quarta-feira, 2 de abril de 2014

A absolvição de Constâncio



Não foram os factos mas os acontecimentos que absolveram Vítor Constâncio. A sua nomeação como vice-presidente do BCE acabou com todas as dúvidas sobre o seu papel como supervisor responsável pelo BPN. Para trás fica uma passagem da qual, por muito que diga o contrário, não se pode orgulhar. Nem pela análise macroeconómica que fez da situação portuguesa na altura, ignorando importantes aspectos que acabariam por ditar uma década de estagnação económica e a quase bancarrota de Portugal, nem pelo seu papel na supervisão bancária.

Verdade que nestes dois mundos, o da análise económica e o da supervisão, os erros não são variáveis, são constantes.

Como dizem hoje os subscritores da carta aberta em defesa de Vítor Constâncio , a supervisão bancária é uma actividade extremamente difícil pela natureza das operações em causa. Se um presidente de banco quiser esconder operações consegue fazê-lo. De tal modo que até é possível esconder operações de outros membros da sua comissão executiva. Basta usar processos elaborados de triangulação financeira e algumas offshores para que as operações sejam segredo absoluto. Sem a sua colaboração estas operações jamais serão reveladas.

Por isso, na declaração que fez ontem sobre o BPN, em resposta às declarações de Durão Barroso em entrevista ao Expresso, Vítor Constâncio diz que nunca recebeu "qualquer informação sobre possíveis irregularidades concretas no BPN". Não duvido. Mas isso iliba o supervisor?

Ou Constâncio vivia num casulo ou não podia deixar de saber que algo de estranho se passava no banco liderado por Oliveira Costa. Era assunto largamente debatido no meio financeiro e jornalístico. Era sua obrigação investigar, investigar e investigar.

O ex-governador do banco de Portugal brinca com as palavras ao dizer que não se lembra de ter sido chamado três vezes a S. Bento para falar "expressamente e exclusivamente" sobre o BPN. Todos percebem o que ele quer dizer.

E por último, dizer que as acusações de Durão Barroso a Vítor Constâncio foram feitas a pensar num interesse político e nas presidenciais até pode ser verdade mas é também a perfeita manobra de distracção. Por muitas comissões de inquérito que tenham sido feitas a culpa no caso BPN, que custou vários milhares de milhões de euros aos contribuintes portugueses, continua solteira. 

//Expresso

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