O analista político Rui Jorge Semedo considerou hoje que o braço de ferro entre o Presidente guineense e os partidos com assento parlamentar inviabiliza a estabilização do país, defendendo que este é um momento de criar consensos.
“Continuar a manter braços de ferro
entre o Presidente da República e os partidos com assento parlamentar não é uma
estratégia que vai contribuir para a estabilização do país e, consequentemente,
permitir a institucionalização da democracia na Guiné-Bissau”, disse o
politólogo guineense, em entrevista à agência Lusa.
Como exemplo deste braço de ferro, Rui
Semedo referiu a ausência dos partidos políticos com representação parlamentar
num encontro que o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, fez com todos os
envolvidos no processo eleitoral.
O Presidente guineense reuniu-se na
quarta-feira com todos os partidos políticos sem assento parlamentar,
primeiro-ministro, Aristides Gomes, Comissão Nacional de Eleições, Gabinete
Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral, sociedade civil e entidades religiosas
para analisar o recenseamento em curso no país para as eleições legislativas de
18 de novembro.
Dos cinco partidos com assento
parlamentar, apenas o Partido de Renovação Social esteve presente.
O Partido Africano para a Independência
da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Partido da Convergência Democrática, União para
a Mudança e Partido da Nova Democracia não foram ao encontro, justificando a
sua ausência com a separação de poderes.
“Acho que é uma boa iniciativa, mas é
necessário lamentar a ausência dos partidos com assento parlamentar, porque o
que se precisa neste momento é a criação de consensos entre os atores políticos
e nesse aspeto direciono a minha leitura, particularmente, para a ausência do PAIGC”,
afirmou.
Para Rui Jorge Semedo, quem deveria
estar “mais interessado na construção de consensos e na condução de um processo
consensual em que todos os partidos políticos se revejam e aceitem os
resultados é o PAIGC” porque desde a “abertura política foi prejudicado pelos
jogos políticos insensatos e desnecessários”.
“O PAIGC tem de se posicionar,
sobretudo, para exigir um novo cronograma eleitoral e participar em todos os
encontros que visem promover o diálogo e o consenso entre as partes”, salientou.
Na reunião com o Presidente da
República, os partidos políticos sem assento parlamentar pediram o adiamento
das eleições legislativas previstas para 18 de novembro, porque consideram que
não vai ser possível recensear todos os eleitores até 20 de outubro, como
estabelece a lei.
O analista político guineense considerou
ainda que os cidadãos da Guiné-Bissau estão mais conscientes da sua cidadania e
começaram a analisar o desempenho dos políticos, referindo-se às ameaças de
boicote às eleições legislativas em várias zonas do país.
“Mostra uma tomada de consciência cidadã
por parte da sociedade guineense, particularmente da juventude. Já temos uma
experiência democrática de pouco mais de 23 anos e esse processo foi
acompanhado por um processo de aprendizagem por parte da sociedade guineense”,
afirmou.
Segundo o politólogo, os jovens
começaram a perceber a “deficiência e dificuldade do Governo em promover o
bem-estar social” e em resposta começaram “neste momento, que é o exato, a
enfrentar a classe política para ter um posicionamento mais responsável em
relação às suas exigências”.
Na Guiné-Bissau, considerado um dos
países mais pobres do mundo, existem muitas carências ao nível das necessidades
básicas, incluindo saúde, escolas, eletricidade, água canalizada, e falta de
infraestruturas.
“É uma situação de reivindicação que
veio numa boa altura e é um elemento de pressão. Resta aos políticos criarem
condições para assinar um pacto com essas populações, em Bissau e no interior”,
afirmou.
“Nós não podemos verificar a democracia
só pela parte negativa, esta tomada de consciência dos cidadãos pode contribuir
para melhorar o desempenho da classe política”, considerou.
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