Nos últimos meses, o panorama político
nacional vive ao ritmo do debate a volta de processos judiciais contra vários
membros do governo liderado por Domingos Simões Pereira. Aliás, o assunto que
parece ser agora uma grande novidade para muita gente, não constitui surpresa
nenhuma para O Democrata que há quase um ano publicara um texto de investigação
intitulado “Governantes com processos pendentes no Ministério Público (ver a edição número 80)". Ao realizar este trabalho o nosso órgão, comprometido com
a sua linha editorial e com os valores de transparência, moral e rigor na
gestão da coisa pública, quis alertar a opinião pública sobre o mal do fenómeno
de corrupção e a existência de dirigentes suspeitos de envolvimento em casos de
corrupção. Infelizmente, esse nosso trabalho (e tantos outros a caracter
investigativo já editados), não fez “voar a mosca da banana”. A indiferença,
quer do cidadão comum quer do órgão competente de Estado, falou mais alto.
Há muito tempo que os armários e as
gavetas do Ministério Público estão preenchidos de processos, uns inconclusivos
e outros acusados, mas até agora sem julgamento realizado. A média de
julgamento por tribunais nacionais de casos ligados à corrupção pública, roubo
ao Estado, é de quase zero por cento. O que se julga por aí, são casos
domésticos, roubo de telefones, de gados, “fanatecas”, mais nada. A força é de
constatar que os nossos tribunais não fazem absolutamente nada por falta da
vontade política da entidade suprema, o Estado, a quem cabe a responsabilidade
de criar condições técnicas, materiais, políticas e financeiras em prol da
promoção da justiça para todos. Perante esta incapacidade, a consequência é ter
uma sociedade onde uns cometem crimes graves, passeiam impunemente na rua e
pior de tudo gozam de estatuto de privilegiados. Este facto não é segredo para
ninguém, mesmo as crianças sabem que neste país fatigado, roubar o que pertence
ao colectivo, é algo de “muito normal”. Uma autêntica inversão de pirâmide de
valores.
Numa altura em que o relacionamento entre
os detentores dos órgãos de soberania regista sinais conturbados, deixando
pairar incertezas de uma crise política profunda com consequências
imprevisíveis, suscita legitimamente interrogações sobre as reais motivações do
Ministério Público guineense em quebrar o silêncio.
Está de facto determinado em imprimir a
marca de mudança no combate à corrupção que tem abalado o funcionamento das
instituições de Estado guineense? O facto de se desencadear a ofensiva judicial
essencialmente (pelo menos até agora) contra alguns membros do governo nesse
momento de tensão, entre a Presidência e Prematura, teria uma motivação
política ou trata-se de uma mera coincidência? Será que esta ofensiva contra a
corrupção protagonizada pelo Ministério Público irá albergar os (as)
conselheiros (a)s na Presidência da República, os(as) deputados (as) e outros?
Estas são perguntas que muitos
guineenses colocam hoje e desejam que a luta contra a corrupção seja antes de
tudo imparcial e assente na exigência imprescindível da moralização da
sociedade guineense fortemente infectada por vícios e anti valores que
sabotaram, ao longo de décadas, os fundamentos de um Estado democrático e
próspero. Para que esse combate tenha um sucesso é imperativo que as entidades
judiciais não se deixem embarcar em agendas políticas ocultas que só servem
interesses circunstanciais e politiqueiros.
O combate ao flagelo da corrupção deve
ser sustentado com base em profundas convicção e determinação de que ninguém
está acima da lei, seja quem for. Por isso, ilustres magistrados aproveitem da
imensa janela de oportunidade que se apresenta hoje e tenham coragem de fazer
uma “guerra total e imparcial” contra a corrupção. Se assim for, tenham a
certeza do apoio incondicional de cidadãos, ainda honestos deste país a procura
do seu destino.
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