Não quero ser crítico demais, mas gostaria de abordar
aspectos importantes relacionados a cíclicas crises que têm abalado o Pais
desde a independência a data presente, que algumas foram encaradas com
naturalidade outras ridicularizadas.
Porque então tanta impaciência e inconformismo? se uma
ou outra vez somos a favor de práticas que reverteram a ordem constitucional.
Para vos recordar, já houve golpes muito ovacionados em plena democracia
(derrube de Nino em 1999 e derrube de Koumba em 2003), por isso, insisto a
dizer que, golpes são golpes, não importa quem lidera ou quem é vitima,
sobretudo no contexto actual, iniciado em 1994, com aceitação da democracia
como método universal de alternância de poder, a voz do povo traduzida em voto.
Certo é que as práticas contestadas, devem ser banidas com a participação de
todos, com pretexto único, de garantir a paz, estabilidade e crescimento
económico. Mas quando se pensa que há cidadãos imunes, porque são de primeira
coluna e aqueles de quinta coluna que se lixem, não se está a contribuir para a
promoção da Paz e estabilidade e, isto está visível no comportamento dos
cibernautas e apoiada por proprietários de alguns blogs que deixam passar
insultos.
Perante estes factos, as opiniões tendem a dividir-se,
os prós compartilham alegrias e aplaudem valentias e heroísmos de autores,
enquanto os contra, mantém reserva de poderem ser vítimas das suas posições. É
frequente em África, sobretudo, quando mudam regimes não importa a via de
alternância, coloca em perigo muitas pessoas que duma ou outra forma
identificaram com regimes depostos. Em regimes de partidos únicos, muitos são
perseguidos e fuzilados, em democracias são espezinhados e excluídos, mesmo
revelando-se tecnocratas predispostos a contribuírem para o desenvolvimento dos
seus Países. É o que tem acontecido na Guiné com muita frequência, fruto de
interpretação errada da democracia.
Torna-se então difícil contrariar as correntes de
opiniões que em função das crises manifestam desagrados e apoios, as linguagens
usadas, tanto para os prós como os contra, as direcções que as mesmas são
apontadas as vitimam e etc. Quaisquer de formas não deixa de houver “persona
non grata”, nestas condições.
Apesar de tudo isso, a visões diferem as capacidades
de interpretação também, os contextos e os intervenientes mudam com o decorrer
de tempo. Mas quando não muda as mentalidades, demonstra claramente regressão
de valores. Portanto, não excitaria em subscrever as palavras do Dr Joaquim
Chissano, segundo as quais os Guineenses devem AUTO-EDUCAR-SE.
A auto-educação referida, não é apenas para uma
sociedade ou um grupo de pessoas. Os políticos, a classe castrense, a sociedade
civil, os intelectuais apolíticos, a juventude, os utentes de blogs, enfim os
Guineenses em geral precisam de se auto-educar, para se reencontrar e edificar
valores de uma sociedade civilizada isenta de ressentimentos e clivagens
desnecessárias.
Nota-se que está mais intensa a campanha de insultos e
difamações contra uma etnia, como se essa etnia é responsável por tudo o que
desenrolou no País, reduzindo-o ao um estado de nomes e apelidos diversos,
conotados com práticas criminosas. Pois não é apenas porque um candidato terá
recusado resultados eleitorais. As clivagens internas no PAIGC, não têm
expressão na crise? Será? Talvez também porque alguém terá reivindicado a
liderança do golpe de estado, e este é da etnia que hoje é
bicho-de-sete-cabeças.
Não é importante quem lidera, nem quem é vítima do
golpe, já o disse. Acima de tudo isso, está um País, com o seu povo, que desde
1980 vem sofrendo com golpes, que jamais foram panaceia, golpes liderados por
diferentes autores, certamente membros das suas etnias, sem que ninguém ponha a
língua na rua contra estes. Não foi medo, nem exercícios de tolerância ou
conformismo, mas a minha reflexão me permitiu chegar a conclusão que faltava
que se chegasse no pau, pois andava no cavaco. Seria melhor se todos tivéssemos
começado juntos a gritar não aos golpes, talvez ficávamos em 7 de Junho.
As nossas diferenças dão-nos força e coragem para
enfrentar adversidades, a unidade é paradigma do nosso desenvolvimento,
provou-se que ninguém em separado é capaz de tirar este Pais do marasmo em que
se encontra. Mesmo como grupo étnico, quanto como partido.
Como Guineense, vivendo no coração desta pátria, quero
pedir a moderação de linguagem e paciência aos críticos da situação actual, ela
afectou-nos a todos, mas acreditem como eu que, é coisa passageira. Não
ganhamos com golpes, antes pelo contrário, afundamos, nem ganharemos insultando
os mais velhos, porque um dia podemos faze-lo em relação aos nossos pais. Mas,
sobretudo, temos que aprender deixar de chorar por leite derramado. Perdoar é
bom, sofrer é contribuir para edificar os pilares da Paz; o Martin Luther King
dizia: O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova
partida, para um reinício.
Temos ainda que ter em conta que, o nosso destino é
traçado pelos nossos próprios pensamentos e comportamentos, e não por alguma
força que venha de fora. A Guiné deve estar no coração de todos. Esta é nossa
pátria amada.
Augusto Tchuda
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