Este Sábado, 16 de Janeiro de 2016, o
PAIGC produziu um comunicado condenando as Forças Armadas da Guiné-Bissau por
terem alegadamente garantido segurança e/ou escolta aos 15 deputados “expulsos”
da ANP. O Comité Central do PAIGC responsabilizou o Presidente José Mário Vaz
por quaisquer consequências que possam advir dessa medida.
Desconhecendo as informações
confidenciais à posse de José Mário Vaz e a razão da sua decisão executiva,
pergunta-se: quais são as “competências estatuárias” do Comité Central para
proibir o Supremo Chefe das Forças Armadas de garantir segurança física aos
cidadãos do seu país?
Muitos devem desconhecer a razão
principal da permanência das forças da ECOMIB na Guiné-Bissau. À luz dos
acordos estabelecidos com a CEDEAO, elas encontram-se na Guiné-Bissau para não
só proteger as instituições de Estado, mas também as personalidades políticas
do país. Portanto, os mesmos políticos que se mostram indignados com a
protecção dos outros, são os mesmos políticos que – à custa do orgulho e da
soberania nacional -- recebem as melhores protecções, em termos de segurança
física e humana.
Ironicamente, estes políticos foram os
mesmos que há menos de um ano providenciaram medidas unilaterais de segurança
para proteger um único cidadão nacional, na pessoa de Contra-almirante José
Zamora Induta, o ex-chefe de Estado Maior das Forças Armadas. De recordar que
Zamora Induta recebeu um tratamento “especial” por parte do Conselho de
Ministros da Guiné-Bissau que, na sua reunião do dia 28 de Julho de 2015, lhe
ofereceu segurança pessoal, 24 horas por dia, na sua residência pessoal.
Aliás, no seu discurso à nação no dia 6
de Agosto de 2015, o então Primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, declarou
que “o governo limitou-se a garantir a sua segurança e preservação da
integridade física”. Acredito que o PR José Mário Vaz terá a tarefa fácil de
copiar o mesmo argumento, citando os mesmos motivos.
De recordar que sobre o Contra-almirante
impendem várias acusações de crimes: alteração da ordem constitucional,
organização terrorista, associação criminosa, entre outros. Similarmente, em
Abril de 2014, o Supremo Tribunal Militar concluiu que Pansau N'Tchama, a mando
de Zamora Induta, tentou subverter a ordem constitucional no país, numa
operação que teria sido preparada a partir da Gâmbia. Apesar de ter sido
condenado à prisão, o Capitão N'Tchama foi mais tarde indultado pelo PR Mário
Vaz.
Mas, assumindo a noção da presunção da
inocência, ninguém contestou o facto de Zamora Induta ter recebido protecção
por parte do Governo de Domingos Simões Pereira. E ninguém questionou também os
motivos do executivo. Todavia, será que a vida e a integridade física doutros
cidadãos nacionais têm menos valor?
Afinal de contas, foram nessas tristes e
estranhas circunstâncias que muitos políticos guineenses perderam as suas
vidas. E falando do PAIGC, quero vos lembrar os nomes de Hélder Proença, Baciro
Dabo, para além doutros que ainda continuam desaparecidos e presumivelmente
assassinados, nomeadamente Roberto Cacheu. Paz às suas almas! Portanto, como
esses trágicos exemplos demonstram, não é nenhuma paranoia estar a tomar medidas
úteis no sentido de proteger qualquer cidadão, cuja vida aparente estar em
perigo, sobretudo no interior do país onde há uma notável escassez de forças
policiais.
Por fim, e se me perguntarem, diria que
o grande perigo que se coloca agora é o grave facto de que alguma franja
política guineense esteja a tentar veementemente envolver os militares nos
assuntos políticos do país. Felizmente, eles têm sabido assumir uma atitude
republicana, contendo assim os seus ânimos e evitando, a todo o custo, o seu envolvimento
nas actuais querelas políticas.
Na iminência da alegada (e já propalada)
intervenção das forças policiais na ANP para impedir a entrada dos 15 deputados
em causa, esta segunda-feira apresentar-se-á como o maior teste para as Forças
Armadas da Guiné-Bissau, em termos de contenção.
Mas, como todas as vidas são preciosas,
a iminência do perigo não deve ser simplesmente ignorada. O pior deve ser
evitado, sem demora e sem hesitações. A defesa da vida humana deve constituir
sempre uma obrigação divina e sagrada.
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.
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