A crise que assola o sector educativo guineense é
severa e reflecte a realidade de desordem que afecta o Estado na sua essência.
É inimaginável construir um país moderno alicerçado nos fundamentos
universalmente aceites sem consagrar uma especial atenção à área da educação,
em particular do ensino. No nosso país, o sector educativo nunca teve
tratamento profundo e merecido. Reflexões foram feitas, documentos importantes
editados, mas na prática, a educação permanece uma autêntica desordem. Os
discursos bonitos dos dirigentes sobre esta área chave nunca são seguidos de
uma estratégia abrangente e ambiciosa.
A iniciativa do governo em proceder à abertura do
ano escolar em pleno processo de matrícula nas escolas públicas e numa altura
que os Sindicatos do sector reclamam pelo pagamento de dívidas de uma parte de
docentes. É prova da forma “politiqueira e leviana” como o sector do ensino foi
sempre gerido por sucessivos governos.
Em quatro décadas, o ensino guineense tem oscilado
entre improviso e amadorismo na gestão das questões fundamentais designadamente
as condições de existência dos docentes, as infraestruturas escolares precárias
(scolas di krintin), salários miseráveis, uma taxa de horas lectivas mais baixa
de África. A consequência dessa situação caótica associada à falta da vontade
política, o ensino guineense encontra-se mergulhada numa penúria total.
Torna-se difícil de afirmar que este país dispõe de um sistema educativo. A
consequência é nefasta no processo da construção de instituições de Estado na
medida em que, há muito tempo, o “saber fazer” foi sepultado no túmulo de
conformismo e substituído com “tentar fazer na medida de possível”.
Ao longo de anos, o nosso ensino, formatado, no
Ministério de Simplificação, Improviso, e Gestão de Greves, não podia ser hoje
outra coisa senão um sistema de ensino incapaz de promover a cultura do mérito
como valor essencial da competitividade pública ao serviço da sociedade. Em 40
anos de independência, de acordo com os dados disponíveis, a taxa de
analfabetismo perto de 60 por centos. Uma autêntica certidão de fracasso
colectivo para o nosso país. É triste para uma terra que já produziu milhares
de quadros por mundo fora. Na nossa consciência coletiva paira a sensação que
melhores progressos podiam ser realizados no sentido da edificação de um
sistema educativo de qualidade e reconhecido no mundo.
O actual estado caótico que afecta o ensino nacional
apesar de ter raízes profundas no solo da anarquia institucionalizada, pode ser
alterado positivamente. É possível mudar radicalmente os maus indicadores que
fazem do nosso país, um dos piores alunos no campo de investimento no sector
educativo.
É hora de inverter a tendência através de uma nova
aposta assente na promoção da meritocracia, organização, rumo a um sistema educativo
sustentado pela planificação. É preciso construir muitas infraestruturas e
levar a escola para todo o canto do país. Uma universidade pública concebida na
base da exigência qualitativa deve aparecer para ajudar a erradicar a
proliferação anárquica de “institutos de formação” que inundam a cidade de
Bissau. É preciso a introdução de colégios em todos os sectores do país com
vista a acabar com o fenómeno de “migração escolar” e de fluxo de campo para
cidade.
Num mundo onde reina cada vez mais a competitividade,
o nosso país para sobreviver não tem outra escolha senão a de pugnar pela via
da valorização do saber como o único mecanismo conducente ao desenvolvimento
sustentável.
//Odemocrata
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