O representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau,
José Ramos-Horta, disse que deixa o país tranquilo quanto ao comportamento
futuro dos políticos e militares. Para os guineenses, a despedida é
"dolorosa e difícil".
O “Presidente Ramos-Horta”, como é chamado em
Bissau, é tido pelas autoridades guineenses de transição como uma corporação de
bombeiros que conseguiu apagar um incêndio que ganhava proporções alarmantes
depois de golpe de Estado de 2012.
Trata-se de uma clara alusão à falta de diálogo
entre os atores políticos e militares guineenses, às divisões étnicas e religiosas fomentadas na altura, às
perseguições e espancamentos que ocorreram no período pós-golpe.
Esta quinta-feira (19.06), o representante especial
do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) despediu-se dos
guineenses após um ano e meio de mandato que iniciou a 9 de fevereiro de 2013.
O ponto mais alto desse adeus aconteceu na maior
feira a céu aberto de Bissau, com os comerciantes.
Adilé Sebastião, um dos organizadores do evento,
justificou a homenagem dos populares com o facto de Ramos-Horta ter sido o primeiro
e talvez o único diplomata que saía do escritório para apalpar a realidade
quotidiana dos guineenses.
“Queremos deixar claro e enaltecer a forma diferente
como ele exerceu a sua missão. Foi uma pessoa que saiu dos muros do seu
escritório para ir falar e conviver com os guineenses”, elogiou Adilé
Sebastião.
Problema
da Guiné-Bissau parcialmente solucionado
Na hora da despedida, Ramos-Horta, sai de cabeça
erguida por ter cumprido com sucesso a sua missão à frente do Gabinete
Integrado da ONU para a Consolidação da Paz, UNIOGBIS.
O ex-Presidente timorense afirma que o problema da
Guiné-Bissau está parcialmente resolvido.
"Nem os políticos, nem os militares, ninguém
mais, constituem problema na Guiné-Bissau. Há um compromisso da elite política, dos
novos dirigentes, todos garantiram-me que vão dialogar sempre com as chefias
militares para melhorar ainda mais o caminho para a estabilização deste país", destacou Ramos-Horta.
O representante de Ban Ki-moon prometeu ainda: “a
minha missão formal termina agora, mas vou permanecer ligado à Guiné-Bissau,
com o meu país e com o secretário-geral da ONU para continuarmos a apoiar a Guiné-Bissau".
Ramos-Horta
foi o pacificador da Guiné-Bissau
O ex-Presidente de Timor-Leste conseguiu arrastar
consigo o seu país, que foi um verdadeiro salvador da pátria guineense durante
todo o período de transição, injetando o apoio necessário para o regresso da
Guiné-Bissau à normalidade constitucional.
Daí que o analista Rui Landim veja nele um homem que
pacificou a Guiné-Bissau e que criou a confiança entre os atores políticos e os
parceiros.
Ramos-Horta constituiu "uma representação ativa
da ONU para a construção e consolidação da paz. Ele conseguiu criar confiança a
vários níveis, incluindo nos parceiros internacionais”, defende Landim. No
entanto, “era necessário que ele tivesse esse papel muito ativo, mais
pró-ativo”, conclui o analista.
Guineenses
guardam boas lembranças de Ramos-Horta
Para os militares guineenses, que também
homenagearam Horta, é extremamente difícil despedir-se do prémio Nobel da Paz
que tornou possível o que era impossível para a comunidade internacional.
Dahaba Na Walna, porta-voz dos militares, disse aos
jornalistas que a despedida de Ramos-Horta era “dolorosa e difícil, mas espera
que o representante especial do secretário-geral da ONU, um timorense de país
amigo, leve boas recordações da Guiné-Bissau para o seu povo e também que o
povo guineense fique com boas lembranças dele”.
Sobre o seu futuro, Ramos-Horta disse à imprensa que
tal pertence a Deus, às autoridades do seu país e ainda ao secretário-geral das
Nações Unidas, mas prometeu voltar à Guiné-Bissau, em setembro, para assistir à
festa de aniversário da independência do país.
O representante das Nações Unidas deixa a capital
guineense sexta-feira (20.06) a caminho de Nova Iorque onde vai apresentar ao
secretário-geral, Ban Ki-moon, um relatório sobre a situação da Guiné-Bissau.
//DW.DE
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