
Perante tal atitude, os responsáveis do templo
aproximam-se de Jesus e pedem explicações, fazem-lhe a pergunta chave: Para
procederes desse modo, que autoridade tens e donde te vem? A questão é séria.
Está em causa a legitimidade, a honra e a honestidade, que são a base da
sociedade de então. A autoridade consiste na capacidade de influir nos
comportamentos dos outros e pode provir do nascimento e da posição social
alcançada. O seu exercício era credível se o falar e o agir em público
estivessem proporcionados ao estatuto social. Se não, era necessária outra
forma de legitimação válida. De contrário, surgia a acusação de a pessoa estar
inspirada pelo demónio.
Jesus de Nazaré tinha de se justificar. Recorre a um
modo de proceder peculiar e sagaz. Responde com uma pergunta, lançando assim um
desafio a quem o interrogava. O recurso à pergunta-desafio resulta plenamente.
“O baptismo de João provém de Deus ou dos homens”? Depois de uma discussão
clarificadora e calculista, respondem: “Não sabemos”. É que fosse qual fosse a
resposta, o comportamento adoptado por estes não era coerente e responsável. De
facto, se dissessem: “De Deus”, vinha a réplica: por que não o aceitastes? Ou
“dos homens”, temiam a reacção do povo que reconhecia João como profeta. A
pergunta hábil do Mestre surtira o efeito desejado. E para o ilustrar Jesus vai
mais longe e conta a parábola do pai que diz aos dois filhos para irem
trabalhar para a vinha familiar. E surge, de novo, em foco a questão de saber
quem procede com coerência e responsabilidade. O Mestre Nazareno “força” a
resposta, introduzindo a parábola com a interrogação:
“Que vos parece”? (Mt 31, 28-32). E acertaram em
cheio no parecer dado.
De facto, está em maior sintonia com o Pai quem,
apesar de dizer não inicialmente, muda de opinião e vai para a vinha; ao
contrário, o outro que acaba por não ir, embora tendo-se mostrado a princípio
disponível. A capacidade de mudança é uma das grandezas da liberdade humana. Em
qualquer fase da vida pode surgir a oportunidade. É preciso estar atento,
deixar-se interpelar e não perder o desafio.
Há sempre a possibilidade de um recomeço, de um
reencontro, de uma viragem em busca da sintonia com o Pai, de um reafirmar o
ser filho em comunhão, de um voltar a redescobrir o bem da família e a querer
assumir oportunamente a sua responsabilidade.
Jesus, no desejo intenso de abrir os corações dos
interlocutores, aduz o exemplo dos publicanos e das prostitutas. São como o 2º.
filho da parábola: do “não” inicial passam ao “sim” generoso e entram no reino
dos céus antes de quaisquer outros; os “herdeiros” por excelência deste reino
assemelham-se ao 1º. filho e, por isso, são preteridos. Os chefes entenderam
bem o ensinamento e, em vez de aceitarem a mensagem e se converterem,
aumentaram a vontade de, logo que possível, eliminar Jesus.
Com qual dos filhos nos identificamos? Sinceramente,
confesso que me esforço por me assemelhar mais ao terceiro, o narrador da
parábola, a Jesus de Nazaré, apesar de tantas limitações. Ele é o Filho muito
amado pelo Pai, o sim de Deus a cada um de nós e a todos. Ele é o sim da
humanidade a Deus, dado de forma plena e definitiva, coerente e responsável.
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