A atitude de confronto, o
uso de força e até de violência, têm sido uma cultura marcante da trajectória
da Guiné-Bissau desde os primórdios da construção do nosso Estado. A história
está cheia de casos de ajustes de contas, assassinatos isolados e colectivos de
companheiros em nome de sanções que não obedecem os preceitos e padrões de
nações livres e democráticas. Em nome do uso de força, de convencer o outro com
ou sem razão, todos os meios são válidos. Fuzilamentos colectivos, assassinatos
políticos, guerra civil (a de 7 de Junho) e tantos outros sobressaltos
bárbaros, foram ingredientes de resolução de conflitos. O resultado hoje é o
acumular de recalcamento, ódio e fome de vingança entre os guineenses.
Esta cultura nefasta continua hoje a
caracterizar a grande parte da dita “elite política” guineense. Em meio de um
diferendo, procura-se a forma de neutralizar o outro. O diálogo é relegado para
terceiro, senão, para último plano. O máximo é “fazer a guerra para depois
sentar-se a mesma mesa e dialogar”. Todo o percurso agitado deste país mostra
claramente quão os nossos candidatos à liderança pública são sensíveis ao
diálogo, à resolução de conflitos por meio de confronto de ideias.
A apropriação do modelo democrático tem
sido dificultada por este grande obstáculo. O “machismo”, que consiste em
convencer a todo custo os adversários, sempre ritmou a vida política guineense.
O PAIGC, mestre desta doutrina, mantem-se ainda refém da mesma. Mantem-se
vítima do modelo que inventou e sustentou. O PAIGC concebera, com sucesso,
métodos maquiavélicos que permitiram o povo desta terra opor-se fisicamente à
máquina colonial até se libertar. Infelizmente, apesar do aclamado sagrado
princípio de “crítica e autocrítica” teorizado por Cabral, o PAIGC não soube
traduzir na prática o conteúdo deste princípio e tem perpetrado o uso de força
na vida política nacional. Hoje, o vírus infectou toda sociedade guineense.
Na realidade, os guineenses, os
políticos em particular, não acreditam ainda no diálogo como arma capaz de
vencer qualquer impasse. Perdem tempo em conceber “estratagemas” para vencer os
adversários acreditando, ilusoriamente, que depois disso terão a tranquilidade.
De facto, as soluções resultantes do uso desses estratagemas são
circunstanciais e não permitem cortar o mal pelas raízes. Há que se pensar e
ousar encarrar o diálogo como via conducente à solução durável, base de uma
governação sólida susceptível de criar condições para a paz e o desenvolvimento
a longo prazo.
O almejado desenvolvimento desta terra
será uma mera ilusão enquanto não se operar a tarefa mais difícil que é o
desarmamento das mentes e dotá-las de novas infra-estruturas alicerçadas no
diálogo construtivo, no progresso, na ciência, no bem-estar, na justiça social.
Tudo isso é possível só com uma liderança visionária comprometida com o país!
Com Odemocrata
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