O representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau,
José Ramos Horta, defendeu em entrevista à agência Lusa que A remodelação das
chefias militares do país deve ser feita sem pressas, ao longo de alguns meses.
No poder está atualmente o Chefe de Estado-Maior
General das Forças Armadas, António Indjai, líder do golpe de Estado de abril
de 2012, que depôs o Governo a que pertencia José Mário Vaz, o novo Presidente
da República, a empossar na segunda-feira.
"O processo [de remodelação] tem que ser
necessariamente prudente" e a mudança das figuras-chave pode levar
"meses", referiu Ramos-Horta em entrevista à agência Lusa, em Bissau,
onde termina hoje uma missão iniciada em fevereiro de 2013.
De acordo com o representante da ONU, Indjai já lhe
confidenciou que pretende aposentar-se e já transmitiu também essa ideia ao
embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) para o Senegal e Guiné-Bissau,
Lewis Lukens.
Se o Governo e Presidente também "entenderem
que deve haver outro" líder militar, o representante da ONU defende o
diálogo com as forças armadas para escolha do próximo nome.
Os militares no poder, ligado ao golpe de 2012,
"querem garantias de não perseguição e acho que é o que lhes deve ser
dado", referiu, defendendo uma amnistia interna e o levantamento condicional
de sanções individuais impostas por organizações internacionais.
Entre as medidas está um mandado de captura da
justiça norte-americana contra António Indjai, por indícios de participação em
tráfico de droga, e o congelamento de bens e proibição de circulação na União
Europeia para vários militares envolvidos no golpe.
Ramos-Horta defende que o benefício da dúvida pode
ser concedido sob condição de não haver infrações individuais durante um número
específico de anos.
Seja de que maneira for, o representante da ONU
acredita que não haverá mais golpes de Estado na Guiné-Bissau, assolada por
vários, entre tentativas e movimentos concretizados, ao longo de 40 anos de
independência.
É uma cartada que acha que os militares guineenses
vão deixar de jogar porque "estão exaustos emocionalmente com a situação
que o país vive, com críticas direcionadas contra eles, muitas legítimas,
porque ao fim ao cabo são seres humanos com orgulho", acrescentou.
"Estou convencido que sim [que não vai haver
mais golpes]", sobretudo desde que o primeiro-ministro e o novo Presidente
da República "se apoiem mutuamente no que toca à reforma das forças
armadas".
A prioridade deve ser o pagamento de salários em
atraso a militares e outras forças de segurança e a capitalização do respetivo
fundo de pensões.
"Há pelo menos 700 militares que se inscreveram
voluntariamente para sair, mais 200 cuja idade e saúde exige que saiam",
num total que se aproxima de mil elementos das forças armadas.
De saída da Guiné-Bissau - onde a título particular
promete manter projetos de apoio à população, José Ramos-Horta disse à agência
Lusa que regressa a Timor-Leste, onde ficará à disposição do Governo e do
Presidente, assim como ficará "à disposição do secretário-geral das Nações
Unidas, mas de preferência na região do sudeste asiático".
A sua agenda inclui hoje uma passagem pelas Nações
Unidas em Nova Iorque e de seguida uma deslocação para o Myanmar, país do sul
da Ásia continental, onde participará nos trabalhos do Conselho Asiático para a
Paz e Reconciliação que vai debruçar-se sobre o conflito no mar do Sul da
China.
Ramos-Horta chegou à Guiné-Bissau a 13 de fevereiro
do último ano.
Substituiu o ruandês Joseph Mutaboba na liderança do
Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau
- UNIOGBIS, cargo de que hoje se despede em Bissau.
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