A imagem de um herói nacional é importante na construção e afirmação da identidade Nacional da Guiné-Bissau. O Dia dos Heróis Nacional é uma comemoração nacional da Guiné-Bissau, em memória do Engenheiro Amílcar Lopes Cabral É na data de morte do militante numero um do PAIGC, 20 de Janeiro. A figura histórica do país foi decisivo para a independência face a Portugal.
Kpänsau Na Ysna nasceu em 1938 e morreu
em combate em 1970 em Nhagkrá. Kpänsau veio de uma família camponesa da etnia
Braasa (Balanta). Era um homem alto e de pescoço saliente. Gostava de deixar
cabelo crescer que tinha em abundancia. Vivia no sul da Guiné Bissau até aderir
à luta armada contra colonialista português.
Não demorou a se destacar em coragem.
Por sua audácia nas batalhas se confirmou na batalha de Köm (Komo), a ilha que
ele ajudou a libertar. Nesse ano, 1964 tinha apenas 26 anos de idade. Seis anos
depois morreu em Nhagkrá aos 32 anos de idade combatendo.
Mas qual é o significado do nome Kpänsau
Na Ysna na língua de Braasa?
Bem, como quase todos os nomes Braasa,
Kpänsau, também tem significado. Interpretado o nome no pé da letra, significa:
literalmente MORANÇA ACABOU ou DESMORONOU, que pode se estender para geração
acabou; minha gente acabou; meus parentes acabaram; Referindo se a exterminação
e ou a morte física.
Explicando o uso da preposição “Na”. É
uma preposição na língua Braasa correspondente a de português; “de”, “da” e
“do”, que tem a função de apontar ao clã a que pertence o individuo na língua
Braasa. Já que Braasa raramente carregam nomes dos pais juntos aos seus nomes.
Daí que deve se entender a horizontalidade e a democracia deste grupo. O filho
é do clã e não do pai.
Por exemplo: Dába “Na” Walna uma das referências
intelectuais que Guiné Bissau tem hoje (embora ele não se sente assim). Eu
nunca conheci o nome do pai biólogo dele. E, “Na Walna” que eu saiba não é nome
do pai dele. Ou seja, a preposição nos indica o clã e ou a (morança/tabanka) a
que Dába pertence.
Assim também, com meu sobrenome, “Na
Tchigna” e sucessivamente. Portanto, esse é o significado do nome do lendário
Kpänsau Na Ysna. Para não fugir da minha homenagem que rendo a ele.
Faço questão de homenageá-lo neste mês
de Janeiro do ano de 2018 que a libertação de Köm completa 54 anos. Mês em que
Köm em 1964 viu o seu valente filho a defendê-lo como terra indivisível entre
guineenses e colonialistas. Não porque o seu nome consta como nome de uma das
Avenidas de Bissau onde se situa Hospital Simão Mendes.
Quando criança, sempre fui menino
curioso e amante de história. Mas não qualquer história. Gostava de ouvir fatos
verídicos. Assim fui relatado fração do que aconteceu na batalha de Köm quando
Kpänsau Na Ysna, em vida, era comandante de Baraka Garandi “quartel-general”
naquela ilha.
Aos meus 10 anos de idade em 1980 ouvia
hipnotizado tio N’tchaagn, um dos guerrilheiros e testemunho ocular que contou
a mim fatos de Köm.
A minha pergunta a ele foi: - N’tchaagn,
abala a ba hër a Köm..? (- N’tchaagn, como foi à guerra de Kõm..?) Depois de um
jantar numa caba de arroz e peixe, ele, tomando seu vinho de cíbi (vinho de
fabricação tradicional pelos anciões Braasa), retrucou a mim:
- M’bana Bláthë, Köm key won nhunthë! (-
M’bana Bláthë, não deve lembrar-se de Köm). Olhou por espaço e como quem se
sentiu fúria. Uns segundos em silencio e pensante iniciou o conto.
Com sotaque Braasa ele disse: Köm... Köm
e Kation... - Como você não sabe ainda, mas Köm é um dos setores de Kation. Ou
seja, Catió. - De porto de Köm até aos nossos esconderijos dista-se 7 km
apenas.
Durante os combates, alguns portugueses
descrevem-na como a ilha, maldita e para outros; ilha que deixava cabelos de
qualquer um em pé. Disse para mim tio N’tchaagn.
- De Kation até ilha eu não sei. Mas
imagino que seja uma distância de 15, 20 e no máximo 30 km. E, como português estavam
aquartelados em Katió, não estavam satisfeitos em tolerar a presença de
“terroristas”, a forma como referiam a nós de PAIGC naquela época, por perto.
Prosseguiu.
Era uma afronta contra o exército português
conviver com um inimigo (PAIGC) indesejável lado ao lado. Além de mais,
Brandão, comerciante português tinha comercio florescente quase que exclusivo
sem concorrência com os libaneses na ilha. Pois havia muitos comerciantes
libaneses na então Guiné-Portuguesa que quase tomou conta do comércio.
Portanto, era interesse dos portugueses em nos expulsar de Köm definitivamente
para legitimar e assegurar a sua hegemonia.
E tio N’tchaagn deu parágrafo e toma um
gole de seu vinho de cíbi. E.., se calou! Eu como criança curiosa, estava
ansioso para ouvi-lo a continuar o conto. Ele olhou por meus olhos perceberam
que eu olhava para ele ansioso esperando a sua boa vontade em continuar a
história.
E prossegue dizendo: - E comandante
Kpänsau Na Ysna sabia disso. Pois além de informantes que nos informava sobre
manobra e a intenção de tugas na ilha ele próprio, Kpänsau, era um homem
inteligente, estrategista de guerra, um guerreiro nato, corajoso como pouco que
conheci e intransigente, quando a questão é defender a nossa posição. Não
gostava de perder.
Eu N’tchaagn nunca conheci igual. Cada
um dos nossos comandantes tem suas características próprias de comandar, mas
Kpänsau continua como lenda na minha mente até hoje. Dizia N’tchaagn, com a vós
sufocada disfarçando lágrimas entre pálpebras dos seus olhos vermelhados por
emoção. Eu sempre sou sensível! Ao vê-lo tomado pela emoção. Logo nos meus
olhos brotaram as lágrimas.
- Bláthë..! Chamando por mim
carinhosamente pelo codinome e, prosseguiu. - Kpänsau não estava dentro de Köm
no preanuncio da batalha. Estava em missão fora da ilha. Pelo que sei não muito
claro, estava lá para lado de M’brüi (Kaboxanque), Tchüm-Kpáss (Kadique) ou
Yembrém. De lá, sabendo que Köm será atacada pelo exercito português, apressou
a sua volta andando na maioria das vezes à noite atravessando; Tchüm-Kpáss
(Kadique), Flágck-N’ñandy (Ilheu de N’fandá), Kybíl, Katün e... atravessando
pântanos e bolanña (campos agrícolas), até chegar dentro de Köm.
Quando Kpänsau chegou M’bana, já havia
iniciado a guerra no dia 14 de Janeiro. Esse dia caiu semanalmente na
terça-feira. Guádn Na Ndamy e Biohctá Na M’bátcha como líderes de grupos já
estavam em Köm.
Kpänsau misteriosamente caiu enfermo. As
pernas incharam e não conseguiu andar durante duas semanas. Mas para não
alardear e criar pânico entre soldados, muitos guerrilheiro e muito menos
inimigos não sabiam. E nem podiam saber. Só Biohctá Na M’batcha e mais outros
lideres, sabiam que o lendário estava doente.
Perguntara-o se seria melhor evacuá-lo
para fora de Köm por estar doente. Logo esbravejou com voz determinante e
disse: - N’keia yânta. Bitën luza. Bbürtikìz tën luza. Köm ka wínbu. (- Não
saio “daqui”. Têm que ir “embora”.
Portugueses são os que têm que ir
embora. Köm é nosso). Depois se recuperou de inchaço nas pernas. Agora, está
invicto para uma missão quase incapaz de se realizar.
Mas para não dizer que só Kpänsau foi
quem fez tudo M’bana, podemos reconhecer três que são: o próprio Kpänsau, Guádn
Na Ndamy e Biohctá Na M’bátcha. Bravos colegas que estavam sempre por perto
obedecendo ou contestando o que convém ou não pronunciado por Kpänsau.
Contudo, as decisões partiram dele, como
comandante em chefe. A entardecer, indo para crepúsculo chamava Biohctá Na
M’bátcha para tomar vinho de palma e aliviar tensão do dia trabalhoso, analisar
ação que já tinha sido desencadeada até aqui e preparar para o amanhã.
Tio N’tchaagn parou e me pediu para que
levasse vinho de cíbi ao seu primo na varanda da outra casa ao lado. Fui e
voltei rápido. Já tinha passado 16 anos quando o conto reaparece para mim
através dele. Mas o homem combatente N’tchaagn, como contador de história nato,
lembrava com detalhe o episódio da batalha que Kpänsau dirigiu.
Continuando, disse: O - exercito
português batizou a guerra contra Köm de: “Operação Tridente”. Nas suas
imaginações recuperaria não só Köm, mas, também, Katugn, Cayar (onde ficava
batalhão da força portuguesa fornecendo reforço necessário a qualquer pelotão
de sua posição que o solicitasse.) e, se instalaram também em Kônghan.
- Estrategicamente instalaram no porto
de Köm, Katchil, N’komny, Kônghan (onde se instalou general português que
dirigiu a operação). Mas, nada que intimidasse o lendário, pois portugueses
desconheciam e ainda subestimavam o poderio da força e do grau de organização
de Kpänsau Na Yisna com seus homens, que já se encontrava bem estalados.
Sobretudo ao nível dá tática móvel que sabia usar muito bem. Disse tio
N’tchaagn já cansado.
Neste momento já se passava das 23 horas
da noite e tio N’tchaagn cansado e tomado por força de embriaguez pediu para
parar. E, paramos. Fui dormir empurrei a porta e minha mãe perguntou: - Você
não dormiu ainda M’bana? Não respondi com medo de ela me corrigir com açoite
passei silencioso para quarto. A minha mente ruminou todas as palavras e
percorreu a história toda até o sono me vencer.
Passaram se dois dias tio N’tchaagn me
pede para lhe relatar o que eu havia ouvido por ele sobre Kpänsau. Eu repeti
tudo. O que ele aprovou e disse: - Ótimo bom menino guarde bem para ninguém te
falsear com outra história que não seja essa.
Prosseguiu. - Kpänsau organizou seus
homens em dois grupos diferentes. 1º Grupos armados de guerrilha em área
territorial fixas. Esse grupo se encarregava de defender espaço aéreo de Köm,
instalando a defesa antiaérea e hospitais debaixo do chão. O grupo detinha
armamentos sofisticados que tugas não imaginavam que tivesse.
- Ao todo, nós homens de Kpänsau éramos
300 guerrilheiros armados contra 800 ou mais da força dos tugas. Eram forças
desproporcionais e, claro, com vantagem para tugas. Uma vez que para além de
800 homens, tugas tinham armas em quantidade e em qualidade superior a que
tínhamos. Tinham ainda aviões, navios e outras embarcações menores para se
deslocarem a vontades. Era facilidade que nós não tínhamos.
- Nós tínhamos armas que começava a se
iguais a algumas deles. Mas a distancia entre nós e as armas que ficava na
fronteira de Conakry era imensa. Transportá-las até a nós era uma enorme
dificuldade. Único transporte que havia era pessoas dispostas ou obrigadas a ir
a pé para buscar armas e munições na fronteira com Guiné Conakry.
- A viagem para buscar munições durava 4
a 5 dias. Isto é, se o grupo não encontrar com tugas no caminho. O percurso era
saindo de Köm: Wedë-Kaya ou Kantônaz, Ndin-Welgglè, Kandjóla, Kan, Kangnha-Ley,
Katché, Kambíl, N’gháfu, N’thâne, Banta-Silla, N’dala-Yèll, Sambassa, Linga-Yèll,
N’tchintchedaré, Yeng até fronteira de Conakry.
- Essa distância em linha reta é de
aproximadamente 160 a 200 km aproximadamente. Mas como viajantes tinham que dar
muitas voltas imagino que seja 200 a 230 km.
- Imagina M’bana, viajar essa distância
com munições pesados na cabeça? Às vezes com fome apenas bebendo açúcar cubano
misturada com água?
- Não posso ser injusto em relação ao
Kidèlé Na Arítchn sem mencioná-lo. Devo contar um pouco dele para você nessa
situação das munições.
- Quando munições chegavam ao porto,
para serem introduzidos na ilha era mais difícil de que própria luta. Tuga
estava em toda volta da ilha. E vigiando o tempo todo para ver como é que
iremos ter reforço.
- Literalmente não tinha ninguém que se
atrevesse a desafiar tugas atravessado mar para Köm. Aí que surge um único
chamado: Kidèlé Na Arítchn que enche munições numa B’sahë Në Braasa (canoa
Braasa/Balanta) e rema atravessando um mar perigoso vigiado dia e noite pela
tropa inimiga.
- Assim Kidèlé Na Arítchn forneceu
munições atravessado mar várias vezes sem se quer tugas flagrá-lo. A pergunta
que não se cala até hoje é: - Como nunca encontrou com tugas? Será que podemos
acreditar em milagre..? Coincidência ou não. Não é a toa que seus pais o
puseram esse nome de: Kidèlé. Pois significado do nome literalmente em Braasa
é: Milagre. Aconteceu verdadeiro milagre no abastecimento da guerra da ilha por
esse homem.
- Pkänsau sabia da força do inimigo e
soube admitir a sua fragilidade antes de encarar a guerra. Mas soube desafiar
tugas provocando-os pare desgaste físico, de munições e de seus aparatos
bélicos. Até mesmo com uma simples silhuetas de soldados falsos montados na
escuridão da noite tugas gastavam munições.
- Conseguiu colocar muitos combatentes
inimigos fora de combates com apenas dois e ou três guerrilheiros. Seduzia e
deslocava a marinha portuguesa para desembargar num lado quando na verdade nós
homens de Kpänsau, estávamos de outro.
- No “tabuleiro de jogo procurava deixar
as peças do campo adversário vulnerável para obter a vantagem.” Por exemplo,
“obrigava” ilusoriamente fuzileiros de tugas a desembarcar no pântano enlodado
que dificultava deslocação do inimigo. Ou num caminho estreito numa mata densa
através de alarmes falsos. E quando tugas caiam nessa armadilha era hora de nós
homens de Kpänsau tirarmos vantagem derrotando e ou danificando maior número
possível do inimigo ou de seu armamento. Da aí a expressão: “tuga ka pudi anda
na lama.” (tugas não sabem andar no lodo).
- Kpänsau conhecia os espaços favoráveis
a nós. Por isso não admitia que a amarinha portuguesa chegasse por perto e
controlasse esses locais. Atraímos tugas sempre para o lado de lodo, mangue,
trave fechado e para clareira, seguido de mato fechado onde os homens de
Kpänsau estavam fortemente armados.
- A sua firme postura na luta de Köm
encorajou até as mulheres a disparem contra barcos portugueses que se atreviam
subir nos rios floresta adentro.
- O céu da ilha era coberto de fumaça
através de disparos de canhões a partir de Kayar Kônghan e de Kambontõ contra
nós em Köm. E, por terra homens, mulheres, jovens, crianças e claro; 300
guerrilheiros liderados por lendário Pänsau Na Ysna não arredavam pé de onde
estavam.
- População de Köm sofreu. As mães com
crianças de colo amamentar sofreram e perderam vida com seus bebes que quando
choravam; a resposta da força portuguesa sem pena, metralhavam, dispararam
morteiro ou bomba napalms contra local de onde vinha choro da criança matando
população civis indiscriminadamente.
- O povo de Köm viveu situação desumana
por 75 dias. Djigân (bicho de pé) e as lêndeas de piolhos infestaram pés e
cabelos de pessoas. Muitos abandonaram a ilha desacreditando, chamando Kpänsau
de “Balanta teimoso.” Que não vai vencer guerra contra brancos.
- Chegava relatos dizendo que Amílcar
Cabral pediu que Kpänsau e que nós guerrilheiros em Köm abandonássemos a guerra
para poupar massacre que tropas colonial praticava contra populações civis, mas
Kpänsau intransigente meneou a cabeça e dizia: - Wisaguë Kanã (não acredito
nisso). Ignorou essa ordem e prosseguiu o seu trabalho. Certo de que a vitória
está próxima.
- Como se não bastasse M’bana. Um dos
nossos soldados recebeu informação triste no dia 19 de fevereiro, quarta-feira
de 1964 de que tugas queimavam arroz do Braasa deliberadamente como forma de
impedir a persistência dos guerrilheiros de PAIGC na luta. Pois sabiam que nós
Braasa (Balanta) além de mais de 90% da nossa corporação na guerrilha de PAIGC,
somos produtores de arroz em excelência que alimentavam os guerrilheiros.
- O que eu N’tchaagn esbravecei com
lamento: - Hack N’ghala, biotë bìg impanpan ni Bifilá, Biafadá kinë a binalú...
bë thëd malu ni Braasa tida. hack, Bëbábm match bu. Weñan miin yá ki Braasa a
bi ka hera.
(- Meu Deus; ignoraram impanpan de
Fulas, Biafadas de Quinára e de Tombaly... só queimam arroz dos Braasa. Então,
tuga nos detestam..? Já está claro que declararam guerra a nós Braasa!) Dizia
N’tchaagn horrorizado de lembrar aquele episódio.
- Dia 20 de Março, numa sexta-feira de
1964, quatro dias antes de terminar a guerra. Recebemos mas informação de que
agora tugas estão matando bois e vacas em Katün a tiro deliberadamente sem
levar a carne. Na clara destruição e com intenção de gerar prejuízo que desejam
provocar a nosso povo.
- Sempre as vacas e os bois de Braasa
serviram de carne para eles ao longo da guerra. Sempre que evadiam terras
Braasas pilham, saqueiam matam e escolhem dos melhores entre bois e vacas para
comer nos seus quartéis. Agora que estão perdendo a guerra estão matando sem
levar. N’tchaagn se horrorizava contando para mim.
- Nunca foram nos povoados desses grupos
étnicos para queimais seriais desse. Por representar pouco valor em
abastecimento aos guerrilheiros de PAIGC.
- Mas num só dia M’bana, antes de tu
mesmo nascer exercito português queimou neste ano, 1964 arroz na tabanka de
Kablôn, M’brüi, N’ñaaé Thúe/Tchuguê, Kátche, Kângha-lei, Kibumbän, Kambyl,
N’thäny, Saráck-Djaty, Saráck-Cull, sambassa, Botche-Thãntä, N’dala-Yièll e
próprio aroz de seu pai em Banta-Sillá. Ou seja, 14 aldeias dos Braasas
sofreram perdas de seu arroz. Por serem realmente tabankas que abrigam armazéns
de povo e que produz arroz em larga escala para abastecer PAIGC.
- Isso chegou ao ouvido de Kpänsau que
ficou em silêncio perante o informante por um segundo. Para depois responder; -
Wìì biotte Bin hera ki bo? Wil wólo kei bo tchóhg-na sifá kë sif-bu. Be mada
thedá, bë kite thët, wetè kher ka herë kantë be-fida buidn ya bitën lusa ka
botchi-bu. (– Por que não vem nos combater. Nada vai nos fazer desistir do
nosso trabalho. Que queimem arroz da nossa população, mas a guerra vai
prosseguir até que entendam que tem que sai da nossa terra) - Kpänsau Na Ysna.
- Abuso que tropas coloniais cometiam em
matar civil doía muito em Kpänsau. Mas ele sabia que era guerra psicológica que
homens de Salazar estavam pregando para intimidá-lo abandonar as armas.
- Kpänsau não se abateu e manteve firme
em lutar para libertar esse povo. Circulava pessoalmente para ver cada
desatamento como é que as coisas estavam acontecendo na linha de frente. Não
era um comandante de dar ordem e ficar no seu QG. Ao chegar à linha de frente,
via alguns famintos sem comer durante dias apenas misturavam açúcar cubano com
água e bebia para continuar entrincheirados. Encorajava com palavras tais como:
- Herá, botche-bo win (-Lutemos a terra é nossa!)
- O dia iniciava para Kpänsau a partir
de 05h00min a 6h00min. Nesse horário, toda movimentação para mais um dia
sanguerento começava-se a cronometrar. Instalado na Baranka Garandi, (comando
central de PAIGC / Seu quartel general) elaborava e decretava ordens para uma
missão quase que impossível.
- No plano teológico Kpänsau era da
crença animista. Na sua fé religiosa, reuniu anciãos, anciãs, sacerdotes e
sacerdotisas na Baraka Garande para pedir proteção e vitória. No centro de
adoração (Baloba/guardião da ilha de Köm) separou anciãos e sacerdotes das
anciãs e sacerdotisas. Sem se misturar, sacerdotes faziam sacrifícios e
consultavam Baloba/guardião. A sacerdotisa-mãe, ladeada pela sua gente,
murmuravam palavras inaudíveis pedindo proteção ao comandante Kpänsau e aos
guerrilheiros que estão combatendo tugas ferozmente.
- As arvores M’bana, testemunhavam
durante 75 dias tudo que estava acontecendo que hoje te conto. Assim foram dias
14 de janeiro (terça-feira) a 24 de Março (terça-feira) do ano de 1964 na ilha
de Köm.
ANTES
DE TERMINAR FAÇO PEQUENO ESCLARECIMENTO.
Vamos escrever a nossa história como ela
realmente aconteceu. Já ouvi muitas pessoas tentando associar vitoria de Köm a
ex-presidente Nino Vieira. Uma coisa é verdade. General Nino Vieira foi
comandante de frente Sul Sim por um período.
Mas de acordo com relatos de vários
combatentes, Nino não lutou na batalha de Köm. Estava em Conakry. Perguntei a
N’tchaagn que confirmou que realmente não viu General Nino Vieira em Köm no
momento dos combates de 75 dias. E que não sabia me precisar o que Nino estava
fazendo em Canakry. Afirmando que ouviu dizer que Nino estava internado por
motivo da doença.
Com todo respeito aos meus leitores. Eu
não sou dono de verdade. Se você tem outra versão sobre Köm a que Nino
realmente participou e dirigiu a luta de Köm entre em contato comigo. Eu M’bana
N’tchigna transferirei essa homenagem a ele. Pois o justo é justo.
CONCLUSÃO:
Enquanto isso, só posso concluir em
breves líneas que, render homenagem a Kpänsau na Ysna é mais de que homenagem.
É devolver louros a quem realmente merece. E muito mais que isso; é um olhar
profundo em direção ao resgate da nossa história.
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