A relação
de Jesus com as pessoas mostra-se de forma expressiva no seu olhar.
Mc 10, 17-27. Olha com ternura o homem que vem a correr para lhe
perguntar o que há-de fazer para alcançar a vida eterna. Fita os
olhos nos discípulos que ficam espantados pela resposta/comentário
dada na sequência da atitude assumida por aquele “peregrino” da
verdade. É igualmente expressivo o modo como olha e se compadece das
multidões, de Pedro, da mulher adúltera, e de tantos outros que se
foram cruzando com ele nos caminhos da missão. Foi assim outrora nas
terras por onde passava. É assim agora nas situações em que está
presente connosco. Que certeza tão confiante e desafio tão
estimulante!
O episódio
narrado por Marcos contém um valor simbólico, além de algum
suporte histórico. É muito significativo o detalhe de que “naquele
tempo ia Jesus pôr-se a caminho”. Parece que todo o tempo é seu,
que faz a sua gestão como entende, que pressente o que vai
acontecer. Talvez haja aqui um sentido oculto que se veio e revelar:
dar possibilidades de chegar a quem o procurava a correr, a quem
sente fortemente o impulso do coração, a quem tem perguntas
fundamentais a fazer-lhe.
O homem é
um ser que faz perguntas. Desde pequenino até ao último momento de
lucidez. E em qualquer idade da vida surge a pergunta do sentido da
existência, do rumo do trajecto que vem prosseguindo, do desfecho da
história pessoal e colectiva, do futuro definitivo, da vida eterna.
E deseja receber resposta adequada, em sintonia com a intensidade da
sua busca; resposta que dê consistência à sua corrida e alimente a
esperança de vir a alcançar o que pretende; resposta que reforce a
comunhão do que vive com aquilo que tanto quer viver um dia: a
felicidade plena e definitiva no seio de Deus, em ambiente festivo de
família ampliada a toda a humanidade.
O desfecho
da corrida está condicionado pelas atitudes do corredor. Mas é a
vitória final que leva a mobilizar todos os recursos. Ela compensa
renúncias e esforços. Ela encanta, atrai e seduz. Ela dá sentido
aos êxitos ou fracassos que possam ocorrer no percurso.
Jesus é
muito claro. Promete o tesouro no Céu a quem seguir os seus passos
na terra, for seu discípulo. A tempo inteiro e de forma integral. Em
plena liberdade de comunhão. Todos os outros bens são relativos. Se
servem esta liberdade, integram-se facilmente. Se não, há que
desfazer-se deles, partilhando-os com os pobres. Só um coração
liberto, pode anunciar a liberdade e ajudar a libertar.
Ser
discípulo é olhar com ternura os outros e as suas situações.
Apreciar os valores que comportam e proporcionar-lhes a ajuda de que
precisam para dar o passo possível na busca de um bem maior:
sentir-se amado por Deus e procurar corresponder-lhe com a medida
cheia.
A Igreja
vive uma fase típica na realização da sua missão. Chamada a olhar
a realidade familiar com a ternura da misericórdia e a firmeza da
verdade, quer anunciar a beleza do matrimónio e da família, e
encontrar as orientações evangélicas mais adequadas à diversidade
de situações.
“Não
à rigidez: Deus quer misericórdia” – clama o Papa Francisco no
seu estilo claro e assertivo. E continua dizendo que o coração duro
é o verdadeiro perigo para o ser humano porque não deixa entrar a
misericórdia de Deus.
Olhar as
pessoas com o olhar que Jesus tinha. “Interessava-se primeiro pelo
seu sofrimento e, depois, chamando o pecado pelo seu nome, anunciava
ao pecador o perdão e a misericórdia de Deus, daquele «Pai seu»
que não quer a condenação do pecador, mas que este se converta e
viva em plenitude” – afirma Enzo Bianchi, fundador da comunidade
de Bose. E conclui: Nesse olhar “está a capacidade da Igreja ser
«perita em humanidade».
Este é o
olhar de cada cristão, de toda a Igreja em Sínodo. Acolhamos o
pedido do Papa Francisco: “Rezemos pelos Padres Sinodais para que,
iluminados pelo Espírito Santo, possam dar à Igreja, como família
de Deus, novo impulso para lançar as suas redes que libertam os
homens da indiferença e do abandono, promovendo o espírito familiar
no mundo”.
Como é que Jesus pode ser branco?
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