Tendo nascido com um problema físico que o
impedia de andar, Sundiata Keita superou a sua deficiência para unificar os
reinos fragmentados da região e criou o vasto Império do Mali. Ficou no poder
quase 20 anos.
Sundiata Keita é uma figura heróica que
ainda hoje é elogiada nas canções dos griots, contadores de histórias
tradicionais da África Ocidental. De acordo com a tradição oral, Sundiata Keita
nasceu com um problema físico que o impedia de andar, e que superou graças à
sua determinação (e alguma feitiçaria). Tornou-se um grande caçador, um
poderoso guerreiro e um estratega militar hábil que unificou os reinos da
África Ocidental que pertenciam ao povo mandingo, também conhecido como
Mandinka ou Malinke.
Nasceu: por volta do final do século XII
no canto noroeste da atual Guiné. Sundiata era filho de um rei. Enquanto vivia
no exílio (não se sabe por que razões), ele reuniu chefes de mandingo para,
juntos, combaterem contra o cruel Rei do Sosso, outra tribo da África Ocidental
que havia conquistado muito território mandingo. Por volta de 1235, Sundiata
Keita liderou os chefes numa batalha decisiva e venceu. A vitória marcou o
início do Império do Mali.
Reconhecido: por várias razões. Em
primeiro lugar, é visto como tendo sido o alicerce do Império do Mali, que se
estendia da costa da África Ocidental para o rio Níger e além. Era um dos
maiores impérios africanos.
Acredita-se também que Sundiata Keita
tenha introduzido um sistema de governo central e unificado dezenas de
diferentes grupos étnicos que viviam dentro do império - o que garantiu a
futura unidade do Império do Mali e ajudou na sua prosperidade. Sundiata Keita
atribuiu terras, direitos e deveres a todos. Diz-se que proclamou, em Kurukan
Fuga, a "Carta do Mandinga", considerada uma das primeiras
declarações de Direitos Humanos no mundo (embora em forma oral).
Sundiata Keita ficou ainda conhecido pelo
seu caráter e determinação. Conta a lenda que, depois de ter visto a sua mãe
ser humilhada, o jovem, que nasceu com uma deficiência motora, conseguiu andar
para a defender.
Sundiata
Keita existiu mesmo?
Também conhecido como o "Rei dos
Reis" ou o "Rei Leão", Sundiata Keita é aquilo a que se chama
uma figura semi-lendária. Fontes escritas, principalmente de comerciantes e
viajantes árabes, parecem verificar a sua existência, mas são escassas,
deixando os historiadores dependentes da informação proveniente dos contos
orais dos griots. Os contos, que foram passados de boca em boca desde o século
XIII, antes de serem escritos por estudiosos franceses na década de 1890,
sofreram variações. Além disso, existe uma possibilidade de que os fracassos do
imperador tenham sido negligenciados para que subsistissem apenas os seus
louvores.
Sundiata Keita é ainda hoje muito
prestigiado, quer no Mali, quer nos países vizinhos. Segundo a tradição oral,
Sundiata nasceu com um problema físico, no entanto, tornou-se um guerreiro. Foi
exilado, mas voltou com um poderoso exército para lutar pela sua terra natal.
Conhecido também como "Rei Leão”, unificou os clãs da tribo Mandingo e
fundou o império medieval do Mali.
Sundiata Keita "era o maior entre os
reis", dizem os griots. Mas era também um grande caçador, guerreiro e
político, acrescentam os historiadores que analisaram os contos dos griots. Um
desses historiadores, Seydou Camara, também professor de História na
Universidade de Bamako, no Mali, explica, em entrevista à DW, que Sundiata
Keita unificou o Reino Mandingo. "O Mande era composto de clãs. Havia o
Traoré, o Keita, o Camara, o Koné e assim por diante. Sundiata trouxe de novo a
paz ao seu país. Incentivou a agricultura e o comércio. Ele desejava conceber
um grande império: um império vasto, desenvolvido, unificado, forte e próspero.
Era esse o seu sonho", explica.
Um
olho em todos os setores
O "Rei Leão" ficou quase 20 anos
à frente do seu império e, não só desenvolveu o comércio e a agricultura, como
também se opôs à escravidão e práticas de comércio humano. E não só. Segundo o
historiador Seydou Camara, Sundiata "promulgou leis sobre a proteção da
natureza e a preservação do estatuto social, leis sobre mulheres, estrangeiros,
deveres e sobre direitos".
Sundiata não teve uma infância fácil.
Apesar de ser filho de um rei, nasceu com uma deficiência motora que o impedia
de andar e era odiado por um dos seus irmãos mais velhos. No entanto, o facto
de ser diferente e de ter nascido com uma debilidade física nunca foi para ele
um problema - o que para os "griots" era um sinal da sua força moral.
Factos
vs Ficção
Nos seus contos, o sobrenatural desempenha
um papel importante. Prova disso é a descrição do dia em que Sundiata caminha
pela primeira vez. "Depois de recuperar a respiração, o filho do rei
deixou cair a bengala. A multidão ficou de um lado e os seus primeiros passos
foram de um gigante. Abram alas, abram alas, abram alas, o leão está a andar,
disse a multidão", lê-se.
Falar de Sundiata Keita é ter presente a
dificuldade de separar os factos da ficção. Como explica Seydou Camara, há que
em conta e perceber quais os contornos da tradição oral. "A história é
mantida através da memória. Mas sabemos que a memória é frágil e as tradições
orais também podem concentrar os acontecimentos de vários séculos num único
século, numa única pessoa. Estes são os obstáculos que se enfrentam quando o
assunto é a tradição oral", explica.
Um ponto em que as diferentes versões da história
parecem concordar é que foi por volta de 1235 que Sundiata Keita derrotou o Rei
Sosso, Soumaoro Kanté, abrindo caminho para a instauração do Império do Mali.
Um ano depois, os 12 reinos da África Ocidental estavam unidos.
A Carta do Mandinga, considerada pela
tradição oral a Constituição do Império do Mali, foi incluída na lista do
Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO) em 2009. O legado de Sundiata Keita, o "leão Mandingo",
sobreviveu ao longo dos tempos.
Tamara Wackernagel, Sidiki Doumbia e
Philipp Sandner contribuíram para este trabalho. O projeto "Raízes
Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel. Com DW
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