Presidente Compaoré tentou mudar a Constituição e
enfrentou uma revolta. Não se sabe qual o seu destino.
O chefe do Estado Maior das Forças Armadas do
Burkina Faso anunciou a dissolução da Assembleia Nacional e a criação de um
governo de transição que durará, no máximo, 12 meses. No entanto, ao fim de um
dia que a capital deste país da África Ocidental esteve a ferro-e-fogo, o
general Honoré Traoré não disse quem dirigiria este governo, nem qual seria o
futuro do Presidente Blaise Compaoré, que está no poder há 27 anos e
desencadeou a violência ao anunciar uma revisão da Constituição para se
candidatar uma quinta vez .
Foi instaurado um recolher obrigatório entre as 19h
e 6h, anunciou Traoré. A capital, Ouagadougou, ficou literalmente a arder,
depois de os edifícios da Assembleia Nacional, da câmara municipal e da sede do
partido governamental terem sido incendiados por manifestantes furiosos com a
possibilidade de uma revisão constitucional para prolongar o mandato do
Presidente Compaoré.
Perante os apelos da oposição — que exige a saída do
Presidente e lançou a ideia de uma campanha de desobediência civil —, os
protestos na capital foram subindo de tom. Em 48 horas, a situação escalou do
protesto para a violência e ficou descontrolada: informações contraditórias
mencionavam a possibilidade de um golpe militar para a deposição do Governo de
Compaoré e, simultaneamente, davam conta da intervenção do Exército em defesa
do Presidente.
O jornal Le Monde falava em intensas negociações
entre o partido no poder e na oposição, e também de consultas do exército. O
general Traoré terá pelo menos falado com Mogho Naba, o rei dos Mossi, uma
autoridade tradicional muito respeitada no Burkina Fasso, e da etnia à qual
pertence o chefe de Estado, maioritária no país.
Mesmo antes de o general Traoré se pronunciar,
ninguém conseguia dizer o que estaria em curso — uma revolução ou um novo golpe
de Estado, semelhante ao que levou Blaise Compaoré ao poder, em 1987. O
Presidente decretou o estado de emergência e dissolveu o Governo.
Ao início do dia, uma multidão enfurecida marchou,
sobre a Assembleia Nacional, que ia votar a proposta de mudança da lei
fundamental para abrir o caminho a uma nova candidatura de Compaoré, que foi a
votos pela primeira vez em 1991. A polícia que fazia a segurança do Parlamento
desmobilizou com a chegada dos manifestantes, que entraram, saquearam e
incendiaram o edifício.
Os manifestantes ocuparam as estações de televisão e
rádio públicas, que foram forçadas a suspender a emissão; destruíram automóveis
de parlamentares e residências de ministros. A caminho do palácio presidencial,
que foi cercado, os manifestantes foram destruindo e ateando fogo, incluindo ao
hotel Azalai Independence, um dos pontos de encontro de governantes e
diplomatas em Ouagadougou.
Ao fim da manhã, Blaise Compaoré fez uma primeira
prova de vida através do Twitter, pedindo aos seus compatriotas que mantivessem
a "calma e serenidade" — chegou a circular que saíra do país com a
sua família. Ao mesmo tempo, o Governo anunciava que o decreto remetido ao
Parlamento para mudar a Constituição tinha sido anulado e já não seria votado.
Não ficou, porém, claro se se tratava de um adiamento ou se a proposta tinha
sido abandonada, como exigiu a União Europeia e os Estados Unidos.
Segundo a BBC, cinco pessoas morreram nos protestos.
A Reuters dizia que helicópteros estavam a sobrevoar a principal praça da
capital, e a disparar gás lacrimogéneo para os dispersar.
//Publico
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.