A pergunta de Jesus feita aos discípulos
de João que o seguiam abre a nova fase do Ano Litúrgico que a Igreja nos propõe
para celebrarmos. É uma fase que valoriza o tempo comum, a normalidade da vida,
o quotidiano. É uma fase que destaca a grandeza das “rotinas” assumidas como
espaço de realização pessoal e oportunidade de salvação. É uma fase que convida
a mergulhar na profundidade do ser cristão que se expressa no viver e conviver
diários, revigorados pela confiança e pela alegria do Evangelho. (Jo 1, 35-42).
Os discípulos são dois. Um é André e o
outro não tem nome. Possivelmente, será João, o autor do relato. Mas pode haver
outra intenção. E o nome ser o da pessoa que segue Jesus, em qualquer tempo,
anda à procura de saciar o desejo de se encontrar com Ele, de saber por
experiência o que vai escutando de outros. Que bom! Todos lá cabemos. Tu e eu.
A resposta fica nas nossas mãos. A atitude dos discípulos abre caminho à nossa
decisão. Vamos acompanhá-los mais de perto.
O seu mestre, João Baptista, estava parado
nas margens do rio Jordão. Jesus ia em movimento. Ele está prestes a sair de
cena. Jesus a entrar em missão, na vida pública. João não retém os discípulos,
mas liberta-os e encaminha-os. Jesus acolhe e, pedagogicamente, inicia um
diálogo de aproximação e convite. Diálogo que o narrador resume a perguntas
emblemáticas: “Que procurais? Mestre, onde vives? Vinde e vereis”. Perguntas
que ficam a ecoar na história à-espera de interlocutores motivados para que
haja encontro pessoal e comece a nova relação que humaniza e salva.
“Os que se puseram a seguir Jesus,
atesta J. M. Castillo, La religión de Jesús, p. 62, queriam ver onde vivia.
Viram e ficaram com Ele e convenceram-se de que era o Messias. O sítio onde
cada um vive indica o estilo de vida que leva”. Só ele convence e atrai. Ou
escandaliza e afugenta. É atraente ou repelente. Foi assim nas margens do
Jordão. Será assim em todos os lugares da terra habitados por discípulos
missionários de Jesus, coerentes e ousados.
“Mestre, onde vives?” é pergunta resposta
dos discípulos desejosos de saber onde morava Jesus. É pergunta acutilante que
mantém toda a actualidade: Onde está Jesus, com quem permanece, que
preferências revela, quem escolhe para companhia, que relação estabelece entre
os que o seguem, que missão lhes confia? É pergunta dirigida a cada um de nós:
Onde estás tu e onde encontras firmeza e estabilidade?
“Jesus permanece no Pai, na sua Palavra,
no seu amor, adianta Manicardi, p. 92. E os discípulos são chamados a percorrer
o mesmo caminho: permanecer na Palavra e no amor do Filho para habitar com
Deus”. São chamados a cultivar a vida interior, dando atenção à oração que
ilumina a consciência e aos sacramentos que a revigoram, à descoberta vigilante
da novidade que o Espírito de Deus suscita para renovar a sociedade e promover
o cuidado da criação. “A fé torna-se assim experiência de o Senhor habitar com
o crente”.
“Vinde e vereis” é convite promessa
feita por Jesus. Os discípulos foram, conviveram e fizeram uma experiência tão
agradável que memorizaram a hora do encontro e despertaram para a urgência
missionária. Que maravilha! André vai ter com o irmão Simão. Depois é a vez de
Filipe fazer o anúncio a Natanael. E assim até hoje. É sempre uma testemunha a
contagiar outros a fim de viverem o dinamismo da fé. Deus assim quer. Jesus
assim faz. A pessoa assim reage e procede. A Igreja assim vive. O que de bom se
experiencia cresce com a alegría da comunicação, do encontro, da comunhão. As
mediações humanas são necessárias para descobrir e identificar a vontade Deus.
O Papa Francisco afirma aos
participantes no congresso mundial: “Educar é introduzir na totalidade da
verdade”; congresso realizado em 2015 e dedicado ao tema: “Educar hoje e
amanhã: uma paixão que se renova”. Deste modo lança um dos maiores desafios do
nosso tempo e deixa a garantia de que “a cultura do encontro se forja na graça
do encontro mais fecundo com o amor de Deus, convertido em feliz amizade,
comprometido na transformação da sociedade. Formação integral,
dar-receber-agradecer são chaves conceituais de todo sistema moderno de
verdadeira educação cristã”.
“Que procurais? Vinde e vereis” é lema
que expressa bem o desejo humano a que dá resposta plena a garantia de Jesus.
Acredita!
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