno, a realidade que se descreve é de dificuldades em que se encontra este maior centro de tratamento da tuberculose na Guiné-Bissau. O Hospital “Raoul Follereau”, que era considerado um dos melhores centros de tratamento e cura da tuberculose na sub-região, encontra-se neste momento a enfrentar grandes dificuldades, por falta de capacidade financeira da parte das autoridades sanitárias de assumirem as despesas que outrora eram assumidas pela organização italiana AHEAD.

De acordo com informações apuradas, actualmente, o Ministério da Saúde Pública não consegue assumir todas as despesas que a organização italiana cobria, designadamente a alimentação de qualidade e assistência médica e medicamentosa para os doentes. Os pacientes ouvidos pela nossa reportagem alegam que a comida oferecida não tem qualidade e não só, como também não é suficiente e às vezes as refeições chegam muito tarde.

Alguns doentes afirmaram que mandam buscar refeições de casa, a fim de poderem alimentar-se bem. Relataram a “O Democrata” que neste momento deixaram de tomar lanche, isto é, deixaram de ter quatro refeições por dia como acontecia.

Lamentaram igualmente o facto de agora serem obrigados a comprar os medicamentos. Assim, os doentes que não têm condições financeiras ficam com as receitas médicas até os familiares conseguirem dinheiro e muitas vezes isso leva mais de três dias. Consideram de muito grave um paciente com tuberculose ficar sem tomar os respectivos remédios.

MINISTÉRIO DA SAÚDE ESTÁ A MATAR PESSOAS DEVIDO A DECISÃO DE EXPULSAR A AHEAD

Uma enfermeira que trabalha no hospital contou à nossa reportagem que aquilo que o Ministério da Saúde está a fazer, é matar as pessoas no hospital, devido à decisão tomada de expulsar a AHEAD que ajudava o povo. Acrescentou ainda que as autoridades decidiram tirar a organização italiana, mas não fizeram nada para cuidar do hospital e assumirem na totalidade as despesas, ou melhor, trazer outro parceiro para fazer o mesmo papel da AHEAD.

Esta funcionária revelou ainda à nossa reportagem que se nota o aumento de casos de infeção por tuberculose a cada dia que passa no país, sobretudo no hospital, porque o número de consultas e tratamento aumentou. A nossa fonte explicou que actualmente o hospital depara-se com dificuldades de vária ordem, sobretudo no serviço de consulta que já não conta com alguns pequenos serviços.

A funcionária frisou ainda que deixou-se de fazer análises do sangue e “raio x” no hospital, sendo os pacientes enviados para outros centros hospitalares. A fonte contou que a única análise que ainda se faz no hospital é a de “BK – catar”.

Segundo a nossa fonte, os doentes internados são obrigados a comprar os medicamentos para poderem ser tratados e os que não têm dinheiro levam até uma semana para que a família consiga dinheiro e comprar o medicamento. A fonte lembra ainda que no período em que a organização AHEAD geria o hospital, a organização tomava conta de todos os serviços e não cobrava nenhum franco aos doentes.

“Uma mulher que estava na cama N° 17 – A, e que tinha problemas cardíacos e deveria fazer inter – consulta, ou seja, fazer uma consulta junto a um médico cardiologista, como não tinha dinheiro a tempo para ir pagar a consulta, teve de esperar que a família conseguisse o dinheiro. Depois da consulta o médico mandou-a fazer uma ecografia, mas a família disse que não tinha dinheiro. Essa situação toda era assumida pela organização italiana que disponibilizava até combustível para a viatura que transportava os doentes para a inter-consulta”, contou a fonte que avançou neste particular, que é urgente que o ministério da saúde encontre outro parceiro que possa assumir o hospital.

Explicou que a mulher ficou naquela situação de dificuldades em conseguir dinheiro para comprar medicamentos e prosseguir com os tratamentos, pelo que passou os seus últimos dias deitada no hospital a espera da morte. A fonte assegurou que a mulher recebeu a alta hospitalar sem, no entanto ser curada.

“Este hospital é do povo guineense. Não pertence a ninguém em particular. Por isso as pessoas não podem fazer aquilo que lhes apetece com o hospital. A crise que se regista no hospital agora não afecta as pessoas da AHEAD e nem sequer a ministra e os seus familiares. São os pobres zé povinho é que estão a pagar com a guerrinha da ministra que é incapaz de resolver o problema”, lamentou a fonte visivelmente revoltada com a situação.

DIRECÇÃO AMEAÇA TRANSFERIR PARA INTERIOR FUNCIONÁRIO QUE “ABRIR A BOCA”

A nossa fonte avançou neste particular que a direcção do hospital luta todos os dias para silenciar os funcionários, ameaçando transferir para o interior do país qualquer pessoa que tente informar a imprensa, ou quem quer transpirar para fora a situação actual do hospital.

Esta fonte sustentou que de momento todos os funcionários estão revoltados com a situação, sobretudo no que concerne à falta de medicamentos para salvar os doentes que morrem em suas mãos.

“O hospital está muito mal neste momento. Mas foi preciso muita coragem para encontrar-me consigo e informar da real situação do hospital. Os doentes estão a morrer por falta de medicamentos, porque há doentes que nem se quer conseguem comprar medicamentos anti-hemorrágicos. Dantes tinham tudo isso grátis, mas agora têm de comprá-los e se não tiverem dinheiro, morrem”, disse.

A fonte lembrou que tinham recebido recentemente uma visita de um grupo de deputados da nação, tendo revelado que antes do encontro a direcção do hospital ameaçou transferir para interior qualquer pessoa que abrisse a boca para dizer alguma coisa aos deputados.

“Obrigaram-nos a mentir e dizer que a organização italiana não estava a trabalhar bem e que tinha mau comportamento para com os trabalhadores. Isso tudo para defender os interesses de um grupinho de pessoas e prejudicar toda a população do país que beneficiava de serviços gratuitos do hospital”, assinalou.

PEDEM-SE ALGO AOS DOENTES PARA “COLA” A FIM RECEBER OS RESULTADOS DA ANÁLISE FINAL

Uma paciente que pediu anonimato confidenciou ao nosso jornal que esteve internada com um grupo de muitas pessoas, mas a maioria acabou por falecer devido a falta de assistência médica e medicamentosa.

“Uma mulher que esteve internada connosco estava na sua fase de recuperação e até recordo-me que na festa do fim de ano que a AHEAD nos fazia, que coincidiu com a visita do Secretário de Estado da Juventude, dançou connosco. Estava a recuperar bem, mas depois da saída daquela organização a situação do hospital piorou e ali começaram as dificuldades. Ela começou a piorar de novo por falta de assistência médica e medicamentosa. Tinha problemas de sangue e os familiares não conseguiram dinheiro a tempo para comprá-lo e acabou por morrer”, explicou a paciente com lágrimas no rosto.

A paciente informou que actualmente cobra-se às escondidas a cama para o internamento ao preço de 20 mil francos cfa. Os doentes que recebem altas médicas são obrigados a pagar um valor de três a cinco mil francos CFA que chamam de “cola” para receberem os resultados finais das análises.

“Quando saí, pediram-me dinheiro e naquela altura não tinha nenhum franco e a enfermeira recusou entregar-me os resultados das análises. Tive de vir até casa pedir a minha avó dois mil francos, depois voltar ao hospital para poder receber os resultados. A enfermeira não queria receber os dois mil francos, porque era muito pouco e foi a sua colega que lhe pediu o favor de aceitar o dinheiro e entregar-me os resultados das análises”, revelou a paciente.

DIRECTORA CLÍNICA PEDE UMA SALA ESPECIAL PARA DOENTES DE MDR

Confrontada com a conversa anónima da nossa fonte, a diretora clínica do hospital, Fina José Vieira Bamba, disse a nossa reportagem que o hospital registou entre o mês de Janeiro a Março do ano em curso, dezasseis óbitos. No entender da directora, o aumento de óbitos deve-se a chegada tardia de doentes que muitas vezes procuram o hospital já na fase avançada da doença.

Contou que durante o ano 2014 registou-se 66 óbitos no hospital, todavia assegurou que estão a esforçar-se para melhorar a situação. Sublinhou, no entanto, que a sua maior preocupação de momento tem a ver com a situação de doentes de tuberculose que estão na fase considerada de “multiresistente”, ou melhor, que são chamados de “MDR”.

Informou que devido a situação da gravidade da doença naquela fase tiveram de tomar a decisão de não internar as pessoas que estão naquelas condições, de forma a não contaminarem os outros pacientes.

“Sabemos que não resolvemos o problema, porque em casa terão mais possibilidades de contaminar facilmente outras pessoas. A situação é muito grave, sobretudo ao nível de pessoas que estão naquela condição. É urgente criar um espaço ou uma sala para atendimento especial de doentes de ‘MDR’, a fim de evitar a propagação daquela doença no país”, assinalou a directora clinica do hospital, que entretanto, avançou que no momento regista-se o aumento de casos da tuberculose na Guiné-Bissau.

Relativamente a denúncia de cobrança de dinheiro da parte de funcionários junto de doentes no momento da entrega das análises, a diretora clinica disse ter desconhecido a prática, mas acrescentou que pode haver algumas enfermeiras que pedem o dinheiro aos doentes de uma forma escondida.

Fina José Vieira Bamba contou que o Ministério de Saúde atualmente tomou a conta da gestão do hospital dando todo o apoio necessário para o seu funcionamento. A responsável técnica do hospital sublinhou ainda que actualmente todos os serviços estão a funcionar muito bem, dado que o ministério assumiu o hospital com toda a firmeza como a sua própria casa.


“A alimentação de que se diz que não tem qualidade ou chega tarde, devo dizer-vos que isso não corresponde à verdade, porque agora é que os doentes alimentam-se bem e a comida chega a horas. No passado a comida chegava muito tarde. Uma coisa é certa é que damos ‘badadji – canja’ ou papa para o pequeno-almoço, enquanto no almoço e jantar servimos o arroz com peixe e as vezes carne. Mas a verdade seja dita, agora deixarmos de dar o lanche para os doentes”, informou. Com Odemocrata

2 comentários :

  1. Só pode ser uma irresponsabilidade recusar o paciente, já existe um risco muito grande desse paciente contaminar mais pessoas na comunidade do que na unidade de internação. Uma coisa importante de lembrar, não se pode vender fármacos para Tuberculose, ou seja, a autoridade guineense parece me está a promover aumento da taxa de mortalidade por tuberculose, ao contrário do mundo ou OMS. E a ministra da saúde guineense, me parece não tem responsabilidades ao acusar os profissionais de enfermagem de cometerem óbitos. Essa irresponsabilidade se deve por falta da justiça para lhe responsabilizar sobre o comentário.

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