A norte de Calcutá, perto da cidade de Asansol,
ergue-se a obra mais querida da Madre Teresa. Chama-se Shanti Nagar, Cidade de
Paz. É uma verdadeira cidadezinha, com casas, piscina, jardins, escolas. Ali
habitam duas mil pessoas. Há apenas uma diferença em relação às outras pequenas
cidades: aqui, os habitantes são leprosos.
Esta doença tão antiga suscitou sempre repulsa.
Mesmo quando a ciência demonstrou que a lepra é menos contagiosa que as outras
doenças, o leproso continua a ser marginalizado, com violência, pela sociedade.
O bacilo da lepra não ataca órgãos vitais, mas
corrói a pele, apodrece os dedos, transforma o rosto numa máscara trágica. O
leproso, além de ser um doente, sente-se aviltado, desprezado, humilhado.
Madre Teresa pensou: “Farei uma cidade só para eles,
onde ninguém os humilhará. Lá procuraremos curá-los com os remédios mais
modernos, inventados pela ciência — as sulfamidas. Não são muito caros, são
fáceis de administrar e o efeito é seguro, se o tratamento for prolongado e
constante”.
O terreno para a “Cidade da Paz” (17 hectares)
deu-lho o rico hindu que comprou o Lincoln branco do Papa. O resto do dinheiro
serviu para começar a construção das casas.
Hoje, a “cidade” é habitada por quatrocentas
famílias de leprosos. Têm à sua disposição médicos e enfermeiros fixos. Foram
escavados catorze poços, que fornecem água de nascente às casas e ao hospital.
As escolas, bibliotecas, oficinas de tipografia, mecânica, marcenaria, fábricas
de calçado, fiação e cestaria funcionam em pleno. Jardins, hortas, pomares,
arrozais e aviários tornam a cidade praticamente auto-suficiente.
A toda a volta, um grande parque circunda de verde e
de paz a cidade.
Não é um “grande convento governado por irmãs, mas
uma pequena aldeia indiana” que se governa por si própria, segundo os antigos
costumes da Índia: todos elegem os próprios representantes, escolhendo-os entre
os mais velhos.
Os leprosos que se curam voltam para a sociedade com
um emprego que lhes dá boas perspectivas de sustentar a sua família.
O prémio “João XXIII”
Quando a construção se encontrava quase a meio, os
dinheiros recebidos da venda do Lincoln do Papa tinham acabado. Estávamos em
finais de 1970. No dia 22 de Dezembro, o Papa Paulo VI anunciou que, pela
primeira vez, seria atribuído o prémio internacional “João XXIII”: “atribuímos
este prémio a uma religiosa muito modesta e silenciosa, mas bem conhecida por
aqueles que estão atentos e admiram os heroísmos da caridade no mundo dos pobres:
chama-se Madre Teresa. De há vinte anos para cá, nas ruas da Índia, vem
desenvolvendo uma obra maravilhosa de amor e dedicação em favor dos leprosos,
dos velhos e das crianças abandonadas. Propomos à admiração de todos esta
intrépida mensageira do amor de Cristo”.
Madre Teresa foi a Roma, no dia 6 de Janeiro de
1971, e recebeu das mãos do Papa uma imagem de Jesus e um cheque de quinze
milhões de escudos. O diploma, que documentava a atribuição do prémio, dizia
assim: “É belo e significativo que nesta nossa civilização de consumo o prémio
da paz seja dado a quem se consagra aos seres mais inúteis e improdutivos da
humanidade: os leprosos, os moribundos, os diminuídos”.
Os quinze milhões, fechados num envelope azul que o
Papa lhe deu, chegaram para concluir Shanti Nagar, a cidade dos leprosos.
O silencioso e rápido desenvolvimento
A obra da Madre Teresa tem já 29 anos de vida na
Índia. 29 anos desde aquele dia em que tirou o hábito religioso da sua
congregação, vestiu o sari branco e começou a juntar as primeiras crianças
abandonadas nas ruas. A sua obra estendeu-se rápida e silenciosamente por todo
o mundo. Deitemos um rápido olhar a este desenvolvimento.
Em Calcutá, foram abertos 59 centros de caridade. Na
Índia, funcionam outras 30 obras de assistência aos mais pobres. Como prova de
reconhecimento, o governo indiano conferiu-lhe uma medalha de ouro — a
Padmashri Medal. Madre Teresa pô-la ao pescoço de uma pequena estátua da Virgem
Maria, que se ergue numa parede do Nirmal Hriday.
1965. Um pequeno grupo de irmãs, guiadas pela Madre
Teresa, abre uma obra na Venezuela, na América Latina. Ao sul de Caracas, a
região de Yaracuy é habitada por descendentes de escravos africanos,
mergulhados numa apatia e pobreza que dilaceram o coração. “Pelos caminhos
poeirentos das aldeias — escreve Maria Dainotti — grupos indiferentes passam as
horas fumando e bebendo; as crianças, sujas, esgravatam com as galinhas entre
os detritos ou misturam-se entre os cães vadios e cabras negras, enquanto nas
cabanas todas sujas, reino de maus cheiros e de desordens, as mulheres passam o
tempo tagarelando”. As Missionárias da Caridade ajudam as mulheres em casa,
ensinam a fazer pequenos trabalhos caseiros, ensinam a coser à máquina, tratam
os doentes, procuram interessar as crianças pelos jogos. 1967. O governo
budista da ilha de Ceilão expulsou, há mais de 20 anos, quase todos os
missionários católicos. Agora, pede à Madre Teresa que envie para aquela ilha
as suas irmãs, para que construam dispensários para os mais pobres, organizem
clínicas móveis, abram casas para as crianças abandonadas.
Madre Teresa chega à capital da ilha com um pequeno
grupo de missionárias. A suprema autoridade da ilha recebe-a à chegada,
aperta-lhe as mãos e diz-lhe: “Nós trabalhamos para o mesmo Deus. Atrás do
nosso templo existem alguns barracões que não nos servem para nada. Usai-os para
o vosso primeiro dispensário e peço-vos que me considereis, aqui na cidade, o
primeiro entre os vossos cooperadores”.
Missionárias em Roma
1968. Vindas de Calcutá, chegam à Tanzânia a irmã
Shanti e sete missionárias, pedidas pelo Bispo de Tabora à Madre Teresa, para
que se ocupem dos pobres acampados nos arredores da cidade. Dez anos depois,
nos subúrbios da cidade de Tabora dirigem seis dispensários (a irmã Shanti é
licenciada em medicina), ajudam os leprosos e os cegos a construir cabanas à
sua volta. Sete jovens tanzanianas vestiram já o mesmo sari das irmãs indianas.
Entretanto, nascem os “Irmãos Missionários da
Caridade”, que são já uma centena. Orienta-os o padre Andrea, um jesuíta que
recebeu também ele licença para deixar o seu convento na Austrália, para se
dedicar aos mais pobres. Os “Irmãos” apoiam a obra das missionárias e executam
os trabalhos mais duros e pesados.
Em 1969, as missionárias abrem um centro em Bourke,
na Austrália, entre as tribos aborígenas. Em 1970, surgem casas em Melbourne
(Austrália), em Amman (Jordânia), em Londres e em Roma. Na capital da
cristandade, onde vivem 22 mil irmãs de 1200 ordens diversas, estão, a pedido
de Paulo VI, no bairro das barracas do Aqueduto Felice.
Vão passando de casebre em casebre, visitando velhos
e doentes, fazem-lhes os curativos, arrumam ambientes, ocupam-se dos mais
pequeninos que ainda não são aceites nos asilos, cozinham para as famílias
cujas mães estão ausentes por motivo de trabalho.
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