Há 130 anos, em 1885, terminava na
Alemanha um encontro de líderes europeus que ficou conhecido como Conferência
de Berlim. O objetivo era dividir África e definir arbitrariamente fronteiras,
que existem até hoje.
Tinha cinco metros o mapa que dominou o
encontro em Berlim, que teve lugar na Chancelaria do Reich. Mostrava o
continente africano, com rios, lagos, nomes de alguns locais e muitas manchas
brancas.
Quando a Conferência de Berlim chegou ao
fim, a 26 de fevereiro de 1885, depois de mais de três meses de discussões,
ainda havia grandes extensões de África onde nenhum europeu tinha posto os pés.
Representantes de 13 países da Europa,
dos Estados Unidos da América e do Império Otomano deslocaram-se a Berlim a
convite do chanceler alemão Otto von Bismarck para dividirem África entre si,
"em conformidade com o direito internacional". Os africanos não foram
convidados para a reunião.
À excepção da Etiópia e da Libéria,
todos os Estados que hoje compõem África foram divididos entre as potências
coloniais poucos anos após o encontro. Muitos historiadores, como Olyaemi
Akinwumi, da Universidade Estatal de Nasarawa, na Nigéria, consideram que a
Conferência de Berlim foi o fundamento de futuros conflitos internos em África.
"A divisão de África foi feita sem
qualquer consideração pela história da sociedade, sem ter em conta as
estruturas políticas, sociais e económicas existentes." Segundo Akinwumi,
a Conferência de Berlim causou danos irreparáveis e alguns países sofrem até
hoje com isso.
Novas
fronteiras
Foram definidas novas fronteiras e
muitas rotas de comércio desapareceram porque já não era permitido fazer
negócios com pessoas fora da sua própria colónia.
Em muitos países, como foi o caso dos
Camarões, os europeus desconsideraram completamente as comunidades locais e as
suas necessidades, lembra o investigador alemão Michael Pesek, da Universidade
de Erfurt.
"Os africanos aprenderam a viver
com fronteiras que muitas vezes só existiam no papel. As fronteiras são
importantes para a interpretação do panorama geopolítico de África, mas para as
populações locais têm pouco significado", defende.
Na década de 1960, quando as colónias em
África começaram a tornar-se independentes, os políticos africanos tiveram a
oportunidade de rever os limites coloniais. No entanto, não o fizeram.
"Em 1960, grande parte dos
políticos africanos disse: se fizermos isso, então vamos abrir a caixa de
Pandora", explica Michael Pesek. "E provavelmente tinham razão. Se
olharmos para todos os problemas que África teve nos últimos 80 anos, vemos que
houve muitos conflitos internos, mas muito poucos entre Estados por causa de
fronteiras."
Em 2010, no 125º aniversário da
Conferência de Berlim, representantes de muitos países africanos em Berlim
exigiram compensações para reparar os danos do colonialismo. A divisão
arbitrária do continente africano entre as potências europeias foi um crime
contra a humanidade, disseram em comunicado.
Defendiam, por exemplo, o financiamento
de monumentos em locais históricos, a devolução de terra e outros recursos
roubados e a restituição de bens culturais.
Mas, até hoje, nada disso foi feito. O
historiador Michael Pesek não se mostra surpreendido. "Fala-se muito em
compensações por causa do comércio de escravos e do Holocausto. Mas pouco se
fala dos crimes cometidos pelas potências coloniais europeias durante os anos
que passaram em África."
O investigador nigeriano Olyaemi
Akinwumi também não acredita que algum dia haverá qualquer tipo de
indemnização. Com o dw.de
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