Lá está Epicuro: "É preciso meditar sobre o que
traz a felicidade, pois, se ela estiver presente, temos tudo, mas, se estiver
ausente, fazemos tudo para obtê-la." E é o que faz F. Lenoir, num belo
livro recente, exigente e acessível, Du bonheur. Un voyage philosophique: como
alcançar a felicidade, ser feliz. E não podia faltar um capítulo sobre o
dinheiro: ele traz a felicidade?
J. Renard atirou: "Se o dinheiro não faz a
felicidade, dê-o." Mas quantos estão dispostos a isso? No entanto, num
artigo célebre de 1974, o economista americano R. Easterlin mostrou que no seu
país, embora o rendimento bruto por habitante tenha dado o salto extraordinário
de 60%, entre 1945 e 1970, a proporção de pessoas a considerar-se "muito
felizes" não tinha variado: 40%. Não se confirma a fórmula mágica do
capitalismo liberal: crescimento do PIB = aumento da felicidade. Aliás, as
estatísticas do Insee diziam o mesmo em relação à França: embora entre 1975 e
2000 se observe um crescimento global do PIB superior a 60%, a proporção das
pessoas "satisfeitas ou muito satisfeitas" permaneceu à volta de 75%.
Mas há mais. Na Inglaterra, por exemplo, enquanto a riqueza nacional quase triplicou
em meio século, as pessoas que se declaram "muito felizes" passaram
de 52% em 1957 para 36% em 2005. E quando se compara o índice de satisfação em
países com níveis de vida incomparáveis? Ao contrário do que se poderia
esperar, a taxa de satisfação é praticamente a mesma nos Estados Unidos ou na
Suécia e no México ou Gana, embora o rendimento por habitante nestes países
divirja numa escala de um a dez.
Depois, para o sentimento de felicidade, é
determinante a comparação social. O grau de felicidade é influenciado pela
comparação que se faz da situação própria com a dos vizinhos e de pessoas de
nível social próximo. Por exemplo, uma investigação com estudantes mostrou que
uma grande maioria deles (62%) se sentiria "mais feliz" a ganhar num
primeiro emprego 33 mil dólares, sabendo que os colegas receberiam 30 mil, do
que a receber 35 mil, sabendo que os outros ganhariam 38 mil. "O que
revela a nocividade de uma disparidade de rendimentos demasiado forte no seio
de uma sociedade, devido à frustração criada." A questão agrava-se com a
globalização mediática, que leva a comparações à escala planetária. Lá está
Séneca: "Nunca serás feliz enquanto fores torturado por alguém mais
feliz." A comparação com outros acaba por envenenar a felicidade própria.
Repare-se agora no paradoxo. Por um lado, quando se
pergunta: "Que coisas lhe parecem mais importantes para ser feliz?",
o que surge em primeiro lugar não é o dinheiro e o conforto material, mas sim,
em todos os continentes, a família, a saúde, o trabalho, a amizade e a
espiritualidade, pilares do bem-estar e da felicidade. Diga-se que a religião
ocupa um lugar importante nos Estados Unidos, já que as pessoas praticantes de
uma religião se dizem mais felizes, vivendo em média mais sete anos que as
outras (menos álcool, menos droga, menos suicídios, depressões e divórcios).
Mas, por outro lado, agora, quando se pergunta:
"Que coisas gostaria de ter para ser mais feliz hoje?", a maioria
responde: "Dinheiro." Três explicações. Vivemos na mais grave crise
económica do pós-guerra e ao mesmo tempo numa sociedade que exacerba o desejo
de posse. Depois, um período de enorme incerteza, com o perigo de desemprego,
de ameaças financeiras, e dificilmente se consegue viver sem aquelas
facilidades que entretanto se tornaram necessidades: televisão, telemóvel,
carro. Finalmente, o dinheiro dá possibilidades de satisfação de desejos, desde
viajar a uma vida independente.
A sabedoria de viver, neste campo, ouvi-a uma vez ao
grande Viktor Frankl, o da logoterapia: "A medida exacta do dinheiro é
aquela que não nos obriga a pensar nele, nem por cima nem por baixo." É
evidente que a falta cruel de um mínimo impede até a possibilidade de viver,
mas fazer-se escravo dele, tornando-se o objectivo da vida enriquecer a todo o
custo, impede o melhor: a família, os amigos, a poesia, a música, as alegrias
simples, a vida interior, a transcendência.
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