O papel do Partido da Renovação Social
(PRS) na busca da solução endógena da Crise.
Antes de mais, devo salientar que, eu
Hotna Cufuk Na Dohá, membro do Conselho Nacional e da Comissão Política
Nacional do PRS, tenho ouvido muitas versões daquilo que se entende do papel do
meu grande partido face a crise política vigente na Guiné-Bissau, entre elas,
umas perto da verdade e outras nem por isso. Por isso mesmo, estando na posição
muito privilegiada de saber, viver, acompanhar muito que por aí se passa e até
de participar modestamente no quadro do meu partido na difícil missão de servir
a Guiné-Bissau neste âmbito político, decide-me portanto, apresentar a minha
versão de factos, descrevendo a situação e testemunhando o papel do PRS na
busca da solução para a crise político-institucional vigente na Guiné-Bissau.
Desde logo, após a Proclamação da
Independência da República da Guiné Bissau em 24 de Setembro de 1973, em Madina
de Boé, o objetivo fundamental era, e é, promover o Desenvolvimento e Bem-Estar
Social do heróico povo guineense, na base de Liberdade, Transparência e
Justiça, consubstanciado no princípio da diversidade de opiniões, das ideias,
bem como na salvaguarda dos interesses socioeconómicos, políticos, e culturais
do nosso povo.
A fundação do Partido da Renovação
Social (PRS) a 14 de Janeiro de 1992, em Bissau, no Bairro de Santa Luzia, pelo
malogrado Sr. Dr. Koumba Yalá e outros companheiros, enquadra-se no cenário da
abertura política em 1991 na Guiné-Bissau, com adoção de valores da democracia
pluralista universalmente aceites e assentes no liberalismo político e
económico.
Desde a sua fundação, o PRS tem sempre
participado ativamente no processo político da Guiné-Bissau, dando
incondicionalmente a sua contribuição para fazer da Guiné-Bissau um Estado de
Direito e Democrático, assim como incrementar o desenvolvimento socioeconómico
do país. Não obstante, consta que, da abertura política na Guiné Bissau à esta
parte, o país tem vivido constantemente em cíclicas crises políticas e
institucionais de diversas naturezas com as causas e consequências também
diversas.
Em todos estes momentos de crises supra
citadas, o PRS sempre esteve presente na busca de soluções endógenas com base
no diálogo com vista a atingir os amplos consensos nacionais possíveis entre os
atores políticos e envolvendo a sociedade civil.
O IVº congresso ordinário do PRS
realizado em Dezembro de 2012 em Bissau, aprovou uma moção de estratégia
política global que, entre outros mecanismos de ação, elegeu o diálogo e busca
de consensos para os crónicos problemas de natureza político-institucional da
Guiné Bissau, com vista à assegurar a estabilidade política, a paz social, a
unidade e a coesão internas na pátria de Amílcar Cabral e de todos heróicos da
luta da libertação nacional.
A Direção do PRS eleita nesse congresso
liderada por Sr. Alberto M´bunh Nambeia, não se demorou em começar a
implementação deste desidrato constante da sua moção em referência. Para o
efeito, implementou a partir de Janeiro de 2013, uma importante agenda de
diálogo e de busca de consensos entre os guineenses, convocando no Azalai Hotel
em Bissau, todos os atores políticos, todas as organizações da sociedade civil
e todos os líderes religiosos do país para uma profunda reflexão sobre as
causas dos graves conflitos que têm abalado a Guiné-Bissau ao longo da sua
história recente, para depois percorrer todo o País com o mesmo propósito.
No final dessas reflexões, o PRS propôs
à todas estas entidades e aos guineenses em geral, a assunção de um sério
compromisso nacional, através da assinatura de um documento denominado «Pacto
de Regime» para a estabilidade política nacional. Esta proposta foi amplamente
divulgada por PRS junto do povo guineense e da comunidade internacional que
emocionalmente a receberam com muito agrado.
Apesar de todas as forças vivas da nação
e a comunidade internacional terem achado nesta iniciativa do PRS uma forte
possibilidade de os guineenses se entenderem facilmente e de se chegarem as
soluções sólidas e consistentes dos seus conflitos e ainda apesar de enormes
esforços empreendidos pelo PRS na divulgação desta ideia, chegado o momento
decisivo de cada qual se abdicar dos seus caprichos e da sua zona de conforto
em detrimento daquilo que para nós, nós os Renovadores, é o interesse e a
necessidade suprema da nação, foi exactamente nesta altura é que surgiram e nós
constatamos, as inconfessáveis dificuldades, isto é, aquelas típicas que
caracterizam o guineense sobretudo nestes últimos tempos quando colocado
perante um desafio sério de interesses e necessidades colectivas e que, por
mais eficaz e importante que seja, uma vez que não for da sua iniciativa
manifesta-se totalmente indiferente (este é mesmo um caso para lamentar).
O PRS, na linha desta sua visão da
sociedade, e tal como consta da proposta do «Pacto de Regime» que apresentou
aos guineenses e a comunidade internacional, mesmo sem ter sido assumido por
atores políticos (os adversários do PRS), tendo em conta as características do
contexto político-social dos anteriores momentos que precederam a realização
das eleições gerais de 2014, intrinsecamente tem assumido e defendido
honestamente antes e durante a campanha eleitoral de que, iria formar um governo
de inclusão e de bases alargadas em caso de vier a ser o vencedor das eleições
independentemente da maioria com que ganhar, tal como o fez em 2000 pela
primeira vez na história política do solo pátrio do Amílcar Cabral e por outro
lado, predispôs-se a integrar o governo que venha a ser formado por qualquer
que seja partido vencedor das eleições como a forma de criar a confiança e a
tranquilidade social ao povo da Guiné-Bissau o que iria permitir uma governação
estável e tranquila do País sem grandes clivagens e incertezas político-sociais
obviamente muito comprometedoras do desenvolvimento do País. Outrossim, visava
com esta forma de atuação política criar a confiança e a certeza nos parceiros
bilaterais e multilaterais de cooperação da Guiné-Bissau o que lhes ia permitir
terem um engajamento confortável com os programas concretos de cooperação com o
povo guineense e consequentemente poder assim se lançar finalmente as bases
sólidas para o arranque definitivo do País para o desenvolvimento tanto ou
quanto muito almejado pelo robusto povo guineense.
Com a vitória eleitoral do PAIGC nas
eleições gerais de 2014 e na altura da formação do Governo do Eng. Domingos
Simões Pereira, o PRS foi convidado a integrar esse Governo nos termos em que,
se se trata-se da situação em que o País estivesse em contextos políticos
normais, o PRS declinar-se-ia de integrar esse governo, porquanto o PAIGC não
só não queria assumir com o PRS e com o povo guineense assim como com os nossos
parceiros de desenvolvimento um compromisso sério no âmbito do «Pacto de
Regime», como também, nem sequer se dispôs a assinar com o PRS um acordo
político de governação. O PRS, olhando para as necessidades e os interesses
superiores que o povo e o País no seu todo clamava na altura, aceitou mesmo
assim incondicionalmente integrar o Governo com o único propósito de, aliás,
como sempre fez, ajudar o País a conseguir o essencial, e o essencial para o
PRS era e continua a ser: a estabilidade política do País, a paz social, a
unidade e a coesão internas dos guineenses.
A propósito, o PRS tem-se abdicado na
altura (e foi fortemente criticado por alguns que nem sequer podiam compreender
aquilo que o Partido estava a prosseguir) do seu direito de fazer oposição ao
PAIGC de forma pública como foi nos outros tempos, e que na situação normal,
era de facto o que se esperava do PRS, embora tem sempre marcado a sua posição
sabiamente naquilo em que tenha pontos de vistas diferentes com o Partido do
Governo. Através dos seus militantes e dirigentes que integraram o Governo do
Eng. Domingos Simões Pereira empenhou-se fielmente e com elevado sentido de
responsabilidade político-social que assumiu com o povo da Guiné-Bissau, na
execução dos programas do desenvolvimento do País nos ministérios que lhe foi
confiado, tendo conseguido atingir resultados recordes no quadro geral do
desempenho desse Governo.
Só a títulos exemplificativos, basta
mencionarmos a resolução do problema de fornecimento da energia eléctrica a
população, facto que o País nunca viveu desde a independência; a ordem e o
bastante melhoramento de serviços de atendimentos médicos nos Hospitais
públicos do País e o elevado preço da castanha de caju (o principal produto de
exportação da Guiné-Bissau) comprado num valor de quinhentos (500) FCFA/Kg ao
produtor e até mil (1000) FCFA na báscula de Bissau aos intermediários do
sector. Todas estas realizações, é bom que se diga, nunca foram vistas no País
e sobretudo tendo em conta que foram conseguidos num período de apenas um ano
de exercício governativa.
É um caso para dizer que a estabilidade
política e a tranquilidade social registadas na altura, têm contribuído
bastante para a realização destes resultados, aliás, era para isso é que o PRS
sempre defendeu a assinatura de tal pacto de regime.
O PRS também participou ativamente no
processo de preparação e realização da Mesa Redonda de Bruxelas tendo o seu
presidente Alberto Nbunhe Nambeia deslocado até Bruxelas ficando sempre lado a
lado com o Presidente do PAIGC (o seu principal rival político). O presidente Nambeia
decidiu fazê-lo porque o interesse do País cantava mais alto e era um
imperativo nacional na altura criar confiança política aos doadores sob pena do
Governo e todo o país verem as espectativas criadas para com a Mesa Redonda
totalmente frustradas. O PRS trabalhou ao seu nível para evitar isso e como
foi, e é, do conhecimento de todos, a Mesa Redonda de Bruxelas foi um sucesso
nunca esperado.
A nível da Assembleia Nacional Popular,
o PRS, através do seu grupo parlamentar, viabilizou tudo o que foi levado à
ANP, tudo em nome dos superiores interesses do País.
Entretanto, mas custa mesmo acreditar,
foi neste favorável contexto político, totalmente facilitado pelo líder da
oposição guineense (o PRS) que de repente espoletou aquilo que hoje se chama de
crise político-institucional na Guiné-Bissau. Todavia, para nós, nós os
Renovadores, esta não passa da crise e conflito internos do PAIGC que não foi
retido e tratado devidamente a nível interno por causa das posições de musculação
assumidas pelas partes desavindas nesse partido e que, devido as fragilidades
das instituições da República da Guiné-Bissau, rapidamente abalaram as
instituições da soberania nacional, tornando por conseguinte e aparentemente
uma crise política e institucional. Tornou-se assim facilmente uma crise
política e institucional devido ao facto dos seus protagonistas nomeadamente:
Dr. José Mário Vaz (Presidente da República); Eng. Domingos Simões Pereira
(ex-primeiro-ministro e presidente do PAIGC) e Eng. Cipriano Cassama
(presidente da ANP) serem todos oriundos do já conhecido seleiro (o PAIGC) de
todo o mal que a Guiné-Bissau viveu e está a viver não se sabe até quando
embora se sabe que enquanto o PAIGC estiver a frente do País com os crónicos
problemas que tem, o povo guineense vai continuar lamentavelmente a sofrer.
Antes de ter chegado a este ponto de
crise política e institucional, o PRS, através da sua Direção Superior, tem-se
desdobrado em contactos de mediação entre os dirigentes do PAIG envolvidos ou
protagonistas de tudo isto que estamos hoje a viver. Mas, as posições estavam
tão estremadas que nem se quer podiam perceber que isso era tão grave ao ponto
de poder pôr em causa a estabilidade política e a unidade do povo guineense tal
como está a vislumbrar-se. Perante todo este radicalismo, o PRS fez a questão de
solicitar a intervenção dos representantes dos organismos internacional, os
embaixadores acreditados no País, assim como solicitou a intervenção de alguns
líderes religiosos nomeadamente o Bispo de Bissau (da Igreja Católica), o Imame
de Mansoa (presidente de união nacional dos Imames da Guiné-Bissau). Todas
estas entidades, cada qual ao seu nível e a sua maneira, tentaram mediar este
conflito no PAIGC, entretanto, e a semelhança daquilo que aconteceu com a
Direção do PRS, também sem qualquer sucesso.
Tudo isso foi assim acabando com a
demissão do Governo do Eng. Domingos Simões Pereira e nomeado o 3º
vice-presidente do PAIGC Dr. Baciro Djá Primeiro-ministro. Este formou o seu
Governo e como é de conhecimento de todos durou apenas 48 horas e foi declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal de Justiça em consequência da
inconstitucionalidade formal e material dos Decretos Presidenciais adjacentes.
Há uma investida infeliz e vã tentativa
por parte de algumas pessoas com ideias e visões politicas totalmente
deslocadas da realidade, de considerar a participação do PRS no Governo de
Baciro Djá como algo com alguma relevância política face a agravamento da crise
política provocada pelo PAIGC. E nós dissemos não, se esta participação tiver
alguma relevância, isso só pode ser no sentido benéfico de ajudar a desbloquear
a situação de empasse e de ingovernabilidade em que o País se encontrava na
altura a quase um mês com as consequências sociais e económicas que nenhum
Partido político responsável podia assistir e manifestar-se indiferente
enquanto pudesse ser útil e muito se podia esperar dele. Talvez só o PAIGC o
podia fazer atendendo a sua inércia e insensibilidade para com os valores
sociais e económicos dignos de protecção. Até porque a integração do PRS no
referido Governo não foi, não é e nunca será a questão essencial desta crise em
vigor na Guiné-Bissau, aqueles que alegam este facto estão é a tentar desviar a
atenção de todos do essencial e o essencial é a crise interna no PAIGC e a
incapacidade dos seus dirigentes em resolvê-la estando a levar todo um povo à
desgraça. Ponto nem mais.
O PRS, sempre disponível e aberto a
participar nos esforços de desbloqueamento de impasse política, após a nomeação
do Governo do Eng. Carlos Correia (2º vice-presidente do PAIGC), foi convidado
para tomar parte no mesmo, facto que aceitou, entretanto desta vez, sob
condição de um acordo político sério, estável e duradouro. A este propósito não
chegou a um acordo com o PAIGC que através do seu órgão competente muito cedo
no decorrer ainda das negociações se deliberou algo aparentemente impositivo
sem qualquer possibilidade de cedências nas negociações com o PRS com vista a
assinatura de um acordo político-governativa, além das absurdas exigências e
tentativas de presidente do PAIGC querer imiscuir-se na liberdade, na vontade e
na soberania do PRS afirmando que o PRS ia participar deste Governo sem direito
de saber a priori, quantas e quais são as pastas que vai assumir no Governo,
não seria o PRS a indicar quem dentre os seus militantes iam tomar parte no
Governo, mas, mais aberrante ainda foi a exigência do Domingos Simões Pereira
de que o PRS tem que castigar (se calhar expulsar como é o “modo operendi” da
liderança deste senhor do PAIGC) todos os seus militantes que tomaram parte no
Governo do Dr. Baciro Djá.
Este tipo de comportamento levou com que
a comissão política nacional do PRS reunida de imediato após ter tido o
conhecimento da deliberação do órgão do PAIGC associada a todas estas outras
exigências feitas pelo seu presidente (consideradas por PRS de provocadoras e
ofensivas a honra e a dignidade do Partido), deliberasse a suspensão com
efeitos imediatos de todas as negociações com o PAIGC com vista a integração no
Governo do Eng. Carlos Correia e optado por ficar na sua posição de oposição
política ao PAIGC tal como é o seu direito nos termos dos resultados das
ultimas eleições. Mesmo o medianeiro da CEDEAO, o antigo presidente nigeriano
Olusegun Obasanjo não conseguiu facilitar como era a sua pretensão, um acordo
entre o PAIGC e a PRS devido as inércias daquele.
Posto isto, neste momento deve, e ou
interesse muito pouco aos guineenses saber quem tem a culpa e que levou todo um
povo a este sofrimento, até porque o culpado já se sabe a muito, é o PAIGC. Por
isso mesmo deve parar com as atitudes de musculação baseada no velho método de
lutar para vencer e convencer a tudo e a todos, ainda que com isso todo o povo
tivesse que ser exterminado que tem tido até agora, para passar a pensar e
optar por solução negociada com vista a resolução amigável e consensual do
diferendo mediante mútuas cedências, na justa medida em que, o que interessa
aos guineenses de facto, é ver este problema resolvido eficazmente. Portanto, o
PAIGC, todos os outros partidos políticos legalmente constituídos na República
da Guiné-Bissau, a sociedade civil, as religiões e o poder tradicional da
Guiné-Bissau, todos mas todos mesmo, devem reconhecer que o País está perante
um problema grave, tão grave que está a perigar a estabilidade política, a paz
social, a unidade e a coesão internas do povo guineense e devem reconhecer
ainda que, o problema atingiu níveis gritantes ao ponto da sua resolução
requerer a construção de amplos consensos nacionais, pelo que, todos devem
predispor-se a assumir um compromisso sério por Guiné, cada qual consigo mesmo
traduzido num documento denominado por nós de «Pacto de Regime» para a
estabilidade política, para a paz social, para a unidade nacional, para a
coesão dos guineenses e para a viabilização do País de todos nós.
Viva a Guiné-Bissau!
Viva a estabilidade política!
Viva a paz social!
Viva a unidade nacional!
Viva a coesão do povo guineense!
Viva o desenvolvimento económico, social
e cultural da Pátria de Cabral, Kpansau Na Isna, Titina Silla, Canh Na N´tungue
e de todos os heróis da luta para a independência da Guiné e Cabo Verde.
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.
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