Ex-presidente Serifo Nhamadjo fala da
crise vigente no PAIGC e afirma: «Eu não faria parte do problema, mas sim da
solução»
O ex-Presidente da República de
Transição, Manuel Serifo Nhamadjo, culpa os veteranos do PAIGC pela crise
profunda do partido libertador cujos militantes e dirigentes estão em rota de
colisão. Em entrevista exclusiva à Rádio Makaré-FM, difundida esta
segunda-feira, o ex-Chefe de Estado afirmou que “não se pode resolver um
problema intensificando-o.”
“Se fossemos nós a gerir esse conflito,
garanto que não se chegaria ao extremismo que se verifica. Tenho plena certeza
disso porque a resolução de qualquer problema está em duas partes. Se alguém
quisesse criar problema far-lhe-ia ver que não estava interessado nisso;
far-lhe-ia ver que tinhamos que procurar soluções. Eu não faria parte do
problema, mas, faria tudo para ser parte da solução do problema”, garantiu
Nhamadjo.
No entender do ex-Presidente da
República de Transição, “enquanto não houver parte que ceda, demonstrando
humildade, não iremos a lado nenhum. Duas pessoas quando se digladiam, não se
pode meter ao meio pois aumenta a crise, faz crescer ódios e as perspetivas de
vingança tornam-se cada vez maiores”.
Sobre as contradições internas no PAIGC,
que resultaram na expulsão de 15 dirigentes e a consequente perda de mandatos
na ANP, como deputados, o ex-chefe de Estado garante que em nenhum momento se
pode sancionar um deputado por emitir a sua opinião.
“Ora, se isso foi tão baralhado ao ponto
de se dizer que pode-se tirar-lhe o mandato para expulsa-lo, bem, as
interpretações, como se diz, “cada um, leva à sua razão”. Mas, quem pode
dirimir esse conflito são os próprios atores que estão em conflito porque,
eles, sendo da mesma casa política, tratando-se, suponho eu, de gente que tem
os mesmos objetivos para o país deviam ver a melhor saída negociada ao invés de
chegar ao extremismo, isto é, até ao ponto de tentarem expulsar-se uns aos
outros”, explica Nhamadjo.
Na opinião do ex-chefe de Estado, as
partes “chegaram nesta fase, a meu ver, por falta de capacidade de negociação,
falta de capacidade de diálogo, falta de paciência e, talvez, falta de
humildade”.
“As pessoas não podem pretender
continuar, como se fazia no passado em que bastava ser de opinião contrária
para ser apontado como inimigo”, disse.
Para El Hadj Serifo Nhamadjo, os
principais responsáveis pela crise no PAIGC são os veteranos que deviam servir
de “reserva moral” aos mais novos. Mas que, infelizmente, não souberam jogar o
seu papel de “apaziguadores”.
“Eu culpo, em grande medida, dois
grupos: os mais velhos e os históricos, que deviam segurar a máquina do Partido
não para serem executores mas, para serem núcleo de reserva moral que devia
estar no Partido. Quando nós, os mais jovens, estivéssemos errados, que nos
mostrassem que o caminho adotado não era o melhor, que nos dissessem “erramos
nessa via, não errem na mesma via”. Manter-se como reserva moral de
aconselhamento para ajudar os jovens que têm cada vez maior ambição de fazer mais
e melhor para dar continuidade à brilhante luta do PAIGC para se poder
trabalhar como deve ser. Mas, infelizmente, quando há um pequeno problema os
históricos dividem-se e, por arrasto, levam os jovens”, afirmou o ex-Presidente
da República.
Recorde-se que Manuel Serifo Nhamadjo
foi deputado, presidente da ANP, e, mais recentemente Presidente da República
durante o período de transição política que se seguiu ao golpe de estado de
2012. Depois das eleições de 2014, foi felicitado pela forma como conduziu o
processo de transição no país.
É considerado em muito meios como um
potencial candidato a liderança do PAIGC e também, um potencial presidencial
nas próximas eleições.
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