quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Guiné-Bissau, harmonização ou autocensura na comunicação pública?

Editorial de Dr. António Nhaga
no Odemocrata hoje

Se há história mal contada esta é uma delas. Qualquer estudioso das Ciências de Comunicação não compreenderá, com certeza, a história agora do Governo de Domingos Simões Pereira em pretender harmonizar a Comunicação na Administração Pública tendo como polo central da sua gestão a Primatura. O que a priori espelha o essencial da sua visão estratégica de autocensura das sociedades democráticas da mediação simbólica personalizada nos Ministros do Governo de Domingos Simões Pereira.

Na gestão das políticas públicas há a comunicação interna e a externa nas instituições que administram as políticas sociais de um Estado democrático. E os componentes, por exemplo, das políticas sociais da saúde são distintos dos da educação assim como os da pesca serão, com certeza, distintos dos da energia. E cada uma destas políticas sociais requerer uma forma de comunicação específica para alcançar os seus objectivos no espaço público para poder actualizar a sociedade guineense. Este Governo parece estar muito preocupado com a instauração do conformismo na comunicação social sem uma visão estratégica da gestão da Comunicação para as políticas públicas na Administração Pública nacional. Mas, no actual contexto comunicacional nacional, harmonizar a comunicação interna das políticas públicas distintas é como casar gasolina com fogo.

Esta ideia de harmonização da Comunicação na Administração Pública, para além de cheirar na sua essência, a estratégia de autocensura dos Estados democráticos da mediação simbólica, fica-se com a visão que o Governo de Domingos Simões Pereira quer reduzir a Comunicação na Administração Pública aos interesses dos políticos e dos tecnocratas que administram os bens do Estado nos Ministérios e nos Departamentos públicos. Ao reduzir a Comunicação pública aos interesses dos Ministros, o Governo perderá uma grande oportunidade de promover um debate público que permitiria catapultar cidadãos nacionais que apoiariam o seu Governo e o Estado na gestão da Rés-pública.

Com a harmonização da Comunicação Interna de vários sectores da Administração Pública de raízes distintas, o Governo de Domingos Simões Pereira está a confundir os interesses dos seus Ministros com as políticas públicas que o Estado deve comunicar publicamente aos seus cidadãos. Ao anexar políticas públicas aos interesses dos seus Ministros, o Governo enfraquecerá, sem dúvida, a Comunicação na Administração Pública que ficará sem forças para romper com o valor da obediência dos Ministros e torna-se um desserviço a sociedade.

Na verdade a Comunicação na Administração é um dos guardiões e construtores da democracia na Guiné-Bissau e no mundo. Aliás, ela é tão importante para a nossa democracia como foi a opção do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pela via armada para libertar a Guiné-Bissau. Mas, infelizmente, a Comunicação na Administração Pública ainda se apresenta, no nosso país, como uma instância ao serviço dos governantes e não das políticas públicas de Estado. A pretensão do Governo de Domingos Simões Pereira em instaurar o conformismo nos Media nacionais com a harmonização de assessoria de comunicação na Administração Pública, pode ter o efeito da estratégia de autocensura democrática da medição simbólica desejada pelos seus autores.

Esta pretensão de harmonização de estratégias díspares de comunicação revela mais uma vez que a doença das sociedades dos Media Socais é a irresponsabilidade que advém de “Copy Colé” da visão estratégica da Comunicação na Administração pública nacional que não deixa o país actualizar-se em termos da visão comunicacional. Estamos, assim, longe das conquistas que poderiam fazer os cidadãos construírem, a nível da Comunicação na Administração Pública, uma moral afinada com os valores construídos coletivamente em torno de uma Nação guineense forte e não de valores impostos por um grupinho de Ministros que nos comunicam apenas os seus interesses em detrimentos dos interesses nacionais.

Olhando para o mapa rodoviário da Comunicação na Administração Pública nacional, se constata que ainda nos falta um longo trecho de caminho a percorrer para sairmos do nível pré-convencional para atingirmos, pelo menos, o nível de estágio convencional de assessoria de Comunicação das políticas públicas.


Na prática, a maneira como funciona hoje a Comunicação na Administração Pública nacional se pode traduzir numa relação de clientelismo entre os assessores de comunicação pública e os jornalistas. A comunicação das políticas públicas converte-se, assim, numa moeda de troca da promoção dos interesses dos Ministros do Governo. O desafio para superar esta prática compete ao próprio Executivo. Caberá ao Governo organizar formações em assessoria de Imprensa a nível empresarial, a nível sindical, a nível político, a nível cultural e a nível do terceiro sector. Os conteúdos desta formação deverão, no mínimo, passar, invariavelmente, pelas técnicas da redacção em assessoria da imprensa, tratamento de informação, principais convenções de textos em assessoria de imprensa, redacção de relise de convocação, conhecer elementos de um Press Kit e produção de House Organs.

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