Sentado no monte das Oliveiras, Jesus
contempla Jerusalém e o seu Templo, de onde havia saído após o episódio da
viúva que deitou todos os seus haveres na caixa de esmolas. E desabafa com os
discípulos que lhe chamam a atenção para a grandiosidade da cidade e das suas
contruções: “Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. Refere-se Jesus
ao futuro imediato e longínquo: à sua paixão e morte, à invasão e destruição da
cidade pelo exército romano e ao feixo da história, ao findar do tempo, à
chegada de “uma nova primavera” da vida, à inauguração da eternidade feliz.
Marcos, o autor da narrativa, escreve
mais tarde o seu evangelho e reveste esta “profecia” com uma linguagem
codificada que só os iniciados entendiam. É a linguagem apocalíptica, com
imagens dignas de um filme de ficção, de terror e angústia, mas portadoras de
uma enorme esperança e elevação. De facto, é preciso, penetrar na “carruagem”
vendo para além da “aragem” e situar a interpretação do texto na época e na
cultura em quue foi escrito. Mc 13, 24-32. A apocalíptica destina-se a dar
conforto em tempos de desânimo e de tentação, de deserção, de perseguição e de
morte. É, normalmente, uma linguagem imperceptível pelos verdugos e entendida
pelas vítimas. Vamos destacar algumas dessas imagens com a intenção de fazer
despertar o sabor da mensagem que Jesus nos oferece.
O sol escurece, a lua perde claridade,
as estrelas deixam de brilhar e as forças celestes são abaladas nos seus
fundamentos. Esta ocurrência, em circuito fechado, sem mais horizontes, gera
angústia, aflição, pânico. No entanto é o cenário em que emerge uma nova luz que
é o Filho do homem, isto é Jesus ressuscitado, após o tormento da sua paixão e
morte. É Jesus que vem reunir os seus eleitos de todo o mundo e de todos os
tempos, vem estar com a nova humanidade, contemplar as cicatrizes das suas
feridas curadas, congratular-se com a sua vitória. É tempo de encontro, de
alegria, de convívio, de festa.
A narrativa refere, sobretudo, as
atitudes de quem vive estas situações e não tanto os acontecimentos e os
pormenores em que ocorrem. Atitudes de esperança confiante, de alegria
transbordante, de vida nova a pulular como em primavera exuberante. E não de
medo e angústia que paralisam energias de vida e frustam aspirações de
realização feliz.
Trata-se do final de um mundo de
tribulação, de tristeza, de enfermidade, de injustiças, de morte. A nível
pessoal e cósmico. A vinda e presença definitiva de Jesus é motivo de maior
consolação e confiança para toda a humanidade; é certeza firme de ser Aquele em
quem cremos e confiamos, que desejamos seguir e escutar. Aquele que melhor nos compreende
e mais quer o nosso bem.
A nossa vida está orientada para este
encontro feliz e definitivo com Jesus. Ele virá e está a vir nos sonhos do bem
e do belo, nas aspirações genuínas do coração, na busca sincera da verdade que
robustece as motivações da consciência. Ele trará e está trazendo já a alegria,
a paz, o amor de doação, as oportunidades de solidariedade positiva. Ele gerará
e já está gerando a esperança que nos faz cantar exuberantemente como as aves
na primavera, como o agricultor ao contemplar a sua figueira. O frio do inverno
cede a vez ao calor do verão e os rebentos aos figos maduros que fazem a
delícia do lavrador.
Este é o anúncio que Deus nos promete em
Jesus e nos envia a anunciar por toda a parte. O seu triunfo definitivo implica
também o nosso. A sua palavra é para sempre. O modo e a data da “passagem” do
que é transitório e caduco, embora muito valioso para o tempo da peregrinação
terrena dos mortais, estão no segredo de Deus; de certeza que acontecerá quando
for o melhor para cada um de nós e para todos. Garante-o a fé cristã.
Entretanto, avisados como estamos, preparemo-nos para a festa da nova
humanidade prometida por Jesus e para a qual somos convocados.
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