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A ministra das Finanças declarou esta
tarde, em Abidjan, que não foi pela qualidade da agenda ou falta de
credibilidade do país que não ganhou a eleição para presidente do BAD, mas
porque variáveis de natureza geo-política jogaram.
“Aliás, se chegámos a essa posição
(terceiro lugar, após a Nigéria, que venceu, e o Chade), fizemo-lo, porque, por
detrás, estava a credibilidade de um Cabo Verde que teve a ousadia de propor
uma agenda que, profundamente acreditamos, é uma agenda que deve guiar a África
nos próximos 10 anos”, argumentou.
Em declarações à Inforpress, após
conhecer os resultados que deram a vitória com mais de 59% dos votos (58% na
votação global e 61% na votação dos membros regionais) ao nigeriano Akinwumi
Adesina, Cristina Duarte disse que o seu sentimento era de profundo orgulho.
“Estou orgulhosa por ter conseguido,
juntamente com a equipa de campanha, claro está, colocar a bandeira de Cabo
Verde tão alto”, afiançou, salientando, contudo, ter informações que
“determinados sectores da geo-política africana disseram, de forma explícita,
não estarem ainda preparados para uma presidência feminina”.
“Parti pedra, abri o caminho e acredito
que, mais cedo do que tarde, o BAD terá uma presidência feminina. Não será
comigo, mas tê-lo-á”, augurou a ministra, que, enquanto governadora do banco e
representante de Cabo Verde, espera poder continuar a tentar influenciar
positivamente a intervenção da instituição.
Depois desta experiência e da
credibilidade que o país ganhou durante este processo, a ministra das Finanças
e do Planeamento acredita que Cabo Verde passou a ter uma capacidade de
influenciação maior do que antes.
E porque a sua candidatura à liderança do
BAD não foi uma tentativa isolada, Cristina Duarte reiterou que, na visão que
apresentou, está a solução para que a África, de facto, se transforme num actor
global, o que passa pela boa governação, transparência, ‘accountability’,
racionalização e engajamento político.
“Perdemos esta eleição, mas a agenda
continua em cima da mesa”, reforçou a governante, para quem, para a vitória da
Nigéria, pela primeira vez em 50 anos de existência do BAD, deverá ter pesado a
dimensão e o papel que representa na geo-política africana.
Referindo-se ao processo de votação, que
decorreu até cerca das 16:00, realçou que Cabo Verde arrancou com alguma força,
dado que se posicionou logo após a Nigéria, que obteve 25% contra os 24% dos
votos para a sua candidatura, na primeira volta, “mas com forte apoio dos não
regionais (africanos)”.
“Ao longo do processo, não conseguimos
mobilizar o apoio dos regionais. Houve apoios prometidos que, infelizmente, não
aconteceram, o que fez com que o resultado fosse esse”, admitiu.
No seu entender, este fraco apoio dos
países africanos interpela a diplomacia e a política externa cabo-verdiana,
para que se faça um trabalho de terreno “muito forte e muito dedicado” para
tentar esclarecer este equívoco.
Em resposta aos rumores de que Cabo Verde
contava com os votos dos não regionais para se impor aos regionais, Cristina
Duarte esclareceu que o país sente-se uma nação africana “de corpo e alma”,
ainda que haja uma percepção de que não é assim, já muito antes da sua
candidatura à presidência do BAD.
Confirmou, por outro lado, ter recebido
os parabéns do primeiro-ministro, José Maria Neves, que considerou ter sido uma
“grande vitória” para Cabo Verde a campanha feita e a promoção das ideias, a
visão e a agenda conseguida nos últimos meses.
“Todo o mundo reconhece que é uma visão
e uma agenda de elevada qualidade e que são propostas necessárias neste momento
para que o BAD entre numa etapa a um ritmo muito mais acelerado e que possa
servir melhor a transformação estrutural de África”, indicou.
Para a ministra, apesar de ter perdido a
eleição, há um reconhecimento “quase consensual” quanto à credibilidade do
país, à sua pessoa e ao conteúdo da agenda.
Cristina Duarte ficou em terceira
posição na corrida para a presidência do BAD, com 10,27% dos votos contra os
cerca de 59% obtidos pela Nigéria obtido nas duas votações.
Akinwumi Adesina, actual ministro da
Agricultura e Desenvolvimento Rural da Nigéria, tornou-se, assim o oitavo
presidente do BAD e, a partir de Setembro, vai ocupar o lugar de Donald
Kaberuka que, nos últimos 10 anos, governou a instituição.
//Inforpress
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