
Com efeito, o Comité Central do PAIGC
que foi convocada extraordinariamente para analisar a situação politica actual
à luz dos últimos acontecimentos, registou com surpresa e preocupação uma
gravíssima ameaça proferida pelo Senhor Avelino Cabral, Conselheiro de Sua
Excelência Senhor Presidente da Republica para a área da Defesa e Segurança, ao
afirmar perante mais de duas centenas de membros deste órgão estatutário do
PAIGC, de que as nossas gloriosas Forças Armadas estavam ao dispor e ao lado do
Chefe de Estado para o que desse ou viesse.
O Conselheiro do Presidente da Republica
foi ainda mais longe ao afirmar que as pretensões do PAIGC ao se pronunciar
sobre a necessidade do Partido mobilizar todos os seus militantes e estruturas
para a luta no sentido de manter a defesa no sentido da manutenção das
conquistas resultantes da vontade popular expressas durante as ultimas eleições
legislativas, estavam condenadas ao fracasso, porque o PAIGC e os seus
militantes só dispunham de meios de luta tipo “intifada” (arremesso de pedras e
paus) enquanto eles dispunham de meios mais coercivos, ou sejam armas e
decretos.
Perante estas gravíssimas e inaceitáveis
ameaças, o PAIGC sente-se na obrigação de exigir aquém de direito uma tomada
urgente de medidas, o que não sucedendo podem levar o nosso Partido a pensar
que o Senhor Conselheiro Avelino Cabral está agindo em nome supostamente do
próprio Presidente da Republica, razão pela qual se exige uma rápida
clarificação sobre o alcance destas ameaças que devem ser acompanhadas por
outras medidas políticas que a situação exige e impõe.
Afirmar que as Forças Armadas estavam ao
dispor e ao lado do Chefe de Estado para o que desse ou viesse, para além de
ser uma afirmação grave e irresponsável, pode pôr em causa a elevada idoneidade
moral e patriótica que sempre caracterizaram a instituição castrense guineense.
As afirmações do Conselheiro
Presidencial Avelino Cabral, significam que as nossas gloriosas e prestigiadas
Forças Armadas, ontem importantes instrumento de libertação nacional ao serviço
do povo e do PAIGC e hoje, como forças republicanas, uma instituição primordial
de defesa da Nação, como estipula a Constituição da Republica de instituição de
defesa da nossa independência, soberania e integridade territorial, como
igualmente de colaborar estreitamente com os serviços nacionais e específicos
na garantia e manutenção da segurança interna e da ordem publica, nunca poderão
actuar em circunstancia alguma como forças mercenárias e ao serviço de alguém,
porque elas sô obedecem aos órgãos de soberania competentes nos termos da
Constituição e da lei.
O PAIGC aguarda serena e confiantemente
que as Forças Armadas saberão reagir a estas perigosas conotações e exigir uma
rápida clarificação junto a Presidência da Republica de forma a preservar o seu
prestígio de força constitucional e republicana com um passado histórico
granjeado com actos marcados de grandes sacrifícios e heroísmo.
O PAIGC perante esta situação que
considera como gravíssimas e perigosas para o actual momento político que o
país regista, chama a atenção dos seus dirigentes, militantes, simpatizantes e
de uma grande maioria do povo guineense que se revê no nosso Partido, no
sentido de estarem atentos e prontos para defenderem as conquistas
revolucionárias do nosso povo sob a direcção do PAIGC, como condição sine qua
non para salvarmos a democracia e o Estado de Direito Democrático.
Apelamos a comunidade internacional para
estar atenta e acompanhar a estratégia visando implantar meios coercivos e
intimidatórios tendentes a minar os alicerces ainda frágeis da democracia
guineense, cuja prova esta conotada directamente com as perigosas e ameaçadoras
ameaças proferidas contra o PAIGC, pelo senhor Avelino Cabral, Conselheiro para
o Sector da Defesa e Segurança de Sua Excelência Senhor Presidente da
Republica.
O PAIGC não se deixará intimidar e
mobilizará todos os seus dirigentes, militantes, simpatizantes e o povo
guineense, em geral, para a necessidade de cerramos as fileiras e todos juntos
lutarmos em defesa da democracia, da paz, estabilidade e unidade nacional.
Viva o PAIGC!
Viva a Guiné-Bissau!
Feito em Bissau aos vinte e um dias do
mês de Abril de 2016
O Secretariado Nacional do PAIGC
Domingos Simões Pereira acusa PR de golpe parlamentar
ResponderEliminarO presidente do PAIGC pediu aos seus militantes e dirigentes que dêem uma resposta ao discurso do Presidente da República na Assembleia Nacional Popular e denunciou que um conselheiro de José Mário Vaz ameaçou companheiros de partido com o recurso às armas para a resolução da crise.Guiné- Bissau:Domingos Simões Pereira acusa PR de golpe parlamentar
“O Chefe de Estado não foi capaz nem se preocupou em tranquilizar a população e muito menos em assegurar a defesa dos princípios democráticos”, disse Domingos Simões Pereira, para quem o pedido de Vaz sobre a constituição de uma nova maioria parlamentar que permita um novo Governo tem um propósito.
“O Presidente está desde há muito decidido a se fazer dotar de um novo quadro constitucional que lhe permita ser o dono único e absoluto do poder na Guiné-Bissau, a exemplo da sua referência vizinha”, continuou Simões Pereira.
O presidente do PAIGC classificou o discurso do Chefe de Estado de ser de um líder da oposição que “contava aceder ao poder, neste caso ao controlo da governação, que não o tendo pelas urnas, agora vê reforçada essa possibilidade pela via do golpe parlamentar”.
PR responsável pela crise
Foi nesta perspectiva que, no entender dos libertadores, as citações feitas pelo Presidente quanto às ondas de paralisações nos sectores de saúde educação não são favoráveis:
“As sucessivas menções às greves e convulsões sociais não são favoráveis ao Presidente da República, pois estão associadas à crise por ele despoletada e foi quem criou dificuldades de cobertura financeira pelo Governo”, asseverou Simões Pereira, lembrando que “todos conhecem a proximidade e mesmo o envolvimento do senhor Presidente nas ondas de contestação”.
Para o antigo Primeiro-ministro, a leitura política tem de ser despida de sentimentos pessoais ou de grupo, “mas objectivas e gerais, ou seja, das eleições resultaram uma configuração parlamentar”, porque é obrigação de todos respeitar e proteger esse quadro.
No encontro que manteve com membros do seu partido, Domingos Simões Pereira revelou ainda que um conselheiro do Chefe de Estado ameaçou os militantes do partido e dirigentes, em plena reunião do Comité Central, com menções de recurso às armas e o controlo da justiça.Viva o PAIGC!
TÓPICOS DE REAÇÃO AO DISCURSO DE SE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ResponderEliminarA. DISCURSO TRIUNFALISTA
A rapidez e todo o alvoroço que se gerou para a convocação com caráter de urgência desta sessão extraordinária da ANP, por parte do Presidente da República, atraiu todas as atenções para a ANP. Toda a Comunidade Política, Nacional e Internacional, foi chamada ao hemiciclo do Palácio do Povo para o que só podia ser um verdadeiro discurso sobre o “Estado da Nação”, ou seja, com um diagnóstico aprimorado sobre a situação política vigente, os grandes objetivos presentes e a estratégia para apaziguar as partes e a construção de uma verdadeira solução de compromisso e estabilidade.
Todavia, sem surpresas, o Presidente foi igual a si próprio e voltou a bater nas mesmas teclas e da mesma forma: acusou e ameaçou as mesmas entidades, para não variar o PAIGC, colocou-se do lado dos 15 e do PRS, não foi capaz nem se preocupou em tranquilizar a população e muito menos assegurar a defesa dos princípios democráticos.
Lamentamos a constatação do ódio e profundo nervosismo patenteados num momento em que se aguardava tranquilidade e ponderação, capazes de transmitir confiança e segurança ao povo guineense.
Afinal os únicos propósitos do Senhor Presidente da República eram os da sua autoproclamação como vencedor jurídico desta contenda, com o pronunciamento do Supremo Tribunal de Justiça, através do acórdão n.º 3/2016. Sabendo como quase todos já sabem como foi conseguido este acórdão e o nível de envolvimento do Senhor Presidente da República na aquisição dessa decisão, podia pelo menos poupar o país de mais este espetáculo deplorável e de baixa qualidade.
B. CONSTRUÇÃO JURÍDICA PORTUGUESA
ResponderEliminarUm terço do discurso foi para uma argumentação jurídica despropositada e ridícula. Para além de se estranhar que o Presidente da República assuma este nível de implicância numa abordagem tão técnica, também se referia a uma construção jurídica estranha e distante. Os sistemas jurídicos aceitam inspirações e mesmo algumas comparações e por isso a recorrente utilização do termo “comparado”, contudo este deve sempre beneficiar de distanciamento e isenção, o que nunca pode ser o caso quando se trata de aspetos constitucionais sobre o qual já existem disputas muito concretas. É que a constituição não é só uma questão de direito, mas fundamentalmente de escolhas políticas. Ora, após tão longos meses de disputa por parte de atores políticos e o direto envolvimento de instâncias da soberania, é inusitado que o Primeiro Magistrado da Nação ignore tão descaradamente a necessidade de observância do principio de objetividade e clara existência dessa formulação no nosso edifício jurídico. Esta posição do Senhor Presidente da República é mesmo chocante e de provocação pois para além de dar pouca importância ao facto da Guiné-Bissau ser um estado independente desde Setembro de 1973, fá-lo em prejuízo de uma organização politica constituída pelos Combatentes da Liberdade da Pátria que deram a vida por essa causa e que agora o colocaram no assento do poder. Aliás deveras evidente pois ao menos podia tentar esconder essa sua euforia e satisfação ao reconhecer na cadeira do governo, nada menos que um Combatente da Liberdade da Pátria de Primeira montra, companheiro de Amilcar Cabral, o camarada Carlos Correia.
C. AUSÊNCIA DE SOLUÇÕES
ResponderEliminarPor demais e há muito identificado e reconhecido como o promotor da crise, este Presidente da República nem se preocupa em disfarçar que não dispõe de soluções. Limita-se a lançar mais achas á fogueira numa cega determinação em causar o chaos e esperar alguma forma de benefício para a sua saga de construção do poder absoluto e tirano. Nesse particular, o discurso foi um autêntico martírio, qual peça dantesca sobre o purgatório eterno, proclamando o sofrimento e convocando a todos para se juntarem na sua celebração. Há uma passagem do discurso do Presidente que ameaça claramente os deputados (leia-se ao PAIGC) com as únicas opções seguintes: render-se a evidência da sua vitória, reconhecendo a existência de um novo quadro parlamentar consubstanciado numa nova maioria ou então haverá a desordem e a violência, que ele também espera que o seja favorável.
Mesmo para este Presidente foi mau demais.
D. PEDIDO DE CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA MAIORIA
Este pedido reiterado do Senhor Presidente da República da constituição de uma nova maioria parlamentar que lhe permita a formação de um governo de sua iniciativa é ao fim de contas o regresso à casa de partida. Foi e continua a ser o grande propósito de toda esta luta e de toda esta confusão. O Presidente está desde há muito decidido a se fazer dotar de um novo quadro constitucional que lhe permita ser o dono único e absoluto do poder na Guiné-Bissau, a exemplo da sua referência vizinha. O ideal seria que se fizesse a revisão constitucional para lhe oferecer esse quadro mas, enquanto tal não chega, vai ter de forçar outras soluções e nem o pronunciamento claro e inequívoco do Supremo Tribunal de Justiça no seu acórdão n.º 1/2015 o desencoraja.
É deveras preocupante que o presumível juiz de uma partida decida arbitrar a sua causa e não se compromete a aplicar as leis tal como elas são. Já se afirmou que na democracia, “o povo é quem mais ordena”, mas é preciso adicionar e vincar que isso significa que em democracia participativa, é o resultado das eleições que fixa o quadro representativo – a distribuição de competências e responsabilidades. A ninguém é dado querer substituir o povo nessa decisão.
Parece evidente que o Presidente espera poder argumentar que há um novo quadro de facto, aliás já avança uma proclamação de que o PAIGC é só formalmente maioritário. Diz-lhe pouco que essa formalidade seja de competência exclusiva do povo exercida exclusivamente no rescaldo do pleito eleitoral. Na verdade, o que o Presidente espera ser de facto o novo quadro é contar com apoios seguros no Supremo Tribunal de Justiça para não protagonizar uma segunda derrota sobre um mesmo assunto. Até lá, vai tomando a precaução de sugerir que seja a ANP a oferecer-lhe o quadro de atuação e não uma exposição direta.
E. LÍDER DA OPOSIÇÃO OU FIEL DA BALANÇA
ResponderEliminarO discurso do Presidente da República foi sem nenhuma sombra de dúvidas o de um líder da oposição, que há muito contava aceder ao poder (neste caso ao controlo da governação) que não o tendo conseguido pelas urnas, agora vê reforçada essa possibilidade pela via do golpe parlamentar. O Presidente tinha de saber que o seu papel é o de fiel da balança e nessa condição tem mesmo de fazer leituras e análises objetivas, mesmo que não coincidam com os seus interesses pessoais e institucionais.
Factos:
1) o nosso sistema de governo é o semi-presidencial de pendor parlamentar com absoluta separação de poderes – “não compete ao presidente da república avaliar a bondade deste dispositivo, ele é o reflexo da vontade soberana do povo guineense”. O Português pode ser melhor, mas esta é a escolha dos guineenses;
2) Nas últimas eleições legislativas, 5 partidos foram escolhidos para o parlamento – O PAIGC para governar e os restantes, PRS, PCD, UM e PND para fiscalizarem a ação governativa. Não compete a ninguém alterar este quadro, aliás como alterar o quadro?
3)O Presidente da República não é parte do jogo político partidário e não se pode assumir como tal.
As sucessivas menções às greves e convulsões sociais não são favoráveis ao Presidente da República pois essas estão associadas à crise por ele despoletado e que criou dificuldades de cobertura financeira pelo governo. Por outro lado, todos conhecem a proximidade e mesmo envolvimento do Senhor Presidente nas ondas de contestação.
Se situações de força maior, objetivamente produzidas e não por simples vontade de um ou mais atores, obrigarem a alguma alteração do quadro, espera-se a constatação fria e ponderada do fiel da balança e a produção de soluções que reponha esse quadro ou, a devolução da palavra ao povo.
Notas positivas e aconselhamento
ResponderEliminar1. Registamos como positivo o facto do Senhor Presidente da República ter escolhido uma mensagem à Nação para terminar toda a saga de pressão sobre os órgãos. Pena eu não a tenha aproveitado de forma mais positiva e pedagógica;
2. Apesar de usar o termo “formal”, o Presidente da República reconhece que há um partido maioritário, resultante das últimas eleições. Assim, a tentativa de referir a uma nova configuração é um detalhe forçado para alimentar a esperança dos acólitos;
3. O PR remete para a ANP a procura de soluções para a crise, se possível com base no diálogo e em compromissos. Fá-lo ao seu estilo e no meio de ameaças e acusações mas não deixa de ser importante o reconhecimento dessa separação de poderes e competências;
Aconselhamento:
O Presidente da República não pode ser nem deve se sentir pressionado a tomar medidas que satisfaçam a grupos ou representações. Todo o povo Guineense é que aguarda ancioso por um desfecho de paz e tranquilidade;
Assim, as análises do Presidente têm de ser frias e bem ponderadas para que ao serem proferidas representem uma grande esperança para todos;
A leitura politica tem de ser despida de sentimentos pessoais ou de grupo, mas objetivas e gerais – das eleições resultaram uma configuração parlamentar. É obrigação de todos respeitar e proteger esse quadro. Faltando elementos objetivos para o efeito, o Presidente deve dar conselhos a favor da reposição desse quadro o que, não sendo possível obriga à devolução da palavra ao povo. Isto não é uma opção mas uma obrigação.
Maior controlo sobre as ações dos colaboradores. Há dias um conselheiro do PR veio ameaçar aos militantes do partido e dirigentes em plena reunião do Comité Central com menções de recurso às armas e o controlo da justiça entre outros.
ACUSA JOSÉ MÁRIO VAZ DE QUERER SER O "DONO ÚNICO DO PODER" NA GUINÉ-BISSAU
ResponderEliminarO Partido Africana da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) chamou esta quinta-feira os seus militantes e dirigentes para dar resposta ao discurso do Presidente da República na Assembleia Nacional Popular, onde denunciou que um Conselheiro do José Mário Vaz ameaçou os militantes e dirigentes do partido com recurso as armas para a resolução da crise.
Para o PAIGC, “o Chefe de Estado não foi capaz, nem se preocupou em tranquilizar a população e muito menos assegurar a defesa dos princípios democráticos”. Para o presidente do partido, Domingos Simões Pereira, o PAIGC, considera que o pedido reiterado por José Mário Vaz sobre a constituição de uma nova maioria parlamentar que permita a constituição de um novo Governo tem um propósito. “O presidente está desde há muito decidido a se fazer dotar de um novo quadro constitucional que lhe permita ser o dono único e absoluto do poder na Guiné-Bissau, a exemplo da sua referência vizinha”.
De acordo com o PAIGC, o discurso do Presidente José Mário Vaz foi de um líder da oposição que,“contava aceder ao poder, neste caso ao controlo da governação, que não o tendo, pelas urnas, agora vê reforçada essa possibilidade pela via do golpe parlamentar”.
Foi nesta perspectiva que, no entender dos libertadores, as citações feitas pelo Chefe de Estado quanto as ondas de paralisações nos sectores de saúde educação não lhe são favoráveis. “As sucessivas menções às greves e convulsões sociais não são favoráveis ao Presidente da República, pois essas estão associadas à crise por ele despoletado e que criou dificuldades de cobertura financeira pelo Governo. Por outro lado, todos conhecem a proximidade e mesmo o envolvimento do Senhor Presidente nas ondas de contestação”. Domingos Simões Pereira deixou ainda alguns conselhos ao Chefe de Estado: “a leitura política tem de ser despida de sentimentos pessoais ou de grupo, mas objectivas e gerais, ou seja, das eleições resultaram uma configuração parlamentar. É obrigação de todos respeitar e proteger esse quadro”.
Na mesma ocasião, num encontro convocado para dar resposta ao conteúdo do discurso de José Mário Vaz, Domingos Simões Pereira denunciou que “há dias, um conselheiro do Chefe de Estado ameaçou os militantes do partido e dirigentes, em plena reunião do Comité Central, com menções de recurso às armas e o controlo da justiça, entre outros”.
«ENTREVISTA» ELEIÇÕES SÃO A ÚNICA SAÍDA PARA A CRISE NA GUINÉ-BISSAU, DIZ ANALISTA POLÍTICO PAULO GORJÃO
ResponderEliminarPaulo Gorjão defende a reforma do regime político guineense
Mesmo um cenário de eleições antecipadas não afasta a possibilidade de crise, afirma o analista Paulo Gorjão que defende uma profunda revisão constitucional. Os guineenses “sentem na pele” as consequências da crise.
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, já avisou o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no poder, de que caso este não consiga promover consensos na governação será forçado a admitir uma nova maioria no hemiciclo e um novo Governo.
José Mário Vaz acusou PAIGC, de forma implícita, de recusar o diálogo no país e de bloquear o normal funcionamento do parlamento.
Por outro lado, Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC e ex-chefe do Governo, já defendeu que a solução para a crise política no país é a realização de eleições antecipadas.
Opinião semelhante foi manifestada em entrevista á DW África por Paulo Gorjão, analista político e diretor do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (PRIS).
DW África: Eleições gerais antecipadas na Guiné-Bissau são ou não a solução para o fim do impasse político?
Paulo Gorjão (PG): Penso que, neste atual quadro, não existe outra solução que não passe pela legitimação do PAIGC pela via eleitoral. Mas, evidentemente, o PRS (Partido da Renovação Social, na oposição) pode reclamar para si a possibilidade formar Governo com alguns deputados do PAIGC que, entretanto, se afastaram do partido e que lhe permitiria governar. Não é, de todo, a melhor solução nem uma solução muito realista. Apenas adia a crise.
Por outro lado, mesmo existindo eleições, não me parece que qualquer cenário de crise esteja afastado. Este sistema semi-presidencial na Guiné-Bissau é, ele próprio, uma fonte permanente de instabilidade. E o que temos vindo a assistir, de forma voluntária ou involuntária, desde agosto de 2015 é, no mínimo, uma certa presidencialização informal do regime da parte do Presidente da República – que se comporta como um Presidente com poderes que, na realidade, não tem.
ResponderEliminarDW África: Na sua opinião, um passo essencial para evitar que a Guiné-Bissau continue neste ritmo de crises cíclicas seria uma reforma profunda do sistema político do país?
PG: Sim, há muito que defendo que a Guiné-Bissau precisa de uma revisão constitucional e, eventualmente, a presidencialização do regime ou até o contrário. De duas uma: ou o regime é parlamentar ou presidencial. Um regime semi-presidencial é que simplesmente não funciona na Guiné-Bissau. É, por isso, necessária uma revisão profunda da Constituição guineense e, de preferência, escolhendo um regime de natureza presidencialista, na minha opinião.
DW África: Perante o atual cenário e a aparente intenção do Presidente de renovar o hemiciclo e o Governo, ou seja, apontar para o Governo pessoas da sua confiança, isso é ou não permitido pela lei guineense?
PG: Em última instância isso é permitido ou não se o PAIGC aceitar ou não essa solução. Parte do espaço de manobra do Presidente da República que decorre até ao ponto em que o PAIGC tolerar a sua intervenção. Na demissão e substituição de Domingos Simões Pereira, na minha opinião, o Presidente da República extravazou os seus poderes presidenciais.
DW África: Considera que a imagem do Presidente José Mário Vaz está desgastada no contexto da região África Ocidental?
PG: Penso que sim, no contexto da África Ocidental e não só, junto de um leque mais vasto de parceiros, nomeadamente, da União Europeia e dos Estados Unidos.
Basta pensar na conferência de doadores, em fevereiro de 2015, que correu magnificamente bem do ponto de vista da Guiné-Bissau, em que os doadores se comprometeram a alocar verbas bastante significativas. E agora, em larga medida, toda essa ajuda foi bloqueada.
Nada daquilo que o Presidente da República José Mário Vaz tem feito contribui para a sua imagem junto de Portugal, dos parceiros da União Europeia, da África Ocidental, das Nações Unidas, enfim, junto de todos aqueles parceiros de cuja boa vontade a Guiné-Bissau tanto depende.
DW: Quais as consequências imediatas para o povo guineense deste impasse?
PG: Não havendo a estabilização da situação na Guiné-Bissau, parte desta verba que os doadores deveriam transferir para o apoio à Guiné-Bissau não é transferida. E, portanto, num país já com serviços públicos muito fracos, de educação, saúde, administração pública, a situação piora. As pessoas sentem na pele a falta desse apoio.
OS ELEITORES NÃO DERAM CHEQUE EM BRANCO AO DSP, VIA PAIGC, PARA SAQUEAREM OS NOSSOS PARCOS RECURSOS.
ResponderEliminarNem todas as escolhas do PAIGC foram e/ou são assertivas. O PAIGC tal como outras forças políticas obedecem a uma dinâmica dialéctica.
Daí que quando o eleitorado Guineense dá seus votos a um partido para governar, não quer isto dizer que automaticamente dá-se-lhe um cheque em branco, para que os dignitários assenhorem a belo prazer dos nossos parcos recursos, para em menos de 1 ano e numa descontrolada corrida para enriquecimento ilícito saqueiem o Tesouro público sem consequências políticas.
O que seria de nós se este BANDO MAQUIAVÉLICO tivessem não 1 Ano, nem 2, 3...., mas 4 anos de saques?
Em abono da verdade, quando elegemos o PAIGC para nos governar, não era propriamente entregar-mo-nos a INFANTILISMO POLITICO ou ao BANDO DE MAQUIAVÉLICO.
Ninguém esperava, que o próprio líder do PAIGC tinha ânsia, ganância ou sede do poder. Ninguém , mas ninguém no seu perfeito juízo imaginava que a governança seria entregue aos corruptos e corruptor.
Daí que a legitimidade democrática nunca é eterna, sobretudo quando os detentores desta legitimidade têm muita apetência aos números ou activos líquidos do Tesouro Público. Nenhum povo gosta de ser roubado ou vilipendiado. Se o PAIGC não consegue controlar seu líder, então que vão coçar-se para o pico do inferno.
Todos os guineenses, velhos e novos, devem uma enorme gratidão ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
ResponderEliminarEu sou o fruto do PAIGC. Se não fosse o PAIGC, se calhar nem estaria a escrever estas linhas. Se não fosse a independência conquistada com sangue e suor, se calhar nunca teria acesso à escola, muito menos ser o que sou hoje em dia.
Mas, dito isto, o meu desejo, aliás, o desejo de todos os guineenses é continuar a ver um PAIGC heróico e emblemático. Um PAIGC de ontem e de hoje. Um PAIGC de futuro. Um PAIGC lá para além das nossas consciências e memórias!
Hoje em dia, este PAIGC deveria ser um símbolo da unidade nacional; um símbolo da coesão interna e externa; um símbolo da luta e progresso; um símbolo de triunfalismo político e um símbolo de orgulho nacional.
Hoje em dia, este PAIGC deveria fazer justiça ao simbolismo que a sua grandeza histórica e internacional representa.
Hoje em dia, este PAIGC deveria fazer justiça aos ideais dos seus fundadores: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Júlio de Almeida, Fernando Fortes e Elisée Turpin.
Hoje em dia, este PAIGC deveria fazer justiça aos sacrifícios consentidos pelos melhores filhos da Guiné e das ilhas de Cabo Verde: os combatentes da liberdade da pátria.
Mas, para que isto aconteça, este PAIGC pós-1974 deve amadurecer, como amadurecem os seres humanos.
Afinal de contas, o PAIGC já conta com 59 anos de idade. E se fosse humano, ele já teria sido um avô com uma tremenda sabedoria acumulada desde nos tempos da clandestinidade, passando pela guerrilha.
E como um avô de todas as histórias políticas, sociais e económicas da Guiné-Bissau, do PAIGC só pedimos que se comporte como o ancião das nossas tabancas e o árbitro das nossas conquistas fundamentais.
Tal como um avô ter-se-ia comportado, pedimos também ao PAIGC que testemunhe (de uma forma benevolente), o evoluir do tempo, das liberdades e dos comportamentos dos seus progénitos. Seja feliz em ver o florescimento da democracia, fruto das suas lutas e das suas proezas históricas; continue a reclamar os seus direitos, mas abdique-se do comportamento absolutista e paternalista, apesar do lugar sagrado que lhe é reservado pela história.
Seja o verdadeiro avô do seu povo -- sendo querido, amoroso, humilde, responsável e compreensível. Não seja apenas o PAI(gc), mas sobretudo o avô do seu povo patriótico, do seu povo sofredor. E permita que esta sua família cresça em paz e harmonia. É disso que a nação guineense espera do seu ancião, o PAIGC... Nada mais, nada menos!
Do seu neto... E com muita estima,