Por, Homes Nicolau Quadé
No Publico
A Guiné-Bissau arrisca-se, como sempre, a fintar o
destino. Quarenta anos depois de se tornar independente, trilha um dos momentos
mais difíceis da sua história, marcada por golpes de Estado, guerra civil de 7
de Junho, ajustes de contas, corrupção, degradação do sistema de saúde e do
ensino, salários em atraso na função pública, jovens desempregados e ruas às
escuras.
Das valas comuns de Cumeré, em finais dos anos 70,
passando pelo golpe de estado em 1980, liderado por Nino Vieira, do caso 17 de
Outubro que acabou na morte de Paulo Correia, de Viriato Pã e outros oficiais,
o golpe de 12 de Abril de 2012, tudo isto faz da Guiné refém do seu destino.
A corrupção, a impunidade, o sentimento dum “Estado
falhado”, o tribalismo, a corrida para a riqueza fácil minam o sonho de Amílcar
Cabral e dos combatentes que deram a vida para um dia a Guiné ser livre. A
corrupção não só pegou moda como se tornou um meio de sobrevivência. Trata-se
de um fenómeno transversal à sociedade guineense, desde o cidadão comum até ao topo
das figuras políticas. O negócio de bauxite e o futuro porto das águas
profundas de Buba têm que passar pelos critérios de transparência, sob pena de
servirem apenas os interesses de certa elite. O abate indiscriminado de árvores
para a extração de madeira e das areias cristalinas da praia de Varela renderam
milhões de euros, mas ninguém sabe onde é que foi investido este dinheiro.
O país não dispõe de navios e aviões para fazer a
patrulha da costa marítima da nossa zona exclusiva. Mas só com a pesca
industrial, caso fosse bem controlada e gerida, a Guiné-Bissau seria capaz de
financiar, através das licenças aos grandes armadores de pesca, cerca de 40 por
cento do seu Orçamento do Estado.
Vivendo, como vive, mergulhada num caos, a
Guiné-Bissau continua a acreditar que ainda é possível. Assim sendo, os
guineenses escolheram mais uma vez José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira, repectivamente
chefe de Estado e primeiro-ministro, pondo nas suas mãos o seu destino. Um
piloto e copiloto ao leme num navio à deriva e que já vinha metendo água, longe
do destino e em risco de naufrágio. Mas onde cada passageiro não pode ficar de
braços cruzados a ver o que vai acontecer... Porque não há milagres. Fala-se na
mudança de mentalidade, na justiça, na estabilidade, na paz, no respeito pela
coisa pública, no bem-estar, mas tudo isso depende de todos os guineenses, com
o Presidente e o primeiro-ministro à cabeça.
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