Não
foram os factos mas os acontecimentos que absolveram Vítor Constâncio. A sua
nomeação como vice-presidente do BCE acabou com todas as dúvidas sobre o seu
papel como supervisor responsável pelo BPN. Para trás fica uma passagem da
qual, por muito que diga o contrário, não se pode orgulhar. Nem pela análise
macroeconómica que fez da situação portuguesa na altura, ignorando importantes
aspectos que acabariam por ditar uma década de estagnação económica e a quase bancarrota
de Portugal, nem pelo seu papel na supervisão bancária.
Verdade
que nestes dois mundos, o da análise económica e o da supervisão, os erros não
são variáveis, são constantes.
Como
dizem hoje os subscritores da carta aberta em defesa de Vítor Constâncio , a
supervisão bancária é uma actividade extremamente difícil pela natureza das
operações em causa. Se um presidente de banco quiser esconder operações
consegue fazê-lo. De tal modo que até é possível esconder operações de outros
membros da sua comissão executiva. Basta usar processos elaborados de
triangulação financeira e algumas offshores para que as operações sejam segredo
absoluto. Sem a sua colaboração estas operações jamais serão reveladas.
Por
isso, na declaração que fez ontem sobre o BPN, em resposta às declarações de
Durão Barroso em entrevista ao Expresso, Vítor Constâncio diz que nunca recebeu
"qualquer informação sobre possíveis irregularidades concretas no
BPN". Não duvido. Mas isso iliba o supervisor?
Ou
Constâncio vivia num casulo ou não podia deixar de saber que algo de estranho
se passava no banco liderado por Oliveira Costa. Era assunto largamente
debatido no meio financeiro e jornalístico. Era sua obrigação investigar,
investigar e investigar.
O
ex-governador do banco de Portugal brinca com as palavras ao dizer que não se
lembra de ter sido chamado três vezes a S. Bento para falar "expressamente
e exclusivamente" sobre o BPN. Todos percebem o que ele quer dizer.
E
por último, dizer que as acusações de Durão Barroso a Vítor Constâncio foram
feitas a pensar num interesse político e nas presidenciais até pode ser verdade
mas é também a perfeita manobra de distracção. Por muitas comissões de
inquérito que tenham sido feitas a culpa no caso BPN, que custou vários
milhares de milhões de euros aos contribuintes portugueses, continua
solteira.
//Expresso
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