Antes do início da exploração das areias
pesadas, as bolanhas da foz do Rio Willin estavam todas cobertas de água doce e
em excelentes condições para agricultura e pesca. Mas agora ninguém pode beber
a água daquelas bolanhas porque já se transformou em água salgada. Até ao
próximo ano a situação poderá piorar e ninguém poderá nem cultivar arroz em
todo o perímetro à volta do Rio Willin, nem praticar a pesca nas suas águas.
Aliás, com o início da exploração das areias pesadas pela empresa Russa Potu
Sarl começaram a morrer muitos peixes por causa dos produtos químicos que são
lançados ao rio que vai dar às praias turísticas de Varela.
As populações das tabancas que vivem da
agricultura e da pesca estranham o silêncio das autoridades nacionais na
resolução do “conflito” com a empresa exploradora em face da contaminação
ambiental que se está a provocar. Lamentam dizendo que por serem macacos o
Estado não está interessado em resolver o problema. Em desespero dizem que
estão nas suas tabancas à espera da morte uma vez que não têm outro lugar onde
podem refugiar-se nem força para retirar a empresa russa da foz do rio. Esperam
que surja alguém de boa vontade que as ajude a resolver o problema.
Na realidade, a exploração das areias
pesadas de Varela é um exemplo acabado de como a economia rendeira de uma zona,
uma região ou um país pode transformar-se num pesadelo para a população local
ou do país. Aliás, há zonas, regiões no mundo, em particular no continente
africano, (Delta de Níger no sudoeste da Nigéria) cuja economia rendeira
transformou-se num autêntico pesadelo para os seus habitantes.
Sem ainda chegar a dimensão do Delta de
Níger ou de outras regiões do mundo cujas economias rendeiras se transformaram
em conflitos regionais, os habitantes das Tabancas de Nhiquine, Carruae,
Basseore, Tenhato, Sukujaque, Assuka e Yal estão bastante preocupados com a
exploração a escassos metros da praia de Varela.
Os populares destas tabancas estão,
neste momento, impávidos sem saber o que fazer para acabar com a exploração. O
Governo regional não fala a mesma língua com os habitantes das sete tabancas
que cultivam arroz nas bolanhas e pescam no Rio Willin. Os populares garantiram
à nossa reportagem que desconhecem a existência de qualquer estudo de impacte
ambiental da zona porque nunca lhes foi apresentado nem pelo Governo, nem pelos
Chineses que iniciaram as actividades de exploração, nem pelos russos que agora
a fazem.
Os habitantes de Varela não conseguem
ainda compreender os motivos e as razões pelas quais a empresa Russa Potu Sarl
não cumpriu as suas promessas de criar as condições infraestruturais e
sanitárias para o Sector de Varela. A empresa Chinesa que iniciara a exploração
comprometera-se, para além da construção de um Hospital, uma Escola e asfaltar
toda via rodoviária que liga São Domingos à Varela, também assumira que pagaria
um determinado valor por todas as árvores de frutas que destruísse no espaço de
extração das areias pesadas.
“Não compreendemos a razão e o motivo do
não cumprimento da promessa de nos criar as condições antes de iniciarem a
exploração”, afirmou à nossa reportagem um ancião da tabanca de Yal, concluindo
de seguida “o actual governador da Região de Cacheu, o antigo Administrador de
São Domingos, disse-nos que a empresa Russa Potu Sarl tem licença para explorar
as areias pesadas aqui na Foz do Rio Willin. Só mostrou um papel numa reunião
que tivemos com ele, mas não nos deixou ler esse papel”.
Os habitantes das sete tabancas ainda
queixam-se que “não conseguimos ter o acesso à licença de exploração da empresa
Russa nem ao estudo de impacto ambiental. É um verdadeiro genital de uma cobra:
impossível de ver”.
Asseguraram à nossa equipa de reportagem
que não conseguem compreender o silêncio do Governo em relação à extração das
areias pesadas na Foz do Rio Willin e acusam-no de ser cúmplice da empresa
Russa que está a destruir o ambiente marinho e terrenos de cultivos de arroz e
a pesca em todas as bolanhas junto ao Rio Willin.
“Como se todos estes atropelos e o
silêncio das autoridades nacionais não bastassem, nenhum filho de Varela
trabalha na empresa Russa Potu Sarl que explora as nossas areias”, denunciam
habitantes de Tabancas de Varela. Garantiram que tudo isso causa no seio dos
população das sete tabancas uma profunda revolta contra a exploração.
Agora nem um só dos habitantes de Varela
quer ouvir falar da empresa Russa Potu Sarl no sector. Nos bares, nos cafés, na
praia ou nas ruas estreitas daquele sector turístico do norte do país todos
afirmam peremtoriamente que agora não querem que a empresa Russa Potu Sarl
continue a exploração. Não querem conflitos com o Estado, mas apelam às
autoridades nacionais que solucionem o mais rápido possível o problema antes
que seja tarde.
Também estão unânimes em afirmar que
gostariam que o Governo desenvolvesse o turismo construindo infraestruturas
hoteleiras no sector. Isso contribuiria para empregar muitos mais jovens. Ainda
na visão dos habitantes de Varela, a construção de Hotéis turísticos não só
empregaria muitos jovens, mas também não causaria nenhum problema ambiental.
A nossa reportagem percorreu todo o
campo da exploração e constatou que realmente a água doce que corria nas
Bolanhas da Foz do Rio Willin transformou-se, por completo, em água salgada.
Quando a empresa chinesa iniciou as suas actividades de exploração havia água
doce em abundância na Foz do Rio Willin para cultivo de arroz e a prática da
pesca.
Mas hoje milhares de agricultores das
sete tabancas não conseguem obter o mesmo rendimento na produção de arroz nas
suas bolanhas nem pescar as espécies de peixe que pescavam outrora naquele rio.
A preocupação dos habitantes reside
ainda mais na progressão rápida da contaminação das bolanhas de cultivo de
arroz e de pesca que afetará todas as tabancas de Varela. Ninguém sabe como
encontrar uma solução para conter essa progressão de contaminação ambiental nem
como encontrar uma solução para parar a exploração. Os populares de Varela
sentem-se abandonados à sua sorte na busca de uma solução para um problema que
poderá afectá-los a eles, aos seus netos e bisnetos. Uma vez que não encontram
uma solução para parar a exploração, sobretudo da parte do Governo, os
habitantes das sete tabancas recorreram aos djambakus ‘feiticeiros, adivinhos’
para ajudá-los a resolver o problema.
Garantiram à nossa reportagem que esta
era a derradeira e a única solução para tentar acabar com o pesadelo da
exploração da Areia Pesada na Foz do Rio Willin.
“Como o Governo está silencioso e nós
não temos nenhum poder de parar a empresa Russa Potu Sarl, então recorreremos
aos djambacus para ver se conseguimos parar esta exploração que está a
contaminar as nossas bolanhas de cultivos de arroz e pesca em todo o sector de
Varela”, explicou a nossa reportagem o Comité de Tabanca de Yal, Armando Djata,
visivelmente preocupado com a situação que considera de inaceitável o
tratamento a que os habitantes das sete Tabancas de Varela estão submetidos sob
o silêncio impávido do novo Governo em quem votaram nas últimas eleições.
ARMANDO
DJATA: “NÃO QUEREMOS EXPLORAÇÃO DA AREIA PESADA”
O Comité da Tabanca de Yal, Armando
Djata, disse ainda à nossa reportagem que a população não concorda com a
exploração que está ser feita, uma vez que a referida empresa não cumpriu as
promessas de construir um hospital, uma escola e empregar mais jovens das sete
tabancas do sector no projecto de exploração da Areia Pesada.
Armando Djata explicou igualmente que os
populares que cultivavam arroz e pescavam na Foz do Rio Willin já
manifestaram-se numa única voz dizendo que não queriam mais ver a empresa Russa
Potu Sarl a explorar areia pesada na foz daquele rio. “Não faz sentido. Não
cumpriu a sua promessa, nenhum filho desta tabanca trabalha na empresa. Afinal
qual será o benefício das nossas tabancas e do Sector de Varela?” – interrogou
o Comité de Tabanca de Yal, acrescentando de seguida “a primeira empresa não
cumpriu as suas promessas com a nossa população. Lembro-me que o Vice
Administrador da Secção de Suzana, Roberto Honório Tamba, informara-nos que,
para além da construção da escola, do hospital e asfaltar a estrada, a empresa
iria pagar todos os danos causados durante a exploração. Nada disso foi
cumprido na prática. Por isso pedimos ao Governo para que nos tire esta empresa
da Foz do nosso Rio, porque está a causar-nos enormes prejuízos não só a fome,
mas também doenças”.
O Comité da tabanca de Yal garantiu a
nossa reportagem que dantes na bolanha da foz produziam arroz em quantidade,
mas “com o início da exploração, nunca mais conseguimos aquela quantidade e
muito menos qualidade de arroz. As palmeiras estão a morrer, não temos local
para cortar palhas para as reparações anuais dos telhados das nossas casas e
estamos perante a uma ameaça de erosão do mar que pode comprometer futuro dos
nossos filhos e dos nossos netos”. Instado a pronunciar-se sobre um eventual
envolvimento dos filhos de Varela que poderiam receber por debaixo da mesa
dinheiro da empresa exploradora da Areia Pesada, Armando Djata garantiu ter
plena certeza que nenhum filho de Varela recebeu dinheiro da empresa Russa,
porque todos sabem que o dinheiro acabará e eles ficarão expostos à fome e às
doenças causadas pela contaminação das águas das suas bolanhas.
“Não posso dizer o número exacto de
pessoas que cultivam arroz nesta Bolanha, porque quase metade da população da
tabanca de Yal tem bolanha. Também há um número significante de gente da
tabanca de Assuca que têm bolanhas em Nhiquim. Portanto, neste momento não
queremos aqui esta exploração. Se o Governo quer ganhar dinheiro é melhor
construir aqui hotéis, mas não esta exploração para nos matar à fome”, explicou
Armando Djata.
Questionado sobre a esperança da
população da sua tabanca em parar a exploração, aquele responsável assegurou ao
nosso jornal que “neste momento já deixamos tudo nas mãos da Comissão de
seguimento do dossiê, que está em Bissau para fazer todos os trabalhos que são
precisos, porque eles conhecem melhor o dossiê do que nós aqui na tabanca.
Portanto, agora qualquer esclarecimento ou outros assuntos relacionados com a
exploração de Areia Pesada na Foz do Rio Willin, os membros da referida
Comissão são pessoas indicadas para fazer o ponto da situação e esclarecer a
nossa posição em conferência de imprensa ou numa reunião”.
YalAISSATO
CADJAF: “POPULAÇÃO DE YAL NÃO TEM FORÇAS PARA TIRAR POTU SARL”
Por seu lado, a representante das
mulheres da Tabanca de Yal, Aissato Cadjaf, assegurou que a sua tabanca não tem
força para mandar parar a empresa Russa. Na sua opinião, apenas o Governo da
Guiné-Bissau é que pode mandar parar a exploração da Areia Pesada daquela
localidade do Sector de Varela. Todavia, os populares da Tabanca de Yal vão
continuar a pedir ao Estado que se esforce para parar a empresa na operação de
exploração de Areia Pesada. Porque se isso não acontecer, a população morrerá à
fome ainda neste ano agrícola, uma vez que não conseguirão cultivar nada nem
pescar porquanto a água salgada já entrou e contaminou os terrenos das todas
bolanhas, por culpa da exploração das areias pesadas no Rio Willin.
“O Estado tem conhecimento desta
exploração, foi ele quem autorizou esta empresa, então não podemos violar a
decisão, mas mesmo cumprindo o acordo, pretendemos que a empresa cumpra com a
sua promessa de construção de escolas, hospital e estrada. Não aceitaremos a
permanência desta empresa porque estamos a correr risco de sair das nossas
tabancas tão ricas e bonitas por causa de água salgada do mar que invade os
nossos terrenos de cultivo. Por isso continuamos a pedir ao Estado como
detentor da terra que pare a exploração da Areia Pesada”, explica Aissato
Cadjaf visivelmente desanimada e sem esperança de poder encontrar uma solução
adequada que possa paralisar a exploração a curto prazo.
Aissato Cadjaf asseverou ainda a nossa
reportagem que antes do início da exploração as bolanhas de Nhiquim estavam
todas cobertas de água doce. Mas, agora ninguém pode beber daquela água porque
já se transformou em água salgada. Garantiu ainda a nossa reportagem que até ao
próximo ano não poderiam cultivar as bolanhas apesar de a agricultura e a pesca
serem as principais actividades da população das aldeias.
Acrescentou ainda que “quando a empresa
Russa Potu Sarl começou a exploração das areias pesadas começaram a morrer
muitos peixes por causa dos produtos químicos que eram libertados para o Rio
Willin que liga as praias turísticas de Varela”. A responsável das Mulheres da
Tabanca de Yal aproveitou a reportagem do nosso jornal para pedir às pessoas de
boa vontade para que ajudem a população de Yal na resolução do problema de
exploração, um problema que não deixa os populares das sete Tabancas de Varela
dormir à vontade porque passam as noites e dias a pensar no futuro dos seus
filhos e netos.
Na realidade a nossa reportagem
constatou “in loco” que a exploração das areias pesadas pela Empresa Russa Potu
Sarl na Foz do Rio Willin poderá causar danos ambientais com consequências
imprevisíveis, não só à população das sete tabancas, mas a todas as tabancas do
Sector de Varela, se autoridades nacionais não tomarem medidas de precaução
fazendo o estudo de impacto ambiental na Foz do Rio Willin. Aliás, a população
local já tem a consciência das consequências futuras que advirão da
contaminação das suas bolanhas não só a nível da agricultura e da pesca, mas
também da saúde e da fome.
O Democrata procurou falar com o
Ministro dos Recursos Naturais Daniel Gomes, sem sucesso. Era necessário e
indispensável que o governante se pronunciasse, em relação às declarações dos
habitantes de Tabanca de Yal que garantiram a nossa reportagem que nunca
existiu um estudo ambiental sobre a foz do Rio Willin onde a empresa Russa Potu
Sarl trabalha.
//Odemocrata
Celina Tavares II Ao servico do seu povo, com professionalismo, integridade e conhecimento na emissao de informacao. Pride and respect! Nunca, por natureza, dei valor as tiquetas. Adoro apreciar a materia e o conteudo, porque as aparencias iludem. Este blog, tornar_se_a uma encyclopedia. Uma salva de palmas para voces.
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