O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama,
proibiu os 89 deputados eleitos pelo maior partido da oposição em Moçambique de
tomarem posse no parlamento, avisando que quem desobedecer estará a trair o
povo, noticia nesta segunda-feira o diário Mediafax.
"Isto é sério. Quem tomar posse estaria
a insultar não o Dhlakama, não a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), mas
milhares de moçambicanos que votaram por eleições justas", sentenciou.
Dhlakama foi citado nesta segunda-feira
pelo diário Mediafax, após um encontro, no domingo em Nampula, com um grupo de
deputados eleitos para a Assembleia da República e para as assembleias
provinciais.
"Sentar com a Frelimo, que não
venceu legalmente as eleições gerais, seria traição", frisou o líder do
maior partido da oposição, que contesta os resultados das eleições gerais de 15
de Outubro, alegando fraude no escrutínio que deu a vitória à Frelimo (Frente
de Libertação de Moçambique) nas legislativas e ao seu candidato presidencial,
Filipe Nyusi.
Por indicação do líder do partido,
nenhum deputado eleito pela Renamo tomou posse nas assembleias provinciais nem
na Assembleia da República.
Quatro das dez assembleias provinciais
(Sofala, Tete, Zambézia e Nampula) encontram-se bloqueadas devido à falta de
quórum para eleger os respectivos presidentes.
Se os 89 eleitos pela Renamo para o
parlamento não assumirem os seus lugares até 12 de Fevereiro, perderão
automaticamente os seus mandatos.
Após as eleições gerais de 2009, a
Renamo também rejeitou a posse dos seus eleitos no parlamento, mas um grupo de
eleitos acabou por desafiar as ordens do líder do partido e o boicote teve
curta duração. Desta vez, Dhlakama garante que será diferente, deixando avisos aos
seus deputados.
"Sabemos que no passado aconteceu e
tolerámos. Era o começo", afirmou em Nampula. "Não sei o que pode
acontecer se um deputado tomar posse à revelia da Renamo. Desta vez estamos
sérios."
Segundo Afonso Dhlakama, os rendimentos
dos eleitos e as receitas do partido, em risco com o boicote parlamentar, são
uma falsa questão, porque "ninguém entrou para a Renamo para ser
deputado".
A Renamo, insistiu, "é um partido
com o objectivo de repudiar e resistir à má e danosa governação perpetrada pela
Frelimo e não uma instituição salva-vidas".
O presidente do maior partido de
oposição percorreu nas últimas semanas as províncias do centro e norte do país,
continuando a atrair multidões aos seus comícios, agora centrados na mensagem
de uma região autónoma nas províncias onde tenciona governar.
"Juro pela alma da minha mãe, eu
vou criar o governo do centro e norte", disse Dhlakama no sábado, durante
um comício em Nampula, durante o qual voltou a rejeitar pegar em armas para
conseguir os seus objectivos, na condição de não ser provocado.
"Não queremos guerra, mas se os
comunistas da Frelimo tentarem provocar, disparar, a resposta da Renamo será
dada na cidade de Maputo", afirmou, repetindo a ameaça já deixada há uma
semana, em declarações à Lusa, durante uma visita a Quelimane, província da
Zambézia.
A radicalização do discurso de Afonso
Dhlakama tem gerado reacções de indignação na capital moçambicana, como
expressa a edição de hoje do diário Notícias, detido pelo Estado, que traz em
manchete "Atentado à paz".
No domingo, a Ordem dos Advogados avisou
que as intenções de Dhlakama desafiam a Constituição da República e que as suas
palavras podem dar origem a procedimento criminal, por incitação à violência,
tal como aconteceu com o porta-voz do partido, António Muchanga, entretanto
amnistiado.
A crise política entre Governo e
oposição decorre em simultâneo com as rondas de diálogo entre as partes para a
desmilitarização da Renamo e que caíram num impasse há várias semanas.
Hoje decorre mais uma ronda em Maputo,
mas não se esperam avanços, num período em que o próprio Dhlakama desvaloriza
esta plataforma de diálogo e aposta em encontros directos entre os seus
enviados à capital moçambicana e representantes do Presidente da República,
Filipe Nyusi.
O Governo moçambicano nunca confirmou
estas reuniões, deixando apenas a garantia que está disponível para dialogar e
apelando à Renamo que faça as suas reivindicações nas sedes próprias e que os
seus deputados se sentem no parlamento. Com a Lusa
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