Bissau, 26 mar (Lusa) - Cinco
médicos de origem guineense que trabalham em Portugal vão durante esta
semana dar mais de 700 consultas em Bissau, foi hoje anunciado numa
conferência de imprensa na qual se falou de fraudes nas juntas médicas.
Os médicos, um cardiologista, dois cirurgiões, um pediatra e um
especialista em infeciologia, estão na Guiné-Bissau no âmbito de uma
iniciativa da Fundação Ricardo Sanhá, criada em 2009 pelo guineense
Ricardo Sanhá e com sede em Lisboa, que tem como principal objetivo dar
assistência social a cidadãos guineenses no estrangeiro.
Esta é a segunda missão médica da Fundação este ano, disse hoje
Ricardo Sanhá à Lusa em Bissau, adiantando que uma terceira missão
estará no país em maio.
Cada médico, explicou, assiste uma média de 150 doentes, fazendo
também uma triagem daqueles que terão de ser levados para Portugal para
intervenções que não se podem fazer em Bissau.
Os médicos disseram, no entanto, que o grupo não se sobrepõe nem
substitui a junta médica que faz em Bissau o diagnóstico dos doentes que
precisam de tratamento no estrangeiro.
Ainda assim o cardiologista Mário Mendes não poupou críticas à
atuação das juntas médicas em Bissau, que "mandam doentes" para Lisboa
que na verdade vão de férias, que estão a emigrar ou que querem ir fazer
um "check-up".
"Os critérios (da junta médica) têm sido muito díspares. Podem mandar
uma pessoa com uma dor de dentes e deixar uma cardiopatia reumática.
Esse não vai porque não é da família de ministros", acusou.
"Portugal dá um apoio que as pessoas não valorizam. Fazer um
tratamento especializado fica extremamente caro", disse o especialista,
acrescentando que o acordo com Portugal contempla o envio de 300 doentes
por ano e que agora estão a ser enviados 2000 por ano. E deu um
exemplo: uma cirurgia cardíaca custa entre 25 a 30 mil euros.
É por isso que os médicos da "solidariedade móvel" podem vir à
Guiné-Bissau, trabalhar e formar equipas no país e fazer a triagem de
doentes que se justifique serem levados para tratamento em Portugal,
"mesmos sem interferir nos processos da junta médica", disse.
"Sou especialista em cardiologia, o que formo lá posso formar aqui",
salientou Mário Mendes, salientando que a iniciativa da Fundação Ricardo
Sanhá pode aliviar a pressão sobre o fluxo de doentes enviados para
Portugal.
As críticas de Mário Mendes foram ouvidas pelo ministro da Saúde do
Governo de transição da Guiné-Bissau, Agostinho Cá, que concordou com
tudo e salientou que sempre foi contra o envio de doentes para o
estrangeiro.
"Se conseguirmos levar para Portugal os que na realidade estão
doentes, então o nosso objetivo está cumprido. O projeto (da Fundação) é
o de criar condições para que as pessoas sejam tratadas cá", disse o
ministro, falando também dos "problemas sociais" que acarreta uma ida
para um país desconhecido e sem apoios.
Mas é preciso também, disse o ministro, tratar da pobreza no país:
"há pessoas que são tratadas lá e que depois não voltam, porque não foi a
doença que as levou para lá".
Agostinho Cá, também ele médico, disse que a iniciativa da Fundação
Ricardo Sanhá foi uma resposta ao apelo do Governo para que médicos da
diáspora viessem à Guiné-Bissau para reforçar as capacidades médicas do
país.
"É obrigação minha procurar todos os meios para ajudar os pacientes. O
melhor é que sejam tratados aqui. Se vêm cá holandeses, franceses e
portugueses, porque não os próprios guineenses?", questionou,
acrescentando: "garanto que esta missão não vai parar".
Sem comentários :
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.