Embora em linhas muito sumárias,
começamos por apresentar aos leitores deste Anuário alguns tópicos
significativos sobre o passado, o presente e o futuro próximo desta Igreja da
Guiné-Bissau. Isso os ajudará seguramente a compreender melhor os elementos de
informação que a seguir se apresentam e a entender o porquê do muito que se vem
tentando fazer e sobretudo daquilo que ainda falta realizar nestas terras de
missão.
1. Marcos históricos da
Igreja na Guiné-Bissau:
A criação da Diocese de Bafatá,
em 13-03-2001 (pela bula “Cum ad fovendam”), culminou um longo esforço de
evangelização, que vem já pelo menos desde o séc. XVI. As etapas mais
significativas dessa evangelização foram as seguintes:
1533 - Criação
da Diocese de Cabo Verde, onde a "terra firme de Guiné” estava também
incluída.
1867 - Criação
do Vicariato Geral da Guiné, dependente da Diocese de Cabo Verde, mas já com
certa autonomia.
1940 - Criação
da Missão “sui iuris” da Guiné: independente da Diocese de Cabo Verde.
1955 - Criação
da Prefeitura Apostólica da Guiné.
1977 - Criação
da Diocese de Bissau, em 21-03-1977, tendo como primeiro Bispo o Franciscano
italiano, Dom Settimio Arturo Ferrazzetta.
2000 - Ordenação
episcopal do primeiro Bispo guineense, Dom José Câmnate na Bissign, em
12-02-2000.
2001 - Criação
da Diocese de Bafatá, em 13-03-2001, tendo como primeiro Bispo o sacerdote
brasileiro do PIME, D. Pedro Carlos Zilli.
2001 – Inauguração
do Seminário Maior de Bissau, em 13 de Outubro.
2. A evangelização até à
Independência da Guiné-Bissau (1533-1974):
Embora desde 1533 esteja criada
a Diocese de Cabo Verde, que incluía também a "terra firme de
Guiné”(apelidada também de "rios de Guiné”), deverá dizer-se no entanto
que é sobretudo a partir de 1660 (fixação dos Franciscanos portugueses em
Cacheu, e posteriormente em Bissau) que a evangelização da Guiné se começa a
processar com carácter de suficiente regularidade.
Essa evangelização
desenvolveu-se em estilo notoriamente itinerante , ou seja, com alguns poucos
pontos de fixação (sobretudo nos hospícios de Cacheu e Bissau), e daí
irradiando depois para diferentes pontos do território, com a agravante de que,
até meados do séc. XVIII, a itinerância dos frades se espalhava muito para lá
da Guiné-Bissau actual, atingindo a sul as costas da Serra Leoa e a norte as do
Senegal. Os inícios da Evangelização no Senegal, Guiné-Conakry, Serra Leoa,
etc., devem bastante a estes primeiros missionários itinerantes, partindo da
actual Guiné-Bissau.
O número dos missionários
franciscanos da primeira missão franciscana (l660-1834) foi sempre reduzido
embora permanente, raramente ultrapassando a dezena de frades, espalhados por
Cacheu, Farim, Geba, Bissau, Ziguinchor.
Papel também de certa
importância deve ser dado aos Padres seculares , sobretudo no séc. XIX.
Enviados por Portugal, alguns deles eram naturais de Cabo Verde e de Goa. Naturais
da actual Guiné-Bissau foram bastante poucos e quase todos do séc. XIX. Para
a história, retenham-se os nomes dos seguintes sacerdotes Guineenses: dois
filhos do rei Becampolo Có de Bissau (fins do séc. XVII), um deles chamado
Francisco Costa; João Pereira Barreto; António Sanches da Gama; Filipe da Silva
Pinto; Valentim da Costa Barradas; Manuel Nicolau de Pina Araújo; e sobretudo
Marcelino Marques de Barros e Henrique Lopes Cardoso.
Em 1932 regressaram à Guiné os
Franciscanos Portugueses, em sua Segunda Missão nestas terras, que ainda
prossegue. Depois deles, entraram os Padres do P.I.M.E. (1947) e os
Franciscanos da Província italiana de Veneza (1955).
Também as Irmãs Franciscanas
Hospitaleiras Portuguesas regressaram (porque já tinham estado em Bolama de
1893 a 1900, voltando em 1933), e igualmente as Irmãs do Santo Nome de Deus
(1969) vieram dar o seu contributo, bem como as Franciscanas Missionárias do
Coração Imaculado de Maria (1970).
Desde 1940 foi entregue à Igreja
a responsabilidade das Escolas Primárias Não-Oficiais
("Rudimentares", “Indígenas”). A evangelização passou a fazer-se fundamentalmente
através dessa Escola: o professor primário das Escolas Missionárias era também
o catequista da Missão, e a própria Escola era aproveitada como local
privilegiado para o ensino da catequese. Esta fase do professor-catequista era
seguramente uma fase melhor que a fase antes de 1940, mas a catequese não
ficava ainda suficientemente autonomizada, nem era dada nas condições mais
convenientes, deixando praticamente de fora a catequese dos Adultos (que
naturalmente não frequentavam a Escola).
Além da evangelização através da
Escola, as Missões Católicas tiveram desde 1932 em diante um papel notável no
campo da Assistência e da Promoção Social . Bastará recordar o papel da
leprosaria de Cumura (desde 1955) e de tantos pequenos centros de saúde, praticamente
em todas as Missões onde estavam Religiosas. Igualmente variados internatos
dirigidos pelas missões, onde sobressaiu (e de que maneira!) o Internato de
Bor. Igualmente é de salientar a fundação e duração do jornal “0 Arauto",
que chegou a ser diário e durou 25 anos seguidos. Na respectiva
"Tipografia das Missões” se valorizaram vários trabalhadores guineenses. O
mesmo se diga de algumas Escolas-Carpintarias, a melhor das quais terá sido
provavelmente a da missão de Cumura.
3. Evangelização após a Independência
da Guiné-Bissau, criação das Dioceses de Bissau (1977) e Bafatá (2001), e
Jubileu da Diocese de Bissau (2007) :
A seguir à Independência
(proclamada unilateralmente pela Guiné em 24 de Setembro de 1973 e reconhecida
oficialmente por Portugal um ano depois), as Escolas são nacionalizadas e
consequentemente não poderão continuar a ser o veículo preferencial da
evangelização, já que o Estado da Guiné-Bissau se apresentou como um Estado
“laico”, que não quer dizer necessariamente hostil à Religião, mas sim alheio a
ela e não devendo privilegiar nenhuma das Religiões existentes.
A evangelização passa então a
autonomizar-se completamente em relação à Escola, e alarga seus horizontes.
Poderemos caracterizar a Igreja Guineense nestes anos após a Independência:
a) - Maior irradiação
pelo interior do País:
Após a criação da Diocese,
abriram-se Missões novas fora das praças principais, nomeadamente: Bedanda,
Tite, Catió, Ingoré, Bajob, Empada, Buba, Bigene, Gabú etc. Estas Missões
novas, bem como as mais antigas já existentes em várias praças do País,
estenderam-se por variadas tabancas à volta do centro da Missão, o que alarga
em muito o seu real campo de acção. Os Adultos foram agora atingidos duma
maneira muito mais visível e altamente promissora para o enraizamento da fé
nestas paragens.
b)- Maior número de
Institutos Religiosos:
Em 1974 os Institutos Religiosos
masculinos na Guiné eram três, e os Femininos também. Hoje, os masculinos são
já seis e os Femininos são dezanove, embora cada um deles tenha um número
reduzido de membros!
c)- Esforço por linhas
comuns de pastoral:
Dada a variedade de Institutos,
provenientes de diferentes países e culturas, tem vindo a fazer-se um esforço
considerável para um caminho diocesano em comum. Nesse sentido, foi possível em
1988 aprovar as primeiras linhas pastorais comuns, embora ainda em aspectos
parcelares.
Na segunda Assembleia do Pessoal
Missionário (Junho de 1991) foi possível assentar-se num objectivo comum a
curto prazo (formação de comunidades vivas), bem como na escolha de duas
prioridades a curto prazo (formação dos agentes de pastoral e valorização do
caminho catecumenal), para mais rápida e seguramente se poder caminhar para o
dito objectivo comum.
Na Primeira Assembleia Diocesana
de Pastoral, em Junho de 1996, foi possível assentar num Objectivo geral
(estabelecimento gradual da "Igreja-Família") e em quatro objectivos
específicos (formação de pequenas comunidades vivas, inculturação, formação de
todos os agentes de pastoral, pastoral familiar). A partir de 1998, começou a
fazer-se regularmente, com delegados representativos de toda a Diocese, a
avaliação do ano pastoral cessante e a programação atempada do ano pastoral
seguinte.
E, na Assembleia Diocesana de
Outubro de 2001, os objectivos específicos foram elevados para seis
(acrescentando aos quatro de 1996 mais dois, a saber: pastoral da Juventude e
Adolescência, e Diálogo inter-religioso e inter-étnico para a Justiça, Paz e
Reconciliação na Guiné-Bissau. A 1 de Novembro de 2001 o Bispo D.José Câmnate
promulgou o “Projecto Diocesano. Objectivos e Acções” E em 12 de Outubro de
2002, em celebração litúrgica comemorativa do 25º aniversário da criação da
Diocese de Bissau, foi dado solenemente início à execução desse Projecto
Diocesano (que se estenderá por um período de seis anos), difundindo igualmente
nessa altura os “Estatutos dos órgãos diocesanos de pastoral não contemplados
no Código de Direito Canónico”, bem como o Organigrama da Diocese. É uma nova
etapa que se iniciou.
d)- Intensificação do trabalho
vocacional:
No momento da Independência
havia apenas um Seminário Menor Diocesano. Neste momento existem já dois
Seminários menores (actualmente o Diocesano conta com dezoito alunos e o
Franciscano com vinte) e um Seminário Maior em Bissau. Os seminaristas de
Filosofia e Teologia, tanto diocesanos como franciscanos, que antes eram
obrigados a ir respectivamente para o Senegal, Costa do Marfim e Togo, têm
agora a possibilidade duma formação filosófico-teológica dentro da
Guiné-Bissau.
Em 1977 não havia nenhum
sacerdote natural da Guiné: hoje há já um Bispo e trinta e três Padres, bem
como dois Religiosos não-clérigos. O mesmo se diga em relação às Religiosas
naturais desta terra, que agora já são trinta e uma. Para as vocações
femininas, teve real importância a abertura da Casa de Formação Diocesana (em
Bissau 1981), secundada posteriormente por algumas Casas semelhantes de vários
Institutos Femininos. Motivo de importante significado eclesial e de grande
esperança foi também a erecção do Instituto Diocesano "Irmãs do Divino
Espírito Santo para a Evangelização” (30 de Maio de 1993), com a entrada
oficial das jovens candidatas na Casa de Formação em 19 de Setembro de 1993.
Nos primeiros passos deste Instituto nascente, as “Irmãs Filhas do Sagrado Coração
de Maria" (Senegal) estão dando uma preciosa colaboração, em atitude de
grande desprendimento e solidariedade eclesiais. Neste momento, o Instituto tem
já sete professas temporárias.
e)- Trabalho de
Evangelização e de Promoção Social:
Embora virada prioritariamente
para a evangelização explícita, a Igreja Guineense tem tido, sobretudo após a
criação da Diocese de Bissau, um papel activo nos domínios da Saúde e do
Ensino. Cada posto missionário, sobretudo onde estejam Religiosas, é
normalmente também um pequeno posto de saúde para a população local e um centro
de promoção feminina. A Diocese de Bissau possui quatro Hospitais e uma modelar
Leprosaria, bem como 11 Centros de saúde e 6 Centros de recuperação
nutricional.
No Ensino, as Dioceses de Bissau
e Bafatá possuem três Liceus próprios e duas Escolas Profissionais. A nível de
Ensino Primário e Pré-primário (Infantil), as Dioceses têm já a
responsabilidade prática de pelo menos 50 Escolas. Passo particularmente
importante foi dado em 04 de Novembro de 1993 com a assinatura do Protocolo de
Acordo entre o Ministério da Educação Nacional da Guiné-Bissau e a Diocese de
Bissau , referente à recuperação de algumas Escolas que tinham sido da Igreja e
tomadas pelo Estado no momento da Independência. O mesmo aconteceu em relação à
Saúde, com o Protocolo de Cooperação assinado entre o Ministério da Saúde
Pública e a Diocese em 05 de Novembro de 1993.
f)- Melhoramento das
estruturas diocesanas de pastoral:
Na segunda Assembleia do Pessoal
Missionário (1991) foi possível assentar numa estruturação fundamental da
Diocese no campo pastoral, sobretudo no referente ao papel do Secretariado
Diocesano de Pastoral e à figura do Delegado do Bispo para a Pastoral nos
Sectores. Algum tempo depois (30-8-91) o Bispo da Diocese de Bissau criava
efectivamente esse Secretariado, e em 31 de Agosto nomeava para primeiro
Vigário Episcopal para a Pastoral o sacerdote guineense, Padre José Câmnate na
Bissign, hoje Bispo da Diocese.
Continuando a aprofundar o
caminho duma melhor estruturação pastoral da Diocese, extinguiu-se em 03 de
Novembro de 1993 o Secretariado Diocesano de Pastoral e foram criados, em sua
substituição, dois Secretariados Diocesanos: um para a Evangelização e outro
para a Promoção Social, ambos na dependência do Vigário Episcopal para a
Pastoral. Esta divisão, porém, por falta de pessoal disponível, não deu os
resultados esperados. Em 1 de Novembro de 2001, o bispo D.José Câmnate aprovava
finalmente o novo “Projecto Diocesano – Objectivos e acções” e, em 12 de Outubro
de 2002, aprovava também os “Estatutos dos órgãos diocesanos de pastoral não
contemplados no Código de Direito Canónico”. Deste modo, se conseguiu
estabelecer com clareza a estruturação da pastoral diocesana para os próximos
seis anos, regressando-se a um Secretariado Diocesano de Pastoral, mas agora
muito mais representativo e abrangente em relação a Comissões diocesanas e
sectores de pastoral. Este Secretariado oficialmente criado a 16 de Outubro de
2003.
g)- Inauguração do
Seminário Maior de Bissau :
Em 13 de Outubro de 2001, foi
finalmente possível inaugurar oficialmente o Seminário Maior de Bissau, um
sonho do Bispo D. Settimio Ferrazzetta, que infelizmente não conseguiu ver
realizado ainda durante a sua vida, mas para cuja concretização tanto trabalhou.
O Seminário abriu apenas com o 1º Ano do Curso propedêutico, tendo por Reitor o
Padre Domingos Cá. Este primeiro Curso foi frequentado por 14 Seminaristas,
sendo 9 diocesanos, dois josefinos, dois do Preciosíssimo Sangue e um
franciscano.
Actualmente, o Seminário Maior
tem Curso Propedêutico (agora é apenas um ano), 1º e 2º Ano de Filosofia, 1º,
2º e 3º Ano de Teologia, contando com um total de 37 alunos
(11 no Ano Propedêutico, 5 no 1º e 5 no 2º Ano de Filosofia, 1 no 1º Ano de
Teologia, 2 no 2º Ano de Teologia e 13 no 3º Ano de Teologia), sendo 18
diocesanos (8 da Diocese de Bissau, 9 da Diocese de Bafatá e 1 da
Diocese de Kolda, Casamança), 10 franciscanos, 9 do
Preciosíssimo Sangue. Muito se espera deste Seminário Maior, tão importante
para a vida das duas dioceses e para uma melhor formação filosófico-teológica
de Religiosos(as) e mesmo de leigos cristãos mais empenhados.
h)- Criação da Diocese
de Bafatá e entronização de seu primeiro Bispo (2001):
Em 13 de Março de 2001, a Santa
Sé criou a Diocese de Bafatá (compreendendo as Regiões de Bafatá, Gabú, Quinara
e Tombali, bem como a ilha de Bolama) e nomeou como seu primeiro Bispo o
sacerdote do PIME, Reverendo Padre Pedro Carlos Zilli. Este seria consagrado em
sua cidade natal (no Brasil) e faria sua entrada oficial em Bafatá e tomada de
posse em 18 de Agosto do mesmo ano 2001. Foi um dia memorável, com muita
participação de cristãos de toda a Guiné-Bissau, com presença de autoridades
civis e de alguns membros de outras religiões.
O ano de 2001, com a criação
desta segunda Diocese, representa indiscutivelmente um marco histórico na vida
da Igreja na Guiné-Bissau e todas as esperanças ficam agora renovadas para um
futuro mais risonho na evangelização e promoção social das gentes do leste e do
sul deste país.
i)- 25º (2002) e 30º
(2007) Aniversários da Diocese de Bissau
(criada a 21 de Março de
1977 pelo Papa Paulo VI)
Em 2002 a Diocese de Bissau
celebrou o seu Jubileu (1977 – 21 de Março – 2002). Cinco ano
depois, em 2007, foi comemorado o 30º aniversário da criação da Diocese: trinta
anos de história, de " acontecimentos e vicissitudes que levaram a
nossa Igreja a adquirir um rosto, uma voz, um perfil próprio " (D.
José Câmnate).
j) 3ª Assembleia
Diocesana de Pastoral (26-30 de Maio de 2008)
Durante vários meses toda a
comunidade diocesana esteve empenhada em preparar um evento importante da sua
caminhada de fé: a 3ª Assembleia Diocesana de Pastoral , que
se realizou em Brá nos dias 26 a 30 de Maio de 2008, cujo lema foi: " Para
crescermos como Igreja-Família de Deus, quatro pilares essenciais: Comunhão,
Liturgia, Testemunho e Serviço ". Isso, segundo as palavras do Bispo de
Bissau, " para dar nova vitalidade às nossas comunidades,
desenvolvendo nelas uma dupla fidelidade: a Deus e ao Homem ". As
propostas e recomendações saídas desta Assembleia constituem a base para um
Plano de Acção Pastoral da nossa Diocese para os próximos anos. VER AQUI ->
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