segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A comunicação do Domingos Simões Pereira, no encontro com os dirigentes, militantes e simpatizantes do PAIGC em Portugal

Irmãos e Camaradas

É sempre importante voltar ao vosso encontro e desfrutar deste calor da vossa amizade e fraternidade. Obrigado por terem vindo e por proporcionarem à Direção Superior do partido, aqui representada por mim, pelo Camarada Inácio Correia (Tchim), por muitos Camaradas Deputados aqui presentes, por Ex-membros do Governo, a oportunidade de partilhar a nossa leitura da atualidade politica no país e a nossa visão para o futuro.

Quero no entanto começar por agradecer à direção do nosso núcleo do PAIGC em Portugal – pelo empenho na preparação e organização deste encontro;

Também deixo uma palavra de grande apreço ao nosso Presidente do núcleo do PAIGC em França, pela forma clarividente e determinada como tem enfrentado as várias vicissitudes com que se têm confrontado, e pelo esforço que leva a sua presença aqui hoje;

Todos sentimos algum cansaço. Todos experimentamos alguma frustração ou mesmo algum desespero.

Com a dinâmica que vinha sendo empreendida, tanto na condução e reformas do partido como na governação, a esta altura já devíamos estar a falar de um partido mais coeso e mais unido e de um país bem diferente para melhor. Penso que poucos ou ninguém tem dúvidas disso.
A verdade é que aqui estamos de novo, a lamentar o nosso destino, a amaldiçoar a nossa sorte a pedir ajuda aos céus. A lastimar e a rezar. Tudo isso está bem, faz parte da natureza humana, sobretudo em momentos de desespero e perdição.

Mas, se olharmos para a história de outros povos, daqueles que conseguiram sair de situações idênticas e resgatar o seu destino, daqueles que conseguiram inverter a sua sorte, vamos ver que tiveram de fazer algo mais. Vamos ver que tiveram de reconhecer e defender a verdade e lutar contra todas as forças que pretendiam mantê-los na opressão e comprometer a sua liberdade e o seu direito em construir o bem-estar e o desenvolvimento.

Portanto, as perguntas são simples e estão perante nós:

• Quem e o que é que impede o nosso bem-estar, a liberdade e o desenvolvimento? Quem são “os inimigos do nosso povo” (como dizia Cabral)?

• E o que estamos dispostos e preparados a fazer? Vamos lutar, ou vamos ficar pelo lamento?

Esses são os que Cabral chamou de “inimigos do nosso povo” e sobre quem nos alertou que esses não são do partido pois “nem toda a gente é do partido” e ainda que “a principal ameaça para os nossos movimentos são as vindas de dentro”.

Se alguém ainda tem dúvidas sobre quem são esses inimigos do nosso povo, ainda podemos discutir, mas acreditamos que todos estamos tão esclarecidos que preferimos passar a frente e simplesmente alertar mais uma vez para todas as tentativas que farão para nos dividir e tentar com isso reinar: falam que contrariamente a eles, nós não somos filhos dos combatentes da liberdade da pátria, que os nossos pais viveram com os “colons” e por isso não merecemos dirigir o partido; falam que nós somos da praça, eles é que são do mato e portanto mais legítimos; falam que somos cristãos e contra os muçulmanos; falam que o nosso plano prioriza Bafatá mas se esquece de Gabu; falam muita coisa mas na verdade não dizem nada.

E nós respondemos:

Que toda a nossa ação é de homenagem e reconhecimento permanentes ao combatente da liberdade da pátria – mas no partido, os méritos não se herdam, conquistam-se (senão, tínhamos de entregar o partido às filhas de Amílcar Cabral). E a melhor homenagem ao Combatente é construir o país porque ele lutou e deu sua vida.

Dizemos que, conquistada a Independência, a liberdade e a determinação, deixamos de ser fulas, papeis, manjacos ou balantas. Passamos a ser guineenses e é nessa condição que somos todos irmãos. Não há diferença entre quem saiu da praça ou do mato (se é que isso existe mesmo) para juntos construirmos o nosso país;

Dizemos que não há um PAIGC de cristãos e outro de muçulmanos ou de animistas. Só existe o PAIGC de Amílcar Cabral, que juntos temos a responsabilidade de proteger, engrandecer e promover…

Quanto à eventual fraqueza do nosso Plano Estratégico respondemos de 3 maneiras diferentes:

• O nosso Plano é tão fraco que não conseguiram retirar nem aumentar uma única palavra;

• Tão fraco que mereceu uma promessa de ajuda internacional em 1,5 mil milhões de dólares (comparem com o Senegal e com Angola);

Mas há outras coisas que os inimigos do nosso povo tentarão continuar a fazer:

Silenciar e intimidar o povo através da censura, do sequestro e invasão da privacidade e da chantagem – a esses dizemos que não nos assustam, mas que serão capturados e responderão pelos crimes que estão cometendo. Podem bem se esconder, aqui, na Guiné ou aonde quiserem que os vamos encontrar e vamos levar à justiça;

Prisões arbitrárias, de deputados sem o levantamento da imunidade ou ainda de governantes sem nenhuma acusação formal e confirmada, só para meterem medo e tentar que se retraiam. Muito barrulho e muita confusão a propósito do “bail-out” aos bancos, uma operação normal e responsável, como se ignorassem ser os principais beneficiários.

Silenciados os órgãos de comunicação social, controladas as redes sociais e intimidados os políticos, provocada a confusão no povo com o argumento de que é um problema interno do partido (que assim fica paralisado) então podem (esperam eles):

• livremente receber aviões fantasmas de todas as proveniências, que trazem e levam cargas fantasmas dispensadas por isso do controlo das autoridades;

• negociar e comprometer os nossos recursos naturais (aqueles que se dizia que não havia condições para se explorar) – acordos de pesquisa e exploração do petróleo, dispensando o trabalho dos órgãos competentes;

• devastar a nossa floresta sem nenhuma restrição (o mesmo mato que não se cortaria logo que tomássemos posse);

É pois a tudo isso que respondemos com um sonoro não.

Não entendemos de onde vem tanta maldade, tanto ódio e tanto empenho em fazer mal ao seu próprio país, mas asseguramos da nossa maior determinação em travar esse processo e resgatar o nosso país, ultrapassar esta derradeira barreira e conquistar a paz, a estabilidade e o desenvolvimento.

Como o faremos? Qual a nossa visão? Que passos vamos dar?

I. No plano partidário:

a. Garantir a observância da disciplina e o respeito dos princípios basilares do partido – dispostos a dialogar com todos, a perdoar os que se arrependem mas não aceitaremos nenhuma chantagem nem participaremos de nenhum jogo;

b. Celebrar com a dignidade e a gradeza do nosso partido os 60 anos da sua existência com:
i. Uma conferência internacional;
ii. Uma sessão solene comemorativa;
c. Recenseamento e cadastro de todos os militantes no país e na diáspora;
d. Convenção nacional do partido - preparar o partido para os desafios futuros;

II. A nível global – propostas de saída da crise:

a. Demissão do governo ilegal e inconstitucional

b. Acordo de incidência parlamentar para:
i. Sustentação da governação
ii. Revisão da constituição
iii. Revisão da lei eleitoral

c. Formação de um governo dirigida pelo PAIGC, integrada por todos os partidos com assento parlamentar;

d. Convocar eleições em função do resultado da revisão da constituição;

Estes longos meses de crise e paralisação demonstraram quem se preocupa com o país e quem só pensa nele próprio; quem é partido politico e quem é uma associação para a usurpação do bem público;

Esclarecido o jogo, a palavra está com o povo. Eis porque a nossa responsabilidade é grande e aqui garantimos que a vamos assumir, plenamente.

60 anos de luta – 60 anos de conquistas

Viva a justiça – viva a liberdade


Viva o PAIGC - viva a Guiné-Bissau

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