terça-feira, 26 de julho de 2016

Mango di Tera: terra que perde frutos, se perde

Por, Ernesto Dabo

Saudade é coisa que sentimos de pessoas, momentos e coisas. Vontade é a inquilina a quem pagamos renda para que nunca nos deixe de arrendar.

Do “mango di terra” tive saudades e vontade de comer, na primeira ponta do tempo “di tchuba”, à varanda duma palhota na ponta, como acontecia no antigamente recente. Pedi a uns sobrinhos que me colhessem uns quantos para acalmar (porque não sou de matar) a saudade e contentar a vontade de saborear o nosso redondinho amarelo.

Algo perplexos, dirigiram-me um olhar interrogativo e um deles, de solto humor, me ensinou que todos os mangos vêm da terra… Outro, mais composto, me disse que tal tipo de mango, talvez encontre em Bandim, no mercado central, (quase sem guineenses no centro), porque, afinal, os mangos que conhecem e há na ponta, são “grefes”. Este enxerto à nossa língua, deu-me que entristecer, pensar e ficar sem água na boca.

No Domingo bem molhado de ontem, por uma chuva irmã de umas quantas que vêm banhando a terra nos últimos dias, mais o meu bom amigo Ntoma, vadiamos pelas vias da capital, à procura de mango da nossa terra, por saudade e vontade. Qual o quê: após uns bons litros de gasolina atirados à chuva, acabamos por confirmar a terrível e crescente verdade de que até os nossos mangos estão a perder soberania.

Ordenados pela inquilina, compramos uns quantos “grefes” para compreendermos a diferença. Não conseguimos provar nada: as mangas, vindas de outras terras, estavam grávidas de estranhas larvas, que nem o seu tamanho intimidava.


Ao estacionarmos o carro, ouvimos um choro revoltado desta terra de gente cujos rebentos são “flores da luta e razão de combate”, atravessar todos os corações, desde Plack-1.

Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

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