Bruto da Costa acusa o Governo de
“abuso do poder” e diz esperar que Tribunal Constitucional trave alguns dos
cortes propostos no Orçamento do Estado para 2014.
Bruto da Costa
Uma “calamidade
moral” é como o presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, Alfredo Bruto
da Costa, qualifica as actuais políticas económicas em Portugal. “Não podemos
fazer sofrer um povo sem nenhuma contrapartida. E o que vemos é que as
políticas estão a falhar de forma persistente, o que é um problema grave com implicações
morais evidentes”, declarou.
Neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o sociólogo
acusa o Governo de estar a violar “um princípio básico da Segurança Social
contributiva”. E diz-se com esperança que o Tribunal Constitucional venha a pôr
um travão nos cortes consagrados na proposta de Orçamento do Estado para 2014,
nomeadamente no que toca aos cortes nas pensões.
“Estamos perante
um governo que, unilateralmente e por vias retroactivas, está a querer passar
um pano por cima de um contrato onde há duas partes, em que uma se sobrepõe à
outra”, acusa, para declarar que este é “um exemplo claro de abuso do poder”.
O sociólogo acusa
ainda o Governo de andar “propositadamente distraído” com a pobreza em
Portugal. “O Governo fala em limites de 600 euros [para os cortes salariais na
função pública] como se esses 600 euros suportassem apenas as despesas de uma
pessoa! O Governo sabe em quantos casos os 600 euros alimentam a pessoa, mais
os filhos e mais os netos?”, critica.
Relativamente aos
indicadores estatísticos, Bruto da Costa diz-se espantado e considera
“inaceitável” que o Governo não tenha criado mecanismos para conseguir ter “uma
ideia mais consistente” da pobreza em Portugal. Os indicadores mais recentes
são de 2011. Além de desactualizados, seria necessário que estes tivessem em
conta as alterações no rendimento mediano disponível, já que o limiar de
pobreza se fixa nos 60% da mediana de rendimentos.
“Baixando o valor
da mediana, baixa também o limiar de pobreza, ou seja, poderemos ter aqui um
abaixamento estatístico da pobreza que está muito longe de traduzir o que
realmente se passa na sociedade portuguesa”, alerta.
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