As fissuras de sentimento tribal e racial são, neste momento, enérgicas no
nosso país. O ódio étnico e racial está a ser incitado cada dia por alguns
filhos da nossa terra e por alguns exóticos com o objectivo de nos dividir. O
tribalismo está a ser incitado duma forma desenfreada e com intenções malignas.
Na semana passada o meu sobrinho foi agredido, na estrada de Biombo quando
ia ajudar o seu amigo nos trabalhos de cobertura duma casa. Tudo aconteceu no
carro “7 place”. Um senhor da etnia papel estava a insultar a etnia
balanta, e o meu sobrinho o interpelou dizendo que não era bom insultar toda
uma etnia. Este senhor perguntou ao meu sobrinho se era um balanta, o meu
sobrinho respondeu que sim. O referido homem se levantou e deu um estalo no meu
sobrinho e disse, “agora que perderam eleições nós vamos esmagar-vos”. Um dos
passageiros protestou dizendo que não era justo o que o outro estava a fazer e
tentou apaziguar os ânimos.
Atitudes como a daquela pessoa que agrediu o meu sobrinho, a de insultar a
etnia balanta, verificam-se nos transportes urbanos (toca-tocas) da cidade de
Bissau, nos diferentes lugares de frequência pública e nos espaços virtuais
(ex: facebook).
Nos últimos tempos circulam mensagens nos telemóveis apelando sentimentos
tribalistas e atitudes de violência em relação a etnia balanta. Esta realidade
acontece também nas instituições laborais, instituições de ensino, etc. A
discriminação de natureza tribal é visível. As atitudes de exclusão são
evidentes.
Infelizmente este fenómeno não é novo, é muito antigo na Guiné-Bissau, só
que nunca lhe foi dada a atenção que merece, analisado com franqueza e dado o
tratamento que merece. Temos esquivado sempre de lado fingindo que o tribalismo
não existe.
Gostaria de apelar as autoridades no sentido de prestarem atenção ao
fenómeno de instrumentalização étnica e racial no país. Penso que o tema de
tribalismo deve merecer um debate ao mais alto nível do Estado da Guiné-Bissau
(ex: na ANP). Um debate franco sem hipocrisia.
Durante a luta de libertação eram os manjacos que não colaboravam para o
sucesso da guerrilha. Foram perseguidos fuzilados, etc. Já nos primeiros anos
da independência eram os cabo-verdianos (os burmedjus) que constituíam a ameaça
da nossa unidade. A partir dos anos oitenta a esta parte são os balantas que
constituem o problema. Este facto leva-me a pensar sobre qual será o próximo
bode expiatório na Guiné-Bissau.
Estas atitudes são mais de divisão e subtração do que as de adição. Mas o
que mais interessa, neste momento, aos guineenses é ver convergir toda
Guiné-Bissau de uma forma sincera sem sonsice, construir uma unidade verdadeira
na nossa diversidade.
As posturas que fomentam divisões raciais e tribal traem, de forma
hipócrita, os propósitos do grande povo da Guiné-Bissau que são: UNIDADE E
PROGRESSO.
O povo da Guiné-Bissau, como qualquer povo do mundo, teve no passado e
continua a ter os seus sonhos. Ontem o grande sonho deste povo era de tomar as
rédeas do seu destino.
Para a libertação do jugo colonial o povo lutou, enfrentou muitos
sacrifícios, muitos dos seus filhos tombaram, porque acreditava no seu sonho de
ser livre um dia. O povo acreditou que era possível libertar-se. Hoje anda com
os seus próprios pés. Sente-se honrado com a sua conquista, com a sua
determinação. Escreveu uma bela história brilhante. Uma história de lutas,
trabalho duro, dedicação e sacrifícios que faz dele um grande povo.
O que o nosso povo fez no passado, nas condições em que o tinha feito, foi
mais difícil em relação a aquilo que tem de fazer agora, que é unir-se.
A união é uma conformidade de esforços. Ela tem como pré-condições a
verdade e boa intenção em relação ao próximo. Se ela não for assente nestes
princípios basilares a sua durabilidade será uma ilusão. E por sua vez a união
é a base de tudo o que podemos desejar como: paz, desenvolvimento, bem-estar,
etc.
Acredito que o povo guineense pode unir. Basta mudar a atitude! É capital
descobrir que a camuflagem da verdade é a origem de muitos conflitos. O
fingimento de não ver a verdade e de tentar transformar a mentira em verdade
podem perigar o relacionamento entre nós e malograr o sonho deste povo, adiar
tudo para um tempo incerto.
Se cada um de nós acreditar que o futuro pode ser melhor, acreditar na sua
capacidade de tratar o seu próximo do mesmo modo que gostaria que fosse
tratado, a mudança seria uma realidade no curto prazo.
É imperativo lutar contra as nossas tendências para o mal, temos que ter a
capacidade de nos colocar no lugar do outro e experimentar os efeitos malignos
de estigmatização, hipocrisias e de acções abomináveis.
Sejamos instrumentos da adição do que da divisão e subtração no seio deste
povo. Façamos das nossas diferenças as nossas riquezas. Qualquer que seja
etnia, raça constitui uma riqueza para a Guiné-Bissau e para o
mundo. Deixemos de fomentar o tribalismo e racismo! Já basta desta
cultura libidinosa!
As minhas mantenhas para todos aqueles que lutam pela verdade e unidade dos
Guineenses!
Alberto Luís Quematcha
Nota: Os artigos assinados por amigos,
colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles
expressas.
Lindo texto e esclarecedor, direi apenas, uma amostra profunda de uma preocupação ideológica do nosso Intelectual-Revolucionário, Amílcar Lopes Cabral, ausente aqui em citação!?
ResponderEliminarO Pai da Nação Guineense, que cedo demonstrou numa ante-visão histórica nos Anos /60. publicadas em manuais políticos de formação militante, propriamente de um "visionário", mas que infelizmente, a uns anos a esta parte, alguns "políticos" tendenciosos, falaciosos, permitiram na sua leviandade pessoal, ter ousadia de mexer o fundo da alma Guineense, na tentativa de turvar o que está assente na base da nossa Guinendade, a unidade nacional!
Mas nunca e nunca mesmo hão de conseguir estragar, deturpar os seus conteúdos, ainda hoje presentes no nosso espírito.
A Guiné-Bissau - NUNCA - será um País de conflito tribal, de guerras ou outras formas de atraso, neste processo de desenvolvimento sustentado daqui para o futuro!
Acordamos a tempo e vamos continuar em estado de alerta máximo, impedir os reaccionários de dividir este grande Povo, de continuar o que sempre foi durante séculos, UMA GRANDE FAMÍLIA GUINEENSE!!!
VIVA GUINÉ-BISSAU.
Djarama. Filomeno Pina.