sábado, 10 de fevereiro de 2018

JESUS COMPADECIDO CURA O LEPROSO. APRECIA


Um leproso vem ter com Jesus. Ousa transgredir regras muito rigorosas de higiene pública. Expõe-se e corre riscos de morte. O contágio era fácil e perigoso. A sociedade protegia-se. Além disso, a lepra como outras doenças, tinha conotação religiosa. Fazia a pessoa impura, com uma relação negativa com Deus, culpada por algo que tivesse feito, amaldiçoada. Devia ser evitada a todo o custo.

Que experiência dolorosa e humilhante! Apesar disso, expõe-se e transgride, avança no desejo de recuperar a dignidade perdida e a liberdade cerceada. Ousa o inacreditável e, cheio de coragem e confiança, aproxima-se, ajoelha e suplica: “Se quiseres, podes curar-me”. Que força interior move as suas energias e alenta a sua esperança. Que firmeza de convicções manifesta e transmite. Que expectativas alimenta nos passos que dá para realizar o seu sonho: ser alguém com nome próprio, ir ao culto religioso na sinagoga, ser membro da sociedade e poder andar em público sem restrições.

O leproso é também um símbolo de grandes maiorias humanas que se arrastam na vida por carências sem conta: desnutrição por fome, migrações forçadas por guerras impostas e alterações climáticas, falta de água e de outros bens indispensáveis à saúde, conflitos e violências, perseguições étnicas e religiosas. Ou ainda nas sociedades de “bem-estar” o isolamento e a solidão, as desigualdades irritantes, o individualismo egoísta, a exclusão e marginalização das minorias, a “ditadura” das ideologias e, por vezes, da opinião publicada. Tudo isto, e muito mais, apesar dos avanços admiráveis em tantas áreas da nossa humanidade.

Marcos, o autor do relato (Mc 1, 40-45), adopta um estilo diferente do habitual na narrativa. Deixa em aberto a identidade do leproso. Não se sabe quem é, nem donde vem, nem o local do encontro. Para ele, o importante é a atitude de Jesus, a força sanadora que possui, a compaixão que sente e o gesto que faz. Para ele, o importante é que os discípulos saibam que a lacuna não é esquecimento, mas oportunidade, para cada um fazer o encontro pessoal com Jesus, nas situações mais sofridas da vida, sem medo prudente a “sujar as mãos”, nem a perigos de contágio.

O Papa Francisco, ao falar à multidão no domingo passado, sublinha que, durante a maior parte da sua vida pública, Cristo está “no meio da multidão, no meio do povo”, pregando o Evangelho “no meio da gente”. “É uma humanidade marcada por sofrimentos, cansaços e pobrezas. A essa pobre humanidade é dirigida a ação poderosa, libertadora e renovadora de Jesus”. E adianta que o “anúncio do Reino de Deus, por parte de Jesus, encontra o seu lugar adequado na rua”. Ele “não veio trazer a salvação num laboratório”. E lembra que “a rua, como lugar do anúncio alegre do Evangelho, coloca a missão da Igreja sob o signo do andar, do movimento, nunca estática”. “A cura do corpo destina-se à cura do coração”.

A súplica do leproso encontra ressonância de compaixão em Jesus. Faz remexer as suas entranhas de misericórdia. Assume a situação problemática, sintoniza com o desejo expresso e reage com prontidão espontânea. Que segredo desvenda esta atitude. É uma constante no seu agir. Nada o detém: nem olhares de controlo farisaico ou receios do que possa acontecer. E Marcos na sua narração adianta: “Estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero, fica limpo»”. E a lepra deixou-o. Ele ficou limpo. Que brecha introduz no sistema social e religioso de exclusão e marginalização! Que que caminhos de liberdade abre a quem vier a ser discípulo missionário! Gesto belo, arriscado, escandaloso. Mas a pessoa está primeiro. Nada no mundo tem o seu valor.

Que vibrações interiores terá vivido o recém curado! De novo, com os seus. De novo, em liberdade. De novo, a dispor de si. De novo, a assumir atitudes responsáveis. Agora, parece ter uma única preocupação. Diz Marcos: “Logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera”. Agora, predomina a força do testemunho da acção sanadora que o beneficiou e que não pode calar. Ainda que esquecendo a obrigação de se apresentar no Templo ao sacerdote e fazer a sua oferta para ter um certificado oficial de cura. Agora, a graça supera a lei e dá-lhe um novo sentido.

Hoje, celebra-se o Dia Mundial do Doente. Na sua mensagem, o Papa Francisco afirma que: “Jesus deixou, como dom à Igreja, o seu poder de curar… Ao dom de Jesus corresponde o dever da Igreja, bem ciente de que deve pousar, sobre os doentes, o mesmo olhar rico de ternura e compaixão do seu Senhor. A pastoral da saúde permanece e sempre permanecerá um dever necessário e essencial, que se há de viver com um ímpeto renovado começando pelas comunidades paroquiais até aos centros de tratamento de excelência. Não podemos esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas famílias acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes crónicos ou gravemente incapacitados. Os cuidados prestados em família são um testemunho extraordinário de amor pela pessoa humana e devem ser apoiados com o reconhecimento devido e políticas adequadas. Portanto, médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes, participam nesta missão eclesial. É uma responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço diário de cada um”. Também o teu. Aprecia e gera dinamismos de cura.

Sem comentários :

Enviar um comentário


COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.