«Seguir Jesus é ser o primeiro na
disponibilidade para servir»
Jesus aproveita um episódio familiar
para fazer o seu ensinamento sobre o exercício do poder. Fá-lo em dois
momentos, profundamente relacionados. “Nada disso entre vós” – diz aos
discípulos ciumentos por verem a pretensão de Tiago e de João. Jesus referia-se
ao modo como os reis da terra, os homens do poder dominam os súbditos,
escravizam os concidadãos, dispõem dos sem protecção nem recurso. É uma lição
da história que mantém toda a actualidade. Mesmo nas ditas democracias em que a
manipulação da vontade popular se torna patente ou anula. Quanto mais nas
ditaduras de todo o tipo.
Os irmãos Tiago e João têm pretensões
ousadas. O seu sonho é ocupar um lugar no trono de Jesus, imaginando-o à
maneira do messianismo judaico, temporal, libertador da opressão dos romanos e,
consequentemente, sem entraves para o exercício do poder. Sonho arrojado que
desperta a inveja dos companheiros e origina uma situação em que o Mestre vai
manifestar o próximo futuro que vislumbra. Recorre a duas metáforas conhecidas:
beber o cálice e receber o baptismo que ele próprio assumiria. Abre a ponta do
véu da amargura da paixão, do sangue da crucifixão, da experiência da solidão
na agonia e morte. “Podemos” – respondem cheios de coragem e determinação. E de
facto, assim acontece. Passados poucos anos, Tiago é mandado matar por Herodes
e João sofre o exílio e tudo o que o acompanha.
Revelam uma têmpera humana “invejável”,
fruto de vários factores, sobretudo familiares. O pai Zebedeu era profissional
de pesca no mar de Tiberíades e consertava redes na barca com os assalariados
quando os filhos são chamados para seguir Jesus. A escola do trabalho ensina-os
a prepararem-se para enfrentar os desfios da vida, por vezes muito duros e
exigentes. A mãe fica conhecida só pelo doce nome de mãe e pelas atitudes que
toma: ousa, segundo o Evangelho de Mateus, fazer o mesmo pedido a Jesus (será
um versão diferente) e está presente no grupo das mulheres que permanecem fiéis
na hora da sua crucifixão e morte. Constituem uma família típica em que cada um
assume funções diferentes, irmanados no mesmo ideal. Apoiam-se mutuamente.
Alicerçam os sonhos em modos de vida exemplares e provados. Investem, dentro
das regras do tempo, no melhor para todos. Estão atentos à novidade de Jesus
que captam, à sua maneira, e querem corresponder-lhe.
“Não deve ser assim entre vós” – diz o
Mestre em tom exortativo aos discípulos indignados. E apresenta o exemplo do
Filho do homem (que é ele mesmo) que veio para servir e dar a vida por todos.
Faz assim uma leitura da sua história pessoal e mostra o desfecho que, em
breve, se aproxima. Estavam a caminho de Jerusalém onde tudo iria consumar-se.
Seguir Jesus é ser o primeiro na
disponibilidade para servir, ser grande no amor aos mais desprotegidos e
necessitados, ser ousado na criatividade e na coragem de enfrentar situações
difíceis, ser paciente e tolerante nos infortúnios e nas tribulações, ser
misericordioso nas relações familiares, sociais e religiosas, por vezes
demasiado rígidas, ser confiante e dar a vida sem reservas calculadas porque
está nas mãos de Deus Pai.
Como fazem tantos homens e mulheres
missionários, pais de família, professores de educação e ensino, políticos e
empresários. Como testemunham os mártires do nosso tempo cujas fotos doridas
nos entram pela casa dentro. Como Santa Santa Teresinha de Jesus e seus Pais
que, neste domingo das Missões, são canonizados como casal.
Servir com alegria, fruto do amor de
doação. Servir com alegria, a começar pela família e pelo apreço à vida humana
em todas as fases do seu desenvolvimento. Servir com alegria, contemplando o
rosto do crucificado/ressuscitado.
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.