No odemocrata
Nunca se viu, depois dos primeiros anos da
independência nacional, os guineenses tão unidos e a fazerem juntos a limpeza
dos seus bairros, tabancas, sectores e regiões. Não se consegue descortinar, no
seu seio, quem é do PAIGC, do PRS ou quem é militar e paramilitar. É bom ver e
viver de perto este clima da união dos guineenses onde todos falam do que nos
une e nos liga enquanto guineenses.
Fez-nos recordar os bons velhos tempos de trabalho
voluntário, após-independência, onde mostrávamos a nossa ligação à pátria sem
cores partidárias, étnicas e religiosas. De Norte a Sul e do Leste a Oeste
todos saíamos à rua com sorriso de orelha à orelha para limparmos o nosso
bairro, tabanca, setor ou região sem pensar nos partidos políticos ou no
fanatismo do clubismo. Foi bonito ver uma festa e um delírio de patriotismo a
guineense que ainda resta na pátria de Amílcar Cabral. A participação dos
jovens na campanha da limpeza nacional do país fez-nos lembrar os primeiros
anos da luta armada da libertação nacional, em que os jovens, na altura,
colocaram a sua energia e a sua vitalidade juvenil ao serviço da libertação da
nossa pátria.
Foi bonito ver toda esta união nacional em prol da
estabilização do país em que a limpeza servia do elo de ligação entre os velhos
e os jovens. Mas, infelizmente, foi necessário estarmos perante uma ameaça
iminente do Ébola para trazermos a ribalta a nossa consciência patriótica e a
nossa dignidade nacional que vendemos há vinte anos da experiência da
democracia multipartidária. É mesmo caso para perguntar “será que Ébola é fator
da União dos guineenses?” será que se não houvesse Ébola o governo não teria
outra iniciativa que pudesse congregar a família guineense? A resposta às duas
questões encontra-se no discurso dos nossos governantes que participaram na limpeza.
Alguns deles transformaram a campanha da limpeza
nacional num marketing político esvaziando-lhe a real intenção de patriotismo,
e outros deixaram-nos a entender que é “Sambrás” da campanha eleitoral do
PAIGC. É bom que saibamos distinguir o país com os partidos políticos. Quem
está no governo deve ter um discurso de um governante e não de um partidário. A
campanha partidária já era. Queremos agora ouvir dos nossos governantes com um
discurso carregado de simbolismo de interesse nacional.
Esperemos que esta euforia do primeiro dia da
campanha da limpeza nacional se mantenha e que a própria campanha não venha a
transformar num “piquini” dos nossos governantes com os seus amantes, gastando
as poucas verbas que os nossos parceiros de desenvolvimento nos cedeu para a
prevenção desta nova doença mortífera do século XXI.
É bom que o Primeiro-ministro Domingos Simões
Pereira esteja atento, porque houve sempre nos sucessivos governos deste país
quem nos vende gato por lebre. Normalmente são aqueles cujos discursos estão
carregados de signos que criam dificuldades para vender as facilidades. Aliás,
espelham serem dignos de nome perante aos nossos interesses públicos, mas na
essência são piores que uma barata na água quente. Se desenharmos com a nossa
vista o que passou neste nosso país, ficaremos, com certeza, com a visão de que
na realidade, como dizia um cabralista, “a pequena burguesia ainda não se
suicidou”. Domingos Simões Pereira deve estar atento com as intrigas desta
pequena burguesia que ainda não se sucidou. Porque a sua bala verbal é muito
perigosa para o interesse nacional, porquanto ela só quer encher a sua barriga
com o que é nacional sem “meter as mãos na lama”.
Esperemos que a campanha da limpeza nacional nos
continue a unir em todo o território nacional e que não seja só porque estamos
perante uma ameaça real de vírus de Ébola nos visitar. Nesta nossa Guiné-Bissau
de hoje não queremos mais comprar gatos por lebres. Primeiro-ministro tenha
paciência, se houver alguém com essa filosofia política é melhor o afastar
agora do seu governo antes que seja tarde, porque já está cansado de comermos
há anos e anos neste país gatos por lebres. Por favor, já chega! vamos todos
meter as nossas mãos na lama e sermos sal da terra na construção da nossa Guiné-Bissau
na unidade que mostramos nesta primeira semana da campanha da limpeza nacional.
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