No
Publico
Miguel Trovoada, representante do
secretário-geral das Nações Unidas, diz que o país está calmo e “há sinais de
que as coisas começam a funcionar”.
A Guiné-Bissau está a dar passos
importantes para deixar para trás anos de golpes de Estado e violência
política. Mas sem meios o Governo “não poderá ir muito longe”. É o que pensa
Miguel Trovoada, que sucedeu a Ramos-Horta como representante do
secretário-geral das Nações Unidas.
Antigo primeiro-ministro e Presidente de
São Tomé e Príncipe, Trovoada, 78 anos, considera positivos os resultados da
mesa-redonda com os doadores em que, em Março, em Bruxelas, foram prometidos
mil milhões de euros a um país que no último ano retomou o caminho da
democracia. Entende que “não há qualquer ameaça iminente de golpe de Estado”,
mas alerta que “se não houver desenvolvimento a instabilidade volta a
instalar-se”.
Quando
foi nomeado disse que a sua principal tarefa seria contribuir para a
“consolidação das instituições democráticas” da Guiné. Essa consolidação está a
ser feita?
Acho que sim. As actuais instituições
foram constituídas com base nas eleições de há um ano. Funcionam regularmente.
O Governo dispõe da legitimidade mais ampla possível na medida em que tem a
participação de todos os partidos parlamentares, não tem havido perturbações.
A
Guiné de hoje funciona melhor do que aquela que encontrou há nove meses?
A nível institucional funciona, as
reformas estão em curso, o país está calmo. Em termos de funcionamento de
serviços, há uma melhoria no fornecimento de água, de energia, vejo que as ruas
da capital estão a ser reparadas. São sinais de que as coisas começam a
funcionar. A Guiné dá a sensação de ter entrado num processo dinâmico. A
realização da mesa-redonda em Bruxelas, a 25 de Março, veio trazer um novo impulso. As pessoas pensam que agora há instrumentos para fazer avançar o processo de estabilização, de normalização da vida política e económica.
O
que é necessário para que não haja um retrocesso?
O fundamental é que o Governo funcione.
Quando falo de Governo refiro-me ao conjunto de instituições de governação,
Assembleia, executivo, Presidente, tribunais. Durante muitos anos de
conturbações houve uma estagnação e em alguns casos retrocesso. O Governo tem
uma ampla legitimidade mas não dispõe de meios. A mesa-redonda foi um sucesso,houve grande mobilização interna, todas as forças vivas da nação participaram;a comunidade internacional respondeu de forma maciça, participaram 70 países,instituições; e o sector privado também esteve representado. Há confiança neste
Governo, nestas instituições. Agora o que é preciso é o Governo gerir asexpectativas e os parceiros concretizarem as promessas.
A
fase de golpes e assassinatos políticos está definitivamente ultrapassada?
É sempre difícil dizer que está
definitivamente ultrapassada porque algumas dinâmicas político-militares
continuam. O que posso dizer é que não há aquela ameaça iminente de uma
perturbação do tipo golpe de Estado. As reformas começaram. Há várias questões
que se prendem com o processo de reformas: fundo de pensões, reconversão dosmilitares, redimensionamento de efectivos. Tudo isso exige meios. Se o Governo
não dispuser de meios não poderá ir muito longe. Há vontade de fazer, há passos
importantes que começaram a ser dados, agora é necessário que o Governo tenha
meios para prosseguir. A estabilidade é fundamental para o desenvolvimento mas senão houver desenvolvimento a instabilidade volta a instalar-se.
Falou
do clima de estabilidade e da composição alargada do Governo, que são aspectos
importantes. Do seu ponto de visto o diálogo e a reconciliação estão a ser
feitos?
Sim. Vai haver uma cerimónia de
lançamento do diálogo nacional. Fomos solicitados e manifestámos
disponibilidade das Nações Unidas para apoiar esse processo. A comissão de
diálogo nacional foi criada. Vamos apoiar e esperamos que daí resulte uma
melhoria do relacionamento institucional e do clima social.
Não
há o risco de se reavivarem feridas que ainda não sararam? Não houve
julgamentos.
O diálogo poderá contribuir para uma
resposta a essa questão. Está-se a referir à impunidade. Está-se a referir a
uma eventual amnistia. São temas que estão no ar. Eu creio que ninguém é
apologista da impunidade. Porque é o maior dos estímulos à criminalidade. Hoje,
no estádio actual da Guiné-Bissau, estou convencido que as condições não estão
ainda reunidas para que se possa avançar com margem de sucesso no apuramento
das responsabilidades e na punição de culpados.
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