sábado, 18 de outubro de 2014

Guiné-Bissau, ensino obsoleto, estado débil…



A crise que assola o sector educativo guineense é severa e reflecte a realidade de desordem que afecta o Estado na sua essência. É inimaginável construir um país moderno alicerçado nos fundamentos universalmente aceites sem consagrar uma especial atenção à área da educação, em particular do ensino. No nosso país, o sector educativo nunca teve tratamento profundo e merecido. Reflexões foram feitas, documentos importantes editados, mas na prática, a educação permanece uma autêntica desordem. Os discursos bonitos dos dirigentes sobre esta área chave nunca são seguidos de uma estratégia abrangente e ambiciosa.

A iniciativa do governo em proceder à abertura do ano escolar em pleno processo de matrícula nas escolas públicas e numa altura que os Sindicatos do sector reclamam pelo pagamento de dívidas de uma parte de docentes. É prova da forma “politiqueira e leviana” como o sector do ensino foi sempre gerido por sucessivos governos.

Em quatro décadas, o ensino guineense tem oscilado entre improviso e amadorismo na gestão das questões fundamentais designadamente as condições de existência dos docentes, as infraestruturas escolares precárias (scolas di krintin), salários miseráveis, uma taxa de horas lectivas mais baixa de África. A consequência dessa situação caótica associada à falta da vontade política, o ensino guineense encontra-se mergulhada numa penúria total. Torna-se difícil de afirmar que este país dispõe de um sistema educativo. A consequência é nefasta no processo da construção de instituições de Estado na medida em que, há muito tempo, o “saber fazer” foi sepultado no túmulo de conformismo e substituído com “tentar fazer na medida de possível”.

Ao longo de anos, o nosso ensino, formatado, no Ministério de Simplificação, Improviso, e Gestão de Greves, não podia ser hoje outra coisa senão um sistema de ensino incapaz de promover a cultura do mérito como valor essencial da competitividade pública ao serviço da sociedade. Em 40 anos de independência, de acordo com os dados disponíveis, a taxa de analfabetismo perto de 60 por centos. Uma autêntica certidão de fracasso colectivo para o nosso país. É triste para uma terra que já produziu milhares de quadros por mundo fora. Na nossa consciência coletiva paira a sensação que melhores progressos podiam ser realizados no sentido da edificação de um sistema educativo de qualidade e reconhecido no mundo.

O actual estado caótico que afecta o ensino nacional apesar de ter raízes profundas no solo da anarquia institucionalizada, pode ser alterado positivamente. É possível mudar radicalmente os maus indicadores que fazem do nosso país, um dos piores alunos no campo de investimento no sector educativo.

É hora de inverter a tendência através de uma nova aposta assente na promoção da meritocracia, organização, rumo a um sistema educativo sustentado pela planificação. É preciso construir muitas infraestruturas e levar a escola para todo o canto do país. Uma universidade pública concebida na base da exigência qualitativa deve aparecer para ajudar a erradicar a proliferação anárquica de “institutos de formação” que inundam a cidade de Bissau. É preciso a introdução de colégios em todos os sectores do país com vista a acabar com o fenómeno de “migração escolar” e de fluxo de campo para cidade.

Num mundo onde reina cada vez mais a competitividade, o nosso país para sobreviver não tem outra escolha senão a de pugnar pela via da valorização do saber como o único mecanismo conducente ao desenvolvimento sustentável.

//Odemocrata

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