A história política deste país foi e
continua a ser forjada no custo de arrogância e protagonismo. Os actores da
vida pública nacional, ao longo da trajectória do nosso Estado, não fizeram
mais nem menos que embarcar no comboio de intrigas inúteis. E querem que o
martirizado povo esteja pronto a gritar “viva” a medida que o comboio avance.
Ninguém duvida que este país apesar de enorme matéria-prima de que dispõe para
se desenvolver numa década, permanece ainda refém de pessoas sem grande
consciência do interesse público.
A banalização das frágeis instituições
republicanas é cada vez insuportável aos olhos de cidadão comum, impaciente de
assistir ao virar da página, desejoso de ver o seu país avançar no caminho da
paz, da reconciliação, do trabalho, da investigação científica, da descoberta.
Cada dia que passa em cima do sonho do cidadão comum guineense paira nuvem de
incerteza alimentada por indivíduos que pensam deter a legitimidade de fazer e
desfazer, de arrumar e desarrumar. As actuais tensões entre os detentores dos
órgãos de soberania, constituem prova mais de que evidente de que a chamada
“elite dirigente” nacional deste país está longe de perceber o sentido da
democracia que é o equilíbrio e a partilha do poder.
Na democracia ninguém é detentor do
poder absoluto. Na democracia não há lugar para intrigas. Um dos princípios
básicos do jogo democrático reside na garantia da pluralidade de opiniões mas
sempre na estreita observância das leis. A legalidade, alicerçada no culto de
diálogo permanente desempenha as funções da coluna vertebral na saúde de
qualquer democracia. Seria uma mera hipocrisia ignorar a crise institucional há
meses instalada entre os dirigentes máximos do nosso Estado, nomeadamente
Presidente da República José Mário Vaz, líder da Assembleia Nacional Popular
Cipriano Cassamá e Primeiro-Ministro Domingos Simões Pereira. Os últimos
desenvolvimentos (através de chuva de comunicados) demonstram claramente o
impasse patente que se vive neste momento.
Independentemente da explicação que se
pode fazer aqui e acolá, aliás uns já têm vindo a evocar as lacunas
constitucionais como fonte de tensões, o nosso entendimento é que esta República
carece de homens de Estado comprometidos com o povo! Verdadeiros dirigentes de
Estado recorrem sempre ao diálogo, diálogo franco e sincero, como arma para a
resolução de qualquer que seja problema. Infelizmente, isto não tem sido caso
até hoje. E como cantou o outro “fidju di guiné ossa mortu i medi bardadi”, é
mais fácil ao dirigente guineense pegar em catana para destruir o adversário de
que usar a inteligência e argumento para cavar o caminho do bem-estar
colectivo.
O culto de “matchundadi,” associado ao
protagonismo cego, está a destruir completamente a confiança e entendimento em
construção e adiar mais uma vez a esperança de ver este país a dar um salto
qualitativo no horizonte do progresso.
A verdade é que cada um desses
protagonistas não consegue ultrapassar o seu perímetro de relacionamento e
estender a mão para o diálogo. Em nome de orgulho e mesquinhez, cada um quer
provar ao outro que é dotado de maior grau de inteligência ou ainda que possui
maior doce de coragem. Esta é a forma como este país tem funcionado há mais de
40 anos!
As instituições em vez de serem
verdadeiramente republicanas e máquinas de mudança social, limitaram-se em
meros clubes de propagandas politiqueiras. Os detentores dos órgãos de
soberania em vez de vestirem casacos de servidores de Estado sentem-se antes de
mais proprietários desses mesmos órgãos. Este tipo de atitude terá dificuldade
em florescer doravante porque a opinião pública, embora lentamente começa a madurecer-se.
É bom que os nossos actuais dirigentes que, há menos de um ano, propagaram em
todos os cantos do território o slogan de estabilidade, consensos nacionais,
desenvolvimento e bem-estar para todos os filhos desta terra, saibam que o povo
não está a dormir. Aliás, o próprio povo não tem razão nenhuma para estar a
dormir. Deve tomar conta do seu destino colocado em totoloto. Com Odemocrata
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